quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Camille Claudel, suicidada pela sociedade

Hoje se completa o aniversário de Camille Claudel, a grande escultora que se tornou uma das figuras mais trágicas da história da arte, testemunho a opressão da mulher na sociedade

Antonin Artaud, em seu famoso ensaio sobre o pintor holandês Vincent Van Gogh, escrevia “Van Gogh buscou seu espaço durante toda sua vida, com energia e determinação excepcionais. E não se suicidou em um ataque de loucura, pela angústia de não chegar a encontrá-lo, ao contrário, acabara de encontrar-se, de descobrir que era quem realmente era, quando a consciência geral da sociedade, para castigá-lo por haver se apartado dela, o suicidou”. Esta consideração sobre a vida do grande pintor poderia ser estendida para um número espantoso de artistas. Se há uma constante na história da arte sob o capitalismo, é justamente o registro de uma derrota, de um esmagamento dos artistas pela sociedade em que viveram. Os casos são incontáveis, mas este destino foi particularmente brutal para a escultora Camille Claudel, figura representativa do momento de transição das artes para o modernismo. Seu caso mostra como esta opressão social pode tomar formas ainda mais violentas no que diz respeito às mulheres artistas.
Normalmente os analistas de sua biografia colocam sobre Rodin a inteira responsabilidade da crise e loucura da escultora, mas esta é uma forma limitada de encarar o problema, que tem um caráter muito mais abrangente.
A Pequena Castelã.

Nascida em 8 de dezembro de 1864, Camille Claudel e seus dois irmãos muito cedo desenvolveram inclinação para as artes. Sua irmã seria pianista, e seu irmão, Paul Claudel, viria a se tornar um dos maiores poetas da França. Ainda na infância Camille manifestou interesse pela escultura e começou seus modelados empiricamente, sem qualquer contato com outros escultores. Aos 12 anos, conta-se que ela já modelava peças extraordinárias em argila, de figuras históricas, personagens bíblicos e deuses gregos.

Ela recebe seus primeiros estudos formais aos 17 anos, em Paris, e é neste momento que ela realiza seus primeiros trabalhos mais importantes. Seu contato com Rodin deu-se em 1885. O escultor, então com 40 anos e já bastante apreciado como um dos maiores nomes do movimento de renovação das artes na França, ficou profundamente impressionado com as habilidades de Claudel, convidando-a a trabalhar em seu ateliê como aprendiz.

A escultora tinha 19 anos, mas tinha já os valores e o caráter de um grande artista. Desprezava a maioria dos artistas contemporâneos pela mediocridade de suas ambições, a fragilidade de suas técnicas ou sua mera indolência e falta seriedade com seus próprios trabalhos. Em Rodin, viu alguém digno de ter como mestre.

É a partir destes anos que Camille concebe seus primeiros trabalhos expressivos, obras como O Beijo, A Danaide, As Sereias ou O Eterno Ídolo.
Sakuntala.

O estilo desta fase da escultora caracteriza-se pela assimilação das técnicas de Rodin, de sua noção de leveza e movimento, qualidades que ela incorporou aos seus trabalhos sem perder, porém, a identidade. Marcam esta nova fase obras como o belo mármore Sakuntala.
O romance entre os dois começa nesta fase de explosão criativa de Claudel, que foi também compartilhada por Rodin. Ambos ingressavam em sua fase mais importante e produtiva. É nesta época que Rodin começa a executar sua Porta do Inferno.

A relação entre ambos segue um período de estabilidade, mas logo descamba para crises cada vez mais freqüentes relacionadas não apenas à indecisão de Rodin em terminar seu casamento e assumir publicamente o caso com ela, mas também a falta de oportunidades que Claudel encontra para desenvolver sua arte. Esta situação de isolamento foi a principal responsável pela situação de crescente dependência emocional de Camille por Rodin.

Escultura é uma arte cara, tanto em seus materiais quanto pela estrutura exigida para execução das peças. Uma arte financiada fundamentalmente pela burguesia, por capitalistas ou o próprio governo, que se encarregavam das encomendas aos artistas, o que garantia sua subsistência. Foi neste terreno que as portas apareceram fechadas para Camille Claudel.

O fato de ser mulher era em si mesmo uma desvantagem em relação aos escultores homens. Ela tinha, porém, como agravante, a fama que circulava em toda a cidade de ser “a amante” de Rodin, homem de meia idade e casado com uma mulher respeitada na sociedade. Esse fato atiçava o conservadorismo natural dos empresários e políticos atuantes neste “mercado de arte”. Havia ainda uma segunda questão envolvida. Sem outro recurso financeiro, Claudel mantinha-se como “aprendiz” no ateliê de Rodin. Isso apesar dela ser já uma escultora madura e dona de um estilo independente. Esta posição era naturalmente desfavorável para ela, além do fato de ser mulher em um terreno dominado por homens, era mais um fator para sua obra ser desprezada pelos seus possíveis financiadores.

As crescentes crises no relacionamento dos dois ao longo da década de 1890 leva afinal à sua ruptura do casal em 94.
A Idade Madura.
Nesse momento, Camille realiza a mais importante peça de sua obra até aí, o conjunto A Idade Madura, cujo tema trazia as marcas de sua crise amorosa. O destino desta obra é também representativo dos demais problemas envolvidos na crise pessoal de Camille. A Idade Madura foi muito bem comentada quando apresentada, e chegou a interessar a direção do Museu de Belas-Artes de Paris. Por algum motivo obscuro, porém, a instituição recuou na compra da peça, e Camille se veria em um sério problema financeiro caso um admirador particular de seu trabalho não houvesse se apresentado para comprar a peça e encomendasse sua fundição em bronze.
A Onda.

A ruptura de Camille com Rodin apresentava também um duplo problema para ela. Em primeiro lugar, ela perdia parte dos clientes que conseguira através de Rodin. Em segundo, sua busca em dissociar seu nome do escultor a afastava do já restrito ambiente artístico em que ela podia conseguir financiadores para suas peças.

Um dado sobre o caráter de Camille muito comentado em suas biografias era sua total falta de “talento” para bajulações rasteiras de clientes endinheirados para conseguir um patrocínio. Ela também se repugnava com a capitulação de determinados artistas – incluindo aí o próprio Rodin – em adaptar suas obras ao gosto medíocre desses patronos. Ela, em outras palavras, recusava fazer arte comercial, rebaixar a qualidade das peças e desvirtuar os sentimentos nelas impressos. Uma demonstração valiosa de independência artística e de seu caráter, integridade e seriedade para com sua própria obra.

Outra faceta do “trabalho” que ela desprezava era ter de freqüentar eventos sociais, como festas e jantares para manter “boas relações” entre o meio especializado, como críticos, galeristas, jornalistas, etc. A ruptura de Camille com Rodin, que de certa forma mantinha ela nestes meios, levou ao inevitável isolamento da artista.
Detalhe de As Faladeiras.

Ela viveria a partir de então apenas de um número reduzido de admiradores particulares que faziam algumas encomendas que lhe permitiam o básico para continuar trabalhando. Mesmo sua família, que poderia garantir algum rendimento emergencial rompera relações com ela após tomar conhecimento de seu caso com o artista mais velho.

Foi esta situação combinada de crescente isolamento que a levaria à miséria e, por fim, à completa loucura. A tese de que Rodin foi a causa de tudo é extraordinariamente reducionista do problema. Distorce tanto a questão – jogando-a para um terreno puramente amoroso –, que é possível dizer que é uma tese falsa, que desconsidera as determinações sociais que agiram contra o desenvolvimento de Camille Claudel como artista. O rumo que tomou o drama amoroso com Rodin, bem como sua dependência econômica dele, foi na realidade a conseqüência e não a causa da destruição pessoal de Camille. A causa central foi sua proscrição social que criou um obstáculo real para que ela continuasse seu trabalho.

Sua situação material entre 1893 e 1895 torna-se extremamente delicada. Em 1898, uma exposição de sua obra mostrava a Paris os novos rumos que tomaram sua escultura no período, mais sombria e angustiada em peças como O Profundo Pensamento, Ofélia e a extraordinária Clotho, a imagem de uma das moiras tecendo o destino humano com seus cabelos.
Clotho.

Esta ocasião marcou a ruptura definitiva entre Claudel e Rodin após um incidente que a deixou extraordinariamente abalada. Mais uma vez, uma instituição de arte se interessa por uma peça sua, o Museu de Luxemburgo, que receberia Clotho como doação a partir da pressão de um grupo de artistas que intervieram aí. Detalhe importante é que este grupo era ligado a Rodin e a transação se daria através de uma fundação artística presidida pelo escultor. Após muitas idas e vindas, indecisões e desentendidos, a obra, meses mais tarde foi transportada para o museu, mas foi extraviada durante o transporte e desapareceu.

Claudel fica arrasada com o caso e inicia-se aí suas acusações graves contra Rodin, de que ele articulara um esquema para roubar a obra e de que, em último caso, queria destruir ela e sua obra.
Seu afundamento pessoal agrava-se entre 1897 e 1900. Suas últimas obras, como Perseu e Medusa e Nióbide Ferida, sua última peça, de 1906, mostram o tema recorrente da mulher mutilada pela sociedade. Nestes anos ela vivia já em uma situação de completa degradação pessoal, vivendo com estranhos em sua casa, vestindo-se de uma forma extravagante, desaparecendo completamente durante meses antes de reaparecer em seu ateliê, e destruindo ano a ano, toda a produção realizada nos meses anteriores. Foi um processo de abandono de si mesma, um lento suicídio.
Cabeça decaptada da Górgona na obra Perseu e Medusa.

Suas preocupações artísticas cederam lugar a um único pensamento obsessivo, uma síndrome de perseguição que envolvia uma ampla rede de artistas, críticos, marchands, jornalistas, policiais, figuras da alta sociedade parisiense e personalidades políticas, todos coordenados por Rodin com a única intenção de destruí-la. Uma obsessão perfeitamente compreensível e de certa forma, verdadeira. Foi sua interpretação pessoal do fato de que ela fora de fato banida da sociedade.
Em 1909, seu irmão, o poeta Paul Claudel conta que ela estava já completamente fora de si. Sua internação psiquiátrica ocorreu em 1913, quando Camille estava com apenas 39 anos, mas, segundo testemunhas, fisicamente muito envelhecida.

Procurando analisar o caso, Paul destaca com bastante lucidez os problemas sociais envolvidos na destruição de sua irmã. Ele escreveu em suas notas: “A profissão de escultor é para o homem uma espécie de desafio perpétuo ao bom senso, e é para uma mulher isolada e para o temperamento de minha irmã uma pura impossibilidade. Ela tinha posto tudo em Rodin, ela perdeu tudo com ele”.
Em 1913 termina a biografia de Camille Claudel como artista. Ela viveria os 30 anos seguintes de sua vida encarcerada em um sanatório no Sul da França. Sua morte viria apenas em 1943, quando a artista, uma das maiores escultoras do século XX, estava já com 79 anos.

Leia outras matérias de Cultura diretamente no portal Causa Operária Online, clique aqui

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Estudo sobre literatura negra em quatro volumes será lançado hoje

Nesta terça-feira, a partir das 19h, ocorrerá o lançamento da obra 'Literatura e afrodescendência no Brasil', do estudioso Eduardo de Assis Duarte

Nesta terça-feira, na Biblioteca Mário de Andrade, será lançado um dos estudos mais expressivos já realizados sobre a literatura negra brasileira. É o livro Literatura e Afrodescendência no Brasil, estudo composto por quatro volumes e organizado pelo professor e estudioso do assunto, Eduardo de Assis Duarte.

O livro é o resultado de uma ampla pesquisa por todas as regiões do Brasil buscando mapear a literatura negra e seus vestígios desde o período colonial. Literatura e Afrodescendência no Brasil envolve artigos críticos de análise de mais de uma centena de escritores, críticos e historiadores de diferentes épocas.

Por seu tamanho e abrangência, Literatura e Afrodescendência no Brasil, apresenta-se como uma das obras mais importantes já lançadas sobre o tema, trabalho que pode ser considerado um herdeiro daquele de Oswaldo de Camargo, seu incomparável O Negro Escrito, o primeiro estudo abrangente sobre o surgimento e desenvolvimento da literatura negra nacional.

A obra organizada por Eduardo de Assis é dividida em quatro segmentos distintos, organizados cada um em um volume com cerca de 500 páginas cada um.

O primeiro deles é Precursores, onde são analisadas as obras dos primeiros escritores negros do Brasil, cronologicamente. A pesquisa remonta ao século XVIII, com Domingos Caldas Barbosa, e atravessa o século XIX, destacando figuras como o abolicionista e poeta satírico Luis Gama, a pioneira Maria Firmina dos Reis, ou o poeta simbolista Cruz e Souza, além de Machado de Assis e Lima Barreto. A obra adentra ainda o século XX, destacando as biografias e analisando as características dos pioneiros da literatura negra moderna, figuras como Lino Guedes, Solano Trindade, Abdias Nascimento, Carolina Maria de Jesus e Eduardo de Oliveira, entre outros.

O segundo volume é Consolidação, dedicado à obra da geração mais recente e mais expressiva da literatura negra nacional, nascida a partir da década de 1930, e cuja atividade iniciou-se por volta da década de 1950. Este segmento inicia-se com a vida e obra do poeta Oswaldo de Camargo, passando por escritores como Oliveira Silveira, Paulo Colina, Conceição Evaristo, Adão Ventura, Arnaldo Xavier e Muniz Sodré, entre outros.

O terceiro volume da obra, Contemporaneidade, apresenta um longo ensaio sobre o poeta Cuti, e relaciona um conjunto expressivo de autores negros contemporâneos, nascidos a partir da década de 1950.

O último volume do livro, História, teoria, polêmica, é dedicado à crítica literária envolvendo esta tradição específica das letras, trazendo artigos dos mais expressivos pensadores, teóricos e historiadores da literatura negra nacional, tais como Oswaldo de Camargo, Abdias Nascimento, Cuti, Conceição Evaristo, Márcio Barbosa e Esmeralda Ribeiro, incluindo também análises de figuras como o próprio organizador, Eduardo de Assis Duarte, Zilá Bernd, Octávio Ianni e Silviano Santiago, entre outros.

O lançamento do livro acontecerá a partir das 19h no auditório da biblioteca, localizada na região central de São Paulo, na Rua da Consolação, 94, próxima à estação Anhangabaú do Metrô.
O evento deverá contar ainda com a presença de alguns dos colaboradores da obra, figuras como Oswaldo de Camargo, Cuti, Carlos de Assumpção e Eduardo de Oliveira, entre outros.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

James Baldwin e a literatura de protesto do movimento negro norte-americano

Hoje se completa o aniversário de morte do escritor, vítima de câncer a 1º de dezembro de 1987. Ele foi a mais importante voz literária do movimento negro norte-americano das décadas de 1960 e 70

Um dos mais representativos escritores dos Estados Unidos, James Baldwin pertence a uma tradição literária especificamente negra, que remonta a um movimento que floresceu plenamente no país apenas de década de 1920, com a chamada Renascença do Harlem.

Pertencem a este segmento literário autores da maior importância, como Langston Hughes, Countee Cullen, Zora Neale Hurston, Nella Larsen, James Weldon Johnson e Richard Wright, os mais proeminentes autores negros das décadas de 1920 e 30 no País.

Este movimento que se desenvolveu no início do século foi uma das manifestações da luta política do negro norte-americano contra a opressão racial. Por de trás das principais iniciativas e autores desta literatura, estavam proeminentes intelectuais e organizações políticas do movimento negro, que davam suporte e orientação à comunidade negra.

James Baldwin pertence a uma segunda etapa deste movimento, quando a luta dos negros é retomada em finais da década de 1950, desenvolvendo-se com crescente radicalismo nas duas décadas seguintes.

Amigo pessoal de importantes intelectuais negros como Malcolm X e Martin Luther King Jr., Baldwin produziu a mais significativa literatura negra deste período.

Sua obra era fundamentalmente psicológica, assentada na análise de suas personagens negras e brancas e a forma como o racismo estava profundamente impregnado em ambas.  A grande novidade de seus livros em relação ao que os demais escritores negros havia feito, foi o aprofundamento destas análises da psicologia do negro.

Toda sua obra gravita em torno de problemas recorrentes, a tensão entre negros e brancos, a segregação racial, e conflitos de identidade. Baldwin não apenas negro e pobre, de origem operária, como também homossexual, tornando-se assim alvo de assédios e pressões sociais de uma forma particularmente intensa, o que o tornou mais apto do que outros autores negros para expressar esse problema da opressão.



Na juventude, Baldwin estudou no conceituado colégio DeWitt Clinton High School, onde teve aulas com Countee Cullen. O poeta negro tornou-se um verdadeiro conselheiro literário para Baldwin nestes anos, influência da maior importância para o desenvolvimento futuro de sua obra.
Na década de 1940, Baldwin trabalhou como operário nas linhas de ferro em Nova Jérsei até tomar a decisão definitiva de dedicar-se à literatura. Ele muda-se então para Nova Iorque, se estabelecendo no famoso bairro boêmio do Greenwich Village.

Ali Baldwin encontrou uma atmosfera onde a segregação aparecia de forma mais diluída. Convivia com todo o tipo de figuras marginalizadas, jovens artistas, freqüentava os numerosos bares locais e começou a produzir a partir deste momento sua literatura, um retrato de suas experiências pessoais com o racismo.

Baldwin conhece pessoalmente Richard Wright, o importante autor de Filho Nativo, e através da influência dele, não apenas consegue publicar seus primeiros artigos na imprensa, como consegue uma bolsa filantrópica que garante a ele uma renda mensal. Com ela, Baldwin parte, em 1948, para a França.

Morando em Paris, Baldwin vive novas experiências humilhantes que o convenceram que aquele racismo virulento não era uma exclusividade de seus compatriotas. Foi morando ali que ele conclui seu primeiro livro, o romance Go Tell It on the Mountain, publicado em 1953. A obra contava a história de seu alter-ego John Grimes, um relato semi autobiográfico de sua infância, suas experiências religiosas, as humilhações dentro e fora de casa, até sua libertação destes meios e o abandono da igreja. O livro segue todo em um clima de violência e perturbação mental que tem seu ápice na terceira parte da obra, quando Grimes, incerto sobre tudo, descobre sua homossexualidade.

Go Tell It on the Mountain
foi o livro mais importante da obra de Baldwin, o mais ousado tanto do ponto de vista da forma, da técnica literária empregada, quanto do conteúdo, pelo caráter polêmico dos assuntos tratados.

Seu livro de artigos sobre a questão do negro e da literatura surge logo depois, Notas de um Filho Nativo.
Na sequência dele, vieram outros romances importantes, com destaque para Giovanni's Room, Another Country, If Beale Street Could Talk, The Devil Finds Work e Just Above My Head.
Outras coletâneas de artigos também foram lançadas. Seus textos mais importantes estão presentes em Nobody Knows My Name - More notes of a native son e The Fire Next Time.
Entre seus últimos trabalhos, estava uma importante reportage investigando a participação do negro no cinema hollywoodiano, The Evidence of Things Not Seen, e uma coletânea poética, Jimmy's Blues, ambos publicados em 1985.

O escritor viria a falecer dois anos mais tarde, a 1º de dezembro de 1987, vítima de câncer. Nesta altura ele havia voltado a morar na França, com uma residência em Saint-Paul-de-Vance.
Leia outras matérias de Cultura diretamente no portal Causa Operária Online, clique aqui

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

William Bouguereau e o academicismo francês

O Nascimento de Vênus, por William Bouguereau.
Bouguereau é um dos maiores nomes do academicismo francês, escola que, apesar de ter sido duramente combatida pelos movimentos renovadores, inegavelmente levou a técnica pictórica a novos limites


William-Adolphe Bouguereau é um dos mais destacados nomes do academicismo francês, ao lado de pintores como Alexandre Cabanel, Jean-Léon Gérôme ou Paul Delaroche.
Nos dias de hoje, “pintura acadêmica” tornou-se sinônimo de conservadorismo, de convencionalismo, de arte superficial e de tudo de negativo que se possa atribuir a uma pintura. Esta é, porém, uma idéia equivocada e limitada sobre o assunto, produto das lutas que os artistas modernos travaram contra as convenções do passado.

A instituição acadêmica, bem como a pintura que ela produziu, foi a principal responsável pelo grande desenvolvimento e popularização da pintura na Europa a partir do século XVII.

Logicamente que como todo método, possuía enormes limitações, como, por exemplo, a falta de espaço para a inovação e a improvisação, que foi um dos pontos mais atacados por todos os movimentos renovadores da pintura. Por outro lado, este método de ensino foi responsável por levar a técnica da pintura a um nível de perfeição espantoso e inimaginável de ser atingido através dos antigos métodos artesanais de ensino de arte, típicos da era medieval. As academias foram instituições criadas pela burguesia e serviram para democratizar como nunca antes as técnicas da pintura, ocupando um papel fundamental no desenvolvimento desta arte ao longo de todo o século XVIII e XIX. Por trás destas instituições estavam os ideais iluministas e a crença na ciência, que colocou propositalmente a “criatividade” em segundo plano partindo da premissa de que, como qualquer ofício, a pintura poderia ser dominada por qualquer estudante dedicado, desde que seus métodos de ensino fossem sistematizados e colocados em prática de forma rigorosa, partindo de experiências coletivamente consagradas. Natural aí que o papel do “indivíduo” se tornasse bastante limitado.
Dante e Virgílio no inferno.

O grande triunfo deste método de ensino está impresso nas obras, tanto de artistas renovadores, criadores de escola como Jacques Louis David, como nas telas de pintores que, apesar de não se notabilizarem pela inovação, consolidaram-se como verdadeiros mestres no domínio das técnicas pictóricas. Este foi o caso de William-Adolphe Bouguereau.


Bouguereau foi autor de algumas das mais belas pinturas classicistas do século XIX. Seus temas mais comuns estão ligados à mitologia grega e passagens bíblicas, ainda que ele tenha também se dedicado à pintura de jovens camponesas, ciganos e temas cotidianos mais característicos da escola realista, sua contemporânea. Sua biografia, curiosamente, segue a trajetória de ascensão e queda do academicismo como pensamento dominante da burguesia francesa entre os séculos XIX e XX.


Sua pintura é herdeira do neoclassicismo de David, surgida em uma época em que a Escola neoclássica havia já conseguido se impor à sociedade burguesa. Como tal, Bouguereau era também adepto do iluminismo e dotado de uma filosofia humanista que motivaram seus quadros de temas mais populares.


Trajetória do artista


Eros e Psiquê.

Bouguereau nasceu em La Rochelle, em uma família de comerciantes de vinho e azeite. Ele estaria destinado a continuar o negócio da família se não fosse a intervenção de um tio, que o instruiu na juventude e insistiu que ele tivesse ensino superior. Sua inclinação natural ao desenho o levou a ingressar na Escola de Belas Artes de Bordeaux, onde rapidamente se destacou com suas telas.

Ele viveu alguns anos pintando temas religiosos para as paróquias da região até conseguir ingressar na mais importante academia da França, a Escola de Belas Artes de Paris. Nesta época, ele aprofundou-se nos estudos de anatomia à maneira dos mestres renascentistas, estudando cadáveres em aulas de dissecação.

Tornou-se discípulo de um dos mais renomados pintores acadêmicos de seu tempo, François-Edouard Picot, e em pouco tempo já se destacava como um proeminente representante do academicismo francês. Em 1850, quando o realismo lutava por impor suas idéias à sociedade, exaltando a população pobre e humilde como um tema digno da pintura, Bouguereau, totalmente alheio a tais problemas ganhava o Prêmio de Roma, pela sua grande composição mitológica Zenóbia encontrada por pastores nas margens do Araxe.


Ele morou por alguns anos em Roma, onde estudou mais detidamente a pintura renascentista, particularmente fascinado pelo primor técnico e sofisticação das obras de Rafael.

Sua fama na sociedade francesa cresceu ao longo de toda a década de 1850. Em 60, seu nome era também muito popular na Inglaterra e ele tornara-se já um dos mais requisitados pintores de sociedade, com suas obras vendidas por somas astronômicas. Suas telas, povoadas por ninfas, deuses, pastores, anjos e santos, casavam de fato com o gosto conservador da burguesia, que tinha seus quadros como excelentes peças decorativas para suas mansões, gabinetes e prédios públicos.

Em vida, Bouguereau foi considerado um dos maiores pintores do século XIX, tendo clientes em países tão diversos quanto os Estados Unidos, a Espanha e a Holanda.

A Onda.
A derrocada do academicismo

Alma Parens.

Seu nome e seu prestígio tornaram-se sinônimo da própria instituição acadêmica francesa, sendo ele não apenas pintor, mas também um político das artes, membro e líder intelectual no Instituto da França e presidente da Sociedade de Pintores, Escultores e Gravadores.

Era mais do que natural, portanto, que as novas gerações de inovadores da pintura vissem na arte de Bouguereau a própria antítese do que pretendiam, e, em último caso, o exato oposto do que deveria ser uma arte viva, ligada à realidade de seu tempo.

A telas de Bouguereau eram belíssimas, tecnicamente impecáveis, mas, obviamente, pelas próprias ligações que o pintor estabeleceu em vida, uma arte conservadora, ligada aos valores de uma sociedade que definhava, dependente dela e de seu gosto leviano, fútil.


Quando surge a jovem geração dos pintores impressionistas, avessos a toda tradição acadêmica, Bouguereau torna-se um de seus adversários ferozes. Será ele uma das figuras a combater, no interior das academias e salões oficiais, as novas técnicas impressionistas.


Estes artistas mais jovens, por seu lado, irão cunhar um termo irônico que denotava todo seu desprezo por esta arte para a decoração de salas luxuosas. Irão chamar de “bougueresco”, toda a pintura que considerassem artificiosa, falsa, afetada.


A batalha do impressionismo, como a história registra, terminaria com a assimilação da nova escola pela burguesia a partir da década de 1880. Nos anos seguintes, a transformação do impressionismo no marco zero da pintura moderna seria um golpe decisivo na influência da tradição acadêmica que reinara absoluta ao longo de todo o século XIX.


O advento das vanguardas artísticas ao longo das primeiras décadas do novo século se encarregaria de jogar uma pá de cal sobre a influência destes acadêmicos, que se reduzem, literalmente, a peças de museu, totalmente mortos como influência viva para a pintura subseqüente.


Por volta da década de 1920, quando a burguesia mundialmente começa a assimilar a pintura modernista o nome de Bouguereau e outros de seus contemporâneos desaparece até mesmo das enciclopédias de arte. Foi a completa derrocada daquela tradição.


O pintor foi “redescoberto” novamente apenas na década de 1970, quando, encerrado o período mais importante de desenvolvimento das vanguardas, muitos críticos começaram a reavaliar a herança e a importância do academicismo. Hoje a arte de Bouguereau permanece um anacronismo, servindo mais como o registro do apogeu de uma tradição que foi totalmente destruída pelas novas teorias da arte.



O jovem Baco.




O primeiro luto.


O arrependimento de Orestes.

Pietá.
Alma sendo levada para o céu
Leia outras matérias de Cultura diretamente no portal Causa Operária Online, clique aqui

terça-feira, 29 de novembro de 2011

A 29 de novembro de 1924, morria Giacomo Puccini

O compositor, herdeiro da tradição nacionalista de Verdi, foi o principal nome das óperas italianas no período de consolidação do Estado italiano, acompanhando também o movimento das vanguardas de sua época

Giacomo Puccini, um dos maiores nomes do mundo da ópera, teve sua obra determinada por um dos períodos mais importantes da história italiana, período que produziu algumas das maiores conquistas culturais da história recente do país.


Puccini nasceu em uma família de antiga tradição musical. Desde o século XVIII que o cargo de organista titular na igreja de São Martinho em Lucca era passado de pai para filho. Michele Puccini, pai de Giacomo, ocupava este posto, e o jovem músico já estava destinado assim, desde a infância, a substituí-lo em sua posição. Nos primeiros anos de sua formação, porém, Giacomo pareceu aos professores um estudante medíocre, sem concentração e dedicação aos estudos musicais. Foi apenas quando, em certa ocasião, o rapaz assistiu Aida, a grande ópera de Verdi, que, maravilhado, apaixonou-se pela música, e pelas óperas em particular. O garoto tinha então 21 anos, e foi neste mesmo ano que ele compôs sua primeira ópera, Messa. Trabalho que colocava um ponto final na antiga tradição familiar de músicos de igreja. A partir de então Puccini encaminha-se cada vez mais determinado para o trabalho operístico.


Em 1882, por ocasião de um concurso, ele compõe uma ópera em um ato, Le Villi, que apesar de não ter vencido a competição, se tornaria sua primeira ópera ser encenada nos palcos italianos, dois anos mais tarde.


Graças a ela, ele recebeu uma nova encomenda, compondo a ópera Edgar, que estreou importante Teatro Scala, em Milão em 1889. Ambos os trabalhos hoje constituem um parte obscura da produção de Puccini, raramente encenadas.


Sua primeira obra de importância foi sua terceira composição, Manon Lescaut, que foi levada aos palcos pela primeira vez em 1893. Nesta peça pode-se ver mais claramente a importância e o caráter das óperas de Puccini. A história sobre a qual Puccini resolveu basear-se para este trabalho havia já sido usada poucos anos antes pelo francês Jules Massenet. Apesar disso o italiano estava convencido que a Manon de Massenet era essencialmente francesa, e que ao dar a ela as colorações mais típicas do temperamento italiano, dramático e passional, o trabalho iria adquirir uma identidade totalmente distinta que justificaria a repetição.


Nestas intenções fica muito nítida influência do movimento nacionalista italiano na concepção dos trabalhos de Puccini, e daí depreende-se também a importância do compositor.


Uma influência muito nítida em seu trabalho foram as óperas de Verdi, que foi o compositor por excelência do nacionalismo italiano. A música de Verdi foi um dos produtos culturais mais importantes do período do Risorgimento italiano, o período que compreende todo o desenvolvimento da revolução burguesa na Itália até a unificação, em 1870. Puccini pertence ao período seguinte destas lutas, a etapa em que, a burguesia italiana, já detentora de seu Estado nacional, impulsiona um período vigoroso de modernização e industrialização do país. Este movimento, que coincide com a consolidação do imperialismo europeu, se estenderia até a Primeira Guerra, quando estes grandes monopólios internacionais entram pela primeira vez em um conflito de morte em busca do controle dos mercados e fontes de matérias primas existentes no mundo.

As óperas de Puccini, deste modo, procuram ainda definir o caráter próprio desta recém unificada nação italiana.


Manon Lescaut foi a ópera que consagrou Puccini como um dos grandes nomes da ópera em seu país, abrindo caminho para seus trabalhos seguintes. Em 1896 é encenada pela primeira vez uma das maiores realizações do compositor, La Bohème, que apresenta estes mesmos elementos. Esta ópera apresentava uma novidade em relação à tradição mais típica das óperas. Ao invés de ter como centro personagens saídas da aristocracia e da alta burguesia, Puccini inova, e apresenta como heróis, alguns representantes daquele movimento artístico italiano, que, até conseguirem impor sua obra ao país, viviam na completa miséria e obscuridade. O grupo principal de personagens inclui o poeta Rodolfo, o pintor Marcello, o filósofo Colline e o músico Schaunard, que dividem um pobre apartamento. A trama principal é uma história trágica de amor à maneira romântica, narrando a paixão e as desventuras de Marcello e Mimi, uma pobre vendedora de flores tuberculosa. La Bohème expressava a crescente importância que passava a ter o movimento artístico europeu, que fervilhava naqueles anos e estava prestes a ingressar no período mais importante de sua existência a partir do novo século.


Seu trabalho seguinte é um dos maiores clássicos de Puccini, Tosca, que abordava mais diretamente o problema do nacionalismo italiano e sua relação com o movimento artístico do Risorgimento. Seu herói era Mário Cavaradossi, um pintor revolucionário, entusiasta de Napoleão e adepto das idéias iluministas, apaixonado pela cantora de óperas Floria Tosca. Na obra ele é preso por acobertar outro revolucionário, Cesare Angelotti, e cabe a Tosca conseguir libertá-lo.

A estréia de Tosca deu-se em 1900 e reflete a atmosfera de intensas lutas políticas que se desenvolviam no período, quando o movimento socialista achava-se todo mobilizado pela deposição da monarquia italiana. O rei Umberto I seria assassinado apenas seis meses depois da estréia desta ópera.


A estes trabalhos, se seguiram as demais grandes óperas do compositor, sempre tendo como tema central, grandes amores e tragédias, com destaque para Madame Buterfly e Turandot, ambas com influências orientais que eram também uma das marcas do movimento modernista do período. Nestes trabalhos de Puccini posteriores a 1900 ficariam também claras as influências da música moderna sobre ele, em particular de Debussy e Strauss.


Ao final da vida Puccini foi ele mesmo protagonista de uma tragédia típica de suas óperas, em uma suspeita de traição que levou ao suicídio de uma das criadas de sua casa e à prisão de sua esposa.


O movimento nacionalista italiano do pós-guerra, descambou rapidamente para o fascismo de Mussolini. Os fascistas, em suas marchas, naturalmente adotaram uma das composições de Puccini que entoavam nos comícios, a composição nacionalista Hino a Roma. Apesar desta forte ligação de Puccini com o nacionalismo, não há qualquer evidência de uma proximidade maior com o movimento fascista. O compositor viria a falecer já sexagenário em 29 de novembro de 1924.

Leia outras matérias de Cultura diretamente no portal Causa Operária Online, clique aqui

75 anos do poeta Oswaldo de Camargo

20 de novembro de 2011

Poeta, contista, novelista, estudioso e teórico da literatura negra, Oswaldo de Camargo é uma das mais importantes personalidades desta tradição literária, escritor considerado um elo entre as gerações de escritores negros das décadas de 1930 e 70



No último mês de outubro, completou 75 anos o grande poeta Oswaldo de Camargo, uma das figuras centrais no desenvolvimento de uma tradição literária negra no Brasil. Sua importância segue em dois sentidos. Primeiro especificamente como autor. Oswaldo é um dos poetas mais representativos desta tradição literária, um dos poucos a cultivar o rigor formal a partir de premissas de influêsncias parnasianas e simbolistas, revelando assim ser ele também um dos poetas da Geração de 45 que buscavam resgatar um maior rigor na forma poética diante do colapso do modernismo de 22. É também um dos mais fortes autores da literatura negra, autor de algumas das maiores obras-primas desta tradição poética.

Oswaldo de Camargo é não só um autor importante pelo que escreveu, mas pela posição privilegiada que ocupa entre as diferentes gerações de escritores negros. Pertencente à geração de autores negros da década de 1950, ele, junto à Associação Cultural do Negro, conheceu e travou relações com intelectuais de grande importância do movimento negro. Oswaldo, entre outros autores, conheceu pessoalmente Solano Trindade, o grande “poeta do povo”, militante comunista e agitador cultural por toda a vida. Deste modo, profundo conhecedor da tradição da imprensa negra, da atividade das associações culturais, das figuras mais importantes da intelectualidade negra das décadas de 1930 e 50, ele viria a ocupar um lugar importante entre os jovens escritores negros da década de 1970, geração que representou uma etapa de culminação daquela longa tradição. Ele foi o elo entre estas duas etapas de evolução da literatura negra. Entre os escritores da geração de 70, Oswaldo irá ocupar uma posição chave, como fundador do primeiro e importantíssimo grupo organizado da literatura negra brasileira, o Quilombhoje, formado com fins á defesa e divulgação da literatura negra.


Sua importância até aí já seria considerável, mas a estas contribuições se acrescenta uma igualmente importante, como estudioso, pesquisador e teórico da literatura negra. Oswaldo de Camargo foi autor de uma obra pioneira de extraordinária importância para o negro brasileiro: O Negro Escrito, o primeiro trabalho abrangente de pesquisa sistematizando e agrupando as diversas manifestações da presença do negro na literatura brasileira até o momento em que o negro surge como um agente ativo desta literatura e passa a desenvolver uma tradição própria nas letras nacionais. Este livro é ainda hoje uma obra essencial para o estudo e o entendimento do que vem a ser a literatura negra e quem são seus autores.


É deste modo, com imenso prazer que Causa Operária dedica esta edição do Caderno de Cultura a uma pequena homenagem a Oswaldo de Camargo, esta grande personalidade do movimento negro que completou este ano 75 anos de vida.


A descoberta do racismo


Nascido em 1936, em Bragança Paulista, interior de São Paulo, o poeta Oswaldo de Camargo estudou dos 13 aos 17 anos no Seminário Nossa Senhora da Paz, de onde ele saiu em 1954, aos 18 anos.


Ele tornou-se órfão antes dos seis anos, e por isso, criado desde cedo em instituições católicas. Segundo conta o próprio Oswaldo, a consciência de sua cor, bem como a percepção de que existia um sistema informal de segregação racial no Brasil, surgiu a ele ainda aos 12 anos. O futuro poeta nesta idade sentia uma forte vocação religiosa e mostrou interesse em tornar-se sacerdote da Igreja.


Os padres holandeses da instituição em que estudava começaram na ocasião a procurar um seminário em que ele pudesse ingressar. Para o espanto destes estrangeiros, não havia nenhum seminário em toda a região que recebesse negros. O jovem tinha, portanto 12 anos quando percebeu que devido a sua cor, muitas das portas da sociedade, para ele estariam fechadas. Era uma questão que parecia se colocar acima de todos os valores espirituais que ele havia aprendido desde cedo, uma questão que imediatamente desencadeou uma crise espiritual, de identidade, de contradição com o mundo que, segundo ele mesmo reconheceria, estaria na base de seu interesse futuro pela literatura. Ao se defrontar com esta questão, ele passaria a cultivar um sentimento comum a todos os negros da Diáspora, em todos os países onde o negro existia como uma minoria ou como uma população oprimida em um país controlado por uma burguesia branca. Foi este o início de sua identificação futura com a literatura negra.


Após muitos meses de procura, os padres descobriram finalmente um lugar para o pequeno negro, um seminário tinha à frente também padres holandeses. Era o Seminário Menor Nossa Senhora da Paz, em São José do Rio Preto.


Nos anos que se seguiram, naquele ambiente de reclusão e austeridade, Oswaldo teve grande oportunidade de desenvolver sua propensão para as artes e em particular, para a literatura. Aos 16 anos, nas missas realizadas na catedral de Rio Preto, ele descobriu a música e começou a se dedicar ao órgão desde então. Aos 17, ele era já o principal organista da catedral, chegando a realizar algumas composições e letras próprias. Ele se destaca também rapidamente nas letras, sendo também escalado para ler discursos e fazer homenagens nas solenidades realizadas tanto no seminário quanto na catedral. Ele escreveu seus primeiros poemas aos 16 anos também, graças ao estímulo de um dos estudantes, um rapaz erudito que escrevia poesias em latim e grego. Sua primeira influência e fonte de inspiração eram os poetas ultrarromânticos como Fagundes Varela e Casimiro de Abreu, a partir dos quais escrevia versos de inspiração religiosa, cantando Deus, a natureza, os pássaros. Ele aprendeu aí a adorar a literatura, a sentir prazer pelas ideias elevadas expressas em versos, e desenvolveu desde então “o deslumbramento pela literatura, deslumbramento diante da literatura”, segundo suas palavras.


As associações culturais do movimento negro


Uma experiência cultural importante também foi participar da organização de um teatro no seminário. Foram atividades como estas que alimentavam já sua vontade de dedicar sua vida às artes.


Até aí, ele se encaminhava para seguir carreira como seminarista, mas aos 17 anos esta situação muda. Novamente ele se defronta com o problema racial. Quando ele descobre que o Seminário Maior do Ipiranga não aceitaria ali seu ingresso pelo fato de ser ele um negro, Oswaldo de Camargo finalmente abandona sua ideia de tornar-se padre. Tomado por uma grande crise pessoal, ele sai do Seminário Menor e muda-se para a capital paulista, onde mantém-se ainda próximo a organizações católicas, e torna-se organista na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. É nesse momento que começaria sua atividade jornalística e sua militância no movimento negro.


Através de um anúncio no jornal ele descobre a Associação Cultural do Negro, que passa a freqüentar. Ali ele conhece e trava relações com alguns dos mais importantes membros do movimento negro brasileiro, alguns membros da Frente Negra, e, entre outros, o escritor Sérgio Milliet, que havia sido amigo pessoal de Solano Trindade e o também escritor Afonso Schmidt. O próprio Oswaldo de Camargo relembra estes anos: “A partir deste momento começo a ficar a par de que há uma história de lutas que começaram no início do século com a imprensa negra”.

Nestes anos o poeta começa a escrever mais intensivamente poemas que eram, em sua maioria, voltados à leitura de seu próprio círculo de amizades. Não eram tanto poemas pessoais, mas eram fundamentalmente escritos políticos, de ocasião, escritos para atividades, eventos, e voltados a divulgar de uma forma mais ampla o problema do negro dentro da Associação Cultural do Negro. A partir de 1955 ele passa a trabalhar também como revisor no jornal O Estado de S. Paulo, que lhe forneceria também uma importante experiência jornalística.

Um Homem Tenta Ser Anjo

É quando Oswaldo de Camargo trabalhava como diretor de cultura na Associação Cultural do Negro que ele publica, em 1959, seu livro de estréia, a coletânea poética Um Homem Tenta Ser Anjo. Esta obra trazia poemas com influências diversas de Fernando Pessoa, Sá Carneiro, Manuel Bandeira, Hilda Hilst, Rainer Maria Rilke. Uma obra de importância pois era ele então praticamente o único negro de sua geração a cultivar uma expressão moderna, enquanto que outros autores negros ainda não conseguiam se desvencilhar da influência do romantismo. Um Homem Tenta Ser Anjo é uma obra que apresenta bem o conjunto de influências que haviam sido assimiladas pelo poeta, com uma ênfase no rigor formal dos versos. Nota-se aí a influência do parnasianismo e do simbolismo. Um dos poemas importantes presentes nesta obra é Auto-retrato:


“Ver-me assim é ver num campo aberto
Um cimo verde, um horizonte azul,
E uma alma em meu vergel interno,
A qual eu pastoreio e alimento.
Gosto de olhar a minha revolta alma
Aqui deste rochedo em que me assento...
Tenho um riacho também que me tortura,
Bucólico e terno...
Às vezes, ao voltar do meu rochedo,
Após um dia todo de labor,
Lavo o rosto em sua água e torno-me
Amável e sonhador...
A alma que alimento e pastoreio
Passeia em minha face juvenil
Nos dias de excursão, paisagens outras,
Cansada deste pífaro que toco
Aqui neste rochedo em que me assento...”

Seu segundo livro é publicado em 1961, 15 Poemas Negros. Nesta obra, ele pela primeira vez adentra uma referência mais explícita ao negro. O poema mais marcante desta coleção, muito festejado na época de seu lançamento, foi a poesia confessional Fragmentos em Prosa, poema inspirado por Hilda Hilst, pela impressão que o poeta teve ao conhecer pessoalmente a escritora. Oswaldo de Camargo ficou tão deslumbrado por ela que escreveu este texto, uma reflexão sobre a distância entre os mundos do negro e do branco.

Curiosamente, nas mais de vinte páginas que Florestan Fernandes escreveu como prefácio desta obra, ele não cita este poema extraordinário. O mistério desta omissão é que este poema só foi incluído nesta coletânea quando o livro já estava na gráfica, impresso em linotipo. Prestes a rodar o material, o dono da gráfica comentou que, pelo que o poeta já havia gastado, ele tinha direito a 10 páginas adicionais no livro, e perguntou se o poeta não gostaria de inserir outros textos ali. E ele acrescentou este Fragmentos em Prosa, um poema de sete páginas. Outros poemas presentes no livro merecem também destaque, uma delas é Meu Grito:


“Meu grito é estertor de um rio convulso...
Do Nilo, ah, do Nilo é o meu grito...
E o que me dói é fruto das raízes,
ai, cruas cicatrizes!,
das buscas florestas da terra africana!

Meu grito é um espasmo que me esmaga,
há um punhal vibrando em mim, rasgando
meu pobre coração que hesita
entre erguer ou calar a voz aflita:
Ó África! Ó África!

Meu grito é sem cor, é um grito seco,
é verdadeiro e triste...
Meu deus, porque é que existo sem mensagem,
a não ser essa voz que me constrange,
sem ecos, sem lineios, desabrida?
Senhor! Jesus! Cristo!
Porque é que grito?”

A angústia e a revolta do negro na literatura


Uma das notas mais marcantes da obra de Oswaldo de Camargo tanto em prosa quanto em verso, é seu forte sentimento de dilaceramento interior, e que fica claro no poema acima, uma crise profunda que reflete uma contradição comum a todos os negros da Diáspora, mas que nem sempre é expresso da forma clara como o fez este poeta. Sua crise é produto do choque de consciência da situação de proscrição social do negro. Um homem criado entre uma sociedade dominada por uma burguesia branca, da qual assimilou os valores e a cultura, da qual, finalmente, é parte integrante, orgânica, mas que é ao mesmo tempo, a todo momento, colocado à margem dela, tem esta sua condição de “cidadão” colocada em xeque, e que se vê, na prática, entre dois mundos.

A evolução de sua poesia mostra um caminho comum a muitos dos escritores negros, avançando da angústia para a revolta, para uma situação de cada vez maior radicalismo. Este tom mais radical marcaria alguns dos melhores poemas de Oswaldo de Camargo na década de 1970, um produto da radicalização do movimento negro como um todo. O poema Atitude marca bem este sentimento:

“Eu tenho a alma e o peito descobertos
à sorte de ser homem, homem negro,
primeiro imitador da noite e seus mistérios
Triste entre os mais tristes, útil
como um animal de rosto manso.
Muita agonia bóia nos meus olhos,
inspiro poesia ao vate branco:
“... Stamos em pleno mar...”
Estamos em plena angústia!

(...)
Anoitecidos já dentro,
tentamos criar um riso,
não riso para o senhor,
não riso para a senhora,
mas negro riso que suje
a rósea boca da aurora
e espalhe-se pelo mundo
sem arremedo ou moldagem,
e force os lábios tão finos
da senhorita Igualdade!

Estamos com a cara preta
rasgando a treva e a paisagem
minada de precipícios
velhos, jamais arredados!

Enforcaram-nos irmãos,
com laços de mil enganos!”
...

O poeta em prosa


Em 1972 ele publica seu primeiro livro em prosa, O Carro do Êxito. Para Oswaldo de Camargo escrever este texto em prosa é uma novidade absoluta. Não só para ele, poeta, mas para a literatura negra brasileira de um modo geral, que era até então – e é também em grande medida ainda hoje – uma tradição que se expressa fundamentalmente em versos.


É uma característica comum à literaturas em fase de formação, pelo simples fato da expressão poética exigir – em geral – menor elaboração do que uma idéia em prosa, que requer maior planejamento, concentração, esforço. Este traço é comum à literatura negra em praticamente todos os países em que ela se manifestou, tendo conseguido consolidar perfeitamente uma tradição em prosa, com grandes autores e grandes obras, somente nos Estados Unidos. Nos demais países, apesar de haverem inegavelmente obras em prosa essenciais, a poesia é ainda a expressão primordial desta literatura.


Deste modo, é de grande importância o surgimento deste trabalho de Oswaldo de Camargo, uma expressão de maturidade desta literatura negra. Formado por um conjunto de contos, o tema tratado em O Carro do Êxito era também igualmente novo, a luta de um negro, recém chegado à cidade grande, buscando conseguir ingressar nesta sociedade controlada por brancos, apresentando todas as conseqüências desta luta, seus sonhos destruídos, sua angústia, desilusão e isolamento. É essencialmente uma crônica da vida do negro, não nas longínquas cidades despovoadas no interior do país, mas defrontando-se com o preconceito e a marginalização exatamente no coração da sociedade que o oprime. A grande cidade que inspirou o ambiente cosmopolita foi justamente São Paulo, onde Oswaldo de Camargo viveu de fato muitas destas experiências.


Diante do livro, o leitor é inserido diretamente no interior do movimento negro paulistano das décadas de 1950, 60, nos ambientes de acaloradas discussões, nas redações dos jornais da imprensa negra, lado a lado com os solitários adolescentes negros ansiosos por encontrar seu lugar ao sol em um mundo onde estão permanentemente deslocados. Daí que surge com grande força também a importância dos grupos negros que se formavam justamente como forma de combater este fato.


O livro começa com o conto Oboé, em meio a uma reunião típica da imprensa negra, onde negros exaltados levantam-se citando Castro Alves, a abolição, a necessidade de uma segunda abolição. O livro é muito rico na descrição destas atividades tão típicas do movimento negro. Outros contos ainda presentes no livro, histórias como a amargura de um jovem músico negro que, convidado a viver na casa de seu maestro, descobre ainda vestígios de racismo em sua maneira de tratá-lo. Há ainda o comovente episódio em que outro negro, jovem amante de literatura, vai fazer uma entrega em um bairro nobre e tem uma conversa com uma garota branca que o recepciona. Todas as histórias trazem ao centro personagens jovens, e trata justamente das expectativas da juventude negra em descobrir seu lugar, um meio em que possa atuar livremente.


O Quilombhoje


O ano de 1978 é um ano da maior importância na vida de Oswaldo de Camargo, da literatura negra brasileira e do movimento negro de um modo geral. A ditadura estava em plena crise, assediada pelas mobilizações estudantis e operárias. Certa noite, reunidos no bar Mutamba, próximo à antiga sede do Estadão, Oswaldo de Camargo, Paulo Colina, Luiz Silva [o Cuti], Abelardo Rodrigues e Lescano, em meio a uma acalorada discussão, decidem formar um grupo literário, um grupo que defendesse e divulgasse abertamente a literatura negra. Nasceria aí o grupo Quilombhoje (nome nascido da fusão das palavras Quilombo + hoje, a ligação entre o passado, o presente e a luta do negro). Ele era o produto da militância política, literária e jornalística destes escritores. Foi o primeiro e mais importante grupo literário negro do Brasil, pois até então a literatura negra havia se desenvolvido através de figuras isoladas, e nunca em torno de um grupo que tivesse a defesa da literatura negra como eixo de atuação. O Quilombhoje pretendia destacar justamente o caráter de resistência da literatura negra, e de isolamento do negro nos dias de hoje, morador de um quilombo moderno.


Em 1978, surge também A Descoberta do Frio, uma obra de literatura fantástica. Ele tratava de uma forma simbólica do problema da proscrição social do negro, de sua invisibilidade em um sociedade racista. Sua personagem sofre de uma doença misteriosa, que apesar de grave, é pouco notada pelas pessoas ao seu arredor, que atribuem sua doença a uma gripe, uma malária. A situação em que ele se encontra tem duas conotações, o racismo e a indiferença. Ele é vítima de ambas, e este é o seu mal. É uma questão que pode dizer respeito tanto ao branco quanto ao negro. Uma indiferença que pode se manifestar tanto no branco quanto no negro anestesiado, dominado pelo branco.


No mesmo ano, é lançado também o livro de poemas O Estranho. Publicado quase duas décadas desde 15 Poemas Negros, esta obra revelava a transformação da poesia de Oswaldo de Camargo neste período. Ele levava mais longe o problema do rigor da forma poética, com escritos que mostravam mais claramente a identificação de Oswaldo de Camargo com a Geração de 45, com diversas premissas comuns às daqueles poetas.


O Negro Escrito


Um dos mais importantes estudos sobre a literatura negra no Brasil surge em 1987, a obra pioneira O Negro Escrito – Apontamentos sobre a presença do negro na literatura brasileira, ainda hoje um estudo sem igual e de extraordinária importância para o movimento negro e para a cultura brasileira em geral. O livro era produto tanto dos interesse pessoal de Oswaldo de Camargo pela literatura negra, quanto de sua natural inclinação à atividade jornalística, de pesquisa, estudo e sistematização das diversas etapas e manifestações da literatura negra nacional. Ao longo de seus anos como jornalista, ele já havia escrito já dezenas de artigos, e a elaboração de um trabalho como este era um desenvolvimento natural de sua atividade. A isso se acrescia a grande importância para ele e outros negros de suas relações, de haver uma sistematização abrangente de todas as manifestações do negro na literatura.


O livro acompanhava assim justamente toda a trajetória do negro desde sua chegada ao Brasil, passando pelo modernismo e as gerações seguintes, de 1930, 50, 70, 80, em uma obra cuja proposta, como indicava o título, era apresentar apenas alguns apontamentos iniciais, um estudo introdutório ao problema da literatura escrita a partir de um “eu” negro no Brasil. Em Negro Escrito, Oswaldo de Camargo não se preocupava em desenvolver uma análise aprofundada dos autores negros, mas sinalizar alguns caminhos por onde se dirigira a literatura negra e que serviria como uma bússola para o leitor se localizar no interior desta rica, porém ainda muito pouco conhecida tradição literária.


Encerrada a parte analítica da obra, há uma breve mas fundamental antologia com textos que destacam presença do homem negro no País, em textos de grandes escritores brancos e negros, avançando desde as manifestações mais embrionárias desta tendência literária, até os mais lúcidos e radicais poetas negros da geração de 1970.


Foi por ter se colocado como esta bússola que Negro Escrito possui ainda hoje uma importância extraordinária não apenas para a literatura negra brasileira, mas para a literatura negra em geral. Apontamentos que traçam o desenvolvimento da consciência do negro no maior país da América Latina e uma das maiores nações negras do mundo. Negro Escrito era ao mesmo tempo uma história literária e uma história do negro brasileiro. Por ser capaz de relacionar e trazer à tona estas questões, por ter mostrado o elo indissolúvel que ligava as poesias de Castro Alves, Luis Gama, Cruz e Souza, Lino Guedes, Solano Trindade, até os poetas mais jovens – e de todos estes inseridos em um movimento negro internacional –, em uma única tradição, coerente, combativa, é que este livro de Oswaldo de Camargo foi um marco no processo de amadurecimento da consciência do movimento negro brasileiro. Ele tornou mais claro, para centenas, milhares, de escritores, o sentido e a importância desta tradição literária especificamente negra.


Um guardião da literatura negra moderna


O impacto desta publicação entre as associações e organizações do movimento negro foi enorme. Pela primeira vez aparecia no meio negro um livro escrito por um negro tratando da literatura que o negro escrevia. Este fato, de ter sido um negro, membro atuante do movimento, o autor foi também de grande importância, pois, deste modo, Negro Escrito foi capaz de apresentar autores totalmente desconhecidos do meio branco, e cujas qualidades e importância para o negro – pelos problemas específicos que expressavam em seus textos – só poderiam ser percebidos por um negro. A parte do livro, por exemplo, dedicada aos autores do Embu, possui esta característica. São escritores menores de um ponto de vista estritamente estético, mas de grande valor para a coletividade negra pelos sentimentos e problemas abordados.


Nos anos seguintes, Oswaldo de Camargo foi se consolidando cada vez mais como uma das grandes autoridades em literatura negra no Brasil, realizando palestras e trabalhando em incontáveis estudos e artigos. Hoje ele é o mais respeitado especialista no assunto.

Por seus inúmeros textos e estudos sobre o poeta Cruz e Souza, em 1998 Oswaldo de Camargo ganhou o troféu Cruz e Souza da Secretaria de Cultura de Santa Catarina, estado natal do poeta simbolista.

Um estudo recente de Oswaldo de Camargo foi lançada em 2009, a transcrição de uma palestra sobre o poeta Solano Trindade. A obra, Solano Trindade – Poeta do Povo, é também um estudo essencial no entendimento da importância da obra de Trindade no desenvolvimento da consciência do negro brasileiro.


Oswaldo de Camargo tem poemas e contos traduzidos para diversos idiomas em outros países, em inglês, espanhol, francês e alemão.


Hoje o poeta trabalha como coordenador de literatura no Museu Afro Brasil, em São Paulo. Ele também trabalha ainda ativamente em prol da divulgação desta rica tradição da literatura nacional, organizando obras de autores ou intelectuais menos conhecidos, divulgando nomes de figuras negras expressivas da vida cultural nacional e participando regularmente de palestras e debates sobre a literatura negra e seus autores mais representativos. Neste mês de novembro, mês atribuído à morte do grande líder quilombola, Zumbi dos Palmares, quando o poeta completa seus 75 anos, está saindo a segunda edição de sua novela A Descoberta do Frio.







Leia outras matérias de Cultura diretamente no portal Causa Operária Online, clique aqui.