Este ano completa-se o 90º aniversário do lançamento da
obra-prima de Murnau, um dos maiores clássicos do cinema mundial. O
programa, exibido em cópia restaurada, faz parte da 36ª Mostra
Internacional de Cinema de São Paulo
Na
próxima semana, a partir do dia 19, começa a 36ª Mostra Internacional
de Cinema de São Paulo. Entre os destaques da programação, está a
exibição, no dia 2 de novembro, de uma cópia recentemente restaurada de Nosferatu, uma das grandes realizações do cinema expressionista alemão.O programa noturno, que será realizado no feriado do Dia de Finados, inclui a participação de uma orquestra com 80 músicos que farão a trilha sonora do filme.
Essa cópia restaurada que chega agora ao Brasil já foi exibida em outros países em apresentações similares ao ar livre e acompanhamento musical ao vivo.
A exibição é uma homenagem a Murnau, resgatando uma obra que foi um marco dos filmes de horror e do cinema mudo, pela qualidade excepcional da produção.
Passados 90 anos da criação de Nosferatu, dezenas de adaptações já foram realizadas do romance de Bram Stoker para o cinema. A obra de Murnau, porém, permanece uma das maiores delas. Realizado em 1922 e protagonizado por Max Schreck, que dá vida ao cadavérico conde Graf Orlock, Nosferatu foi o primeiro filme de vampiro a fazer sucesso no cinema.
Nosferatu é uma adaptação fiel do romance de Stoker, mas por problemas de direitos autorais, que não foram cedidos pela família do escritor, Murnau, ao invés de cancelar a produção, optou por mudar os nomes de todas as personagens do filme.
A produção é também representativa do momento histórico em que foi criada, na Alemanha devastada do pós-guerra. Nosferatu, ao lado de Gabinente do Dr. Caligari, é tido como a máxima realização desse cinema por conseguir transmitir nas telas a atmosfera de tensão e desespero que tomava conta do país no período reacionário que se seguiu à derrota da Alemanha na guerra e ao esmagamento da Revolução no ano seguinte.
A obra literária que deu origem ao filme, Drácula, é um romance de horror vitoriano que expressava muitas das inquietações da pequena-burguesia britânica em meio à crise social e política que tomou conta do país no final do século XIX. A paralisia conservadora da sociedade britânica era chacoalhada por grandes mobilizações operárias, pelo movimento sufragista feminino, e pelo grande êxodo migratório saído do Leste europeu. Com isso, todos os valores conservadores da sociedade vitoriana começaram a ser contestados, e a figura do Drácula, o estrangeiro monstruoso que transformava respeitáveis mães e moças de sociedade em macabras sugadoras se sangue, personificava essa situação de crise dos valores burgueses.
O Nosferatu de Murnau, por sua vez, parecia evocar sentimentos que iam de encontro à crise alemã, com o vampiro agora personificando os horrores da guerra e o rastro de assassinatos e doenças que ela deixava atrás de si. Com monstros como Nosferatu e o sonâmbulo assassino Césare, o cinema expressionista deu forma aos medos que tomavam conta da sociedade alemã, particularmente das camadas médias, que apenas assistiam, acuadas, as violentas lutas políticas que tomavam conta do país.
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