quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Filme que relembra despejo de população pobre de Brasília é o premiado da Mostra de Cinema de Tiradentes

O filme premiado da 15ª edição do festival mineiro foi o documentário A cidade é uma só?, sobre a expulsão dos moradores pobres de áreas ocupadas na Capital Federal para entregá-las para especuladores imobiliários


No último dia 28, encerrou-se a 15ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, realizada na cidade histórica do Sul de Minas Gerais. O festival iniciou-se em 1998 e hoje é já um dos mais importantes eventos culturais do Estado. Esta última edição exibiu 116 filmes, entre longas, médias e curta-metragens, ficcionais e documentários.

Diferentemente de outros festivais brasileiros, como o de Brasília, do Rio de Janeiro ou de Paulínia, que tradicionalmente premiam novos filmes de diretores já consagrados, o Festival de Tiradentes, menos conservador, tem se destacado por privilegiar obras de cineastas estreantes. Os premiados no festival deste ano mantêm a tradição e refletem a crise política atual. Os destaques principais foram dois filmes de denúncia social: o semi-ficcional A cidade é uma só?, dirigido por Adirley Queiroz; e documentário HU, de Pedro Urano e Joana Traub Cseko.

A vitória de A cidade é uma só? é particularmente expressiva em meio à situação política atual. Seu tema se relaciona à recente desocupação da comunidade paulista do Pinheirinho, em São José dos Campos.

Em A cidade é uma só?, Adirley Queiroz usou personagens fictícios e reais para resgatar um episódio ocorrido em Brasília. Após a construção do Plano Piloto, na década de 1950, os operários que trabalharam na obra, sem condições de retornar às suas cidades, estabeleceram residência com suas famílias em terrenos ociosos no entorno de Brasília.

Na década de 1970, porém, grandes grupos empresariais voltados à especulação imobiliária se interessaram pela Capital Federal, e as ocupações populares mostraram-se o principal obstáculo à valorização dos terrenos do Plano Piloto. Foi então impulsionada uma ampla política de ataques a esses operários, o que levou à sua expulsão de Brasília. Essa é a situação retratada por A cidade é uma só?

Após a premiação, Adirley Queiroz, em entrevista à imprensa, reiterou a relação do tema de seu filme com o episódio que chamou a atenção de todo o país na última semana: “Se meu filme tem alguma relação com eventos recentes, é com Pinheirinho. Brasília passou pela mesma higienização covarde que Pinheirinho. Lá, as pessoas foram jogadas na rua e surgiram lugares como a Ceilândia”.

A vitória desse longa-metragem expõe o tamanho da crise no interior do regime político, e apenas endossa a condenação popular – também por uma ala influente da intelectualidade brasileira que organiza e controla esse festival –, da política do atual governador de São Paulo, Geraldo Ackmin e do PSDB.


O outro filme premiado na mostra destaca outro grave problema social, agora no Rio de Janeiro, mas que também é um problema nacional, mostrando as condições de completo abandono de toda uma ala do edifício modernista que abriga o Hospital Universitário da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). A escolha do documentário HU foi feita pelo Juri Jovem eleito pelo festival, composto por estudantes de cinema.


A escolha de ambos os filmes como ganhadores da Mostra Aurora, o ciclo principal do festival mineiro, é um reflexo da mudança da situação política e do agravamento da crise social brasileira.


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