Montada a partir do texto de Gianfrancesco Guarnieri, a
peça reconta a história de Castro Alves e leva ao palco as personagens
que povoam a obra do ‘poeta dos escravos’
Em
1971, ano do centenário da morte do poeta baiano Castro Alves, o
dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri lançava nos palcos sua peça Castro Alves pede passagem.
O objetivo do dramaturgo era tornar mais acessível o legado do grande
poeta do período final do romantismo brasileiro, que fez de sua obra uma
arma de luta em defesa da causa abolicionista, motivo pelo qual Castro
Alves se tornou conhecido como o “poeta dos escravos”.
Em
uma linguagem direta e acessível, Guarnieri recontava os momentos
principais da vida do poeta. Desde sua adesão, na adolescência aos
ideais abolicionistas e republicanos; sua relação com a popular atriz
portuguesa Eugênia Câmara; a estreia de Castro Alves como poeta na
década de 1860 e os anos de militância em defesa da causa abolicionista,
publicando seus textos na imprensa, até sua morte precoce, em 1871, aos
24 anos.
A nova montagem é encenada pela Companhia das Artes, com direção de Jair Aguiar. A peça foi montada a partir de uma sucessão de flashbacks,
em que ganham vida no palco as figuras que povoam a obra do escritor,
com seus escravos, republicanos, e o próprio poeta e suas mulheres.
O espetáculo não utiliza grandes recursos de cenários ou figurinos, privilegiando o trabalho do ator.
Castro Alves pede passagem
permanecerá em temporada até 21 de outubro, em São Paulo. Ela está em
cartaz no Teatro Coletivo, localizado na Rua da Consolação, 1623. O
espetáculo acontece às 19hs aos sábados e às 18hs aos domingos.
O poeta
Castro
Alves foi o representante maior da última fase do Romantismo
brasileiro, já repleta de influências do Realismo. Sua obra foi toda
vinculada aos problemas sociais mais graves de seu tempo. O tema mais
recorrente em sua obra é luta do escravo por sua liberdade, que na obra
do poeta toma as proporções de uma aventura épica pela libertação
humana.
Graças
à grande sensibilidade de Castro Alves, ele deu dignidade literária ao
escravo, o que era um fato ainda inédito nas letras brasileiras. Antes
de Castro Alves, o negro raramente comparecia na literatura brasileira,
em passagens sem grande brilho.
Se
Fagundes Varela foi o primeiro grande poeta a falar da questão do
sofrimento dos negros, Castro Alves foi muito mais longe, fez dos
escravos um de seus temas centrais, cantou sua desgraça, e percebeu não
apenas a dor desses oprimidos, mas também sua glória e a grandeza de sua
luta, tendo sido também Castro Alves o primeiro poeta a cantar a luta
dos Palmares.
Castro
Alves foi poeta revolucionário, declamatório, panfletário, autor, de
uma das obras mais belas e poderosas da literatura nacional. Ele não foi
somente o poeta dos escravos, mas o poeta da revolução brasileira desse
período, seus poemas sociais, sobre negros ou brancos, são numerosos e
constituem a melhor parte de sua obra. Sua poesia floresceu em um dos
momentos mais agudos da crise política brasileira, quando milhares de
ativistas lutavam pela derrubada da monarquia e pelo fim da escravidão, o
pior dos flagelos brasileiros.
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