sábado, 20 de outubro de 2012

Morre o cineasta japonês Koji Wakamatsu

Wamakatsu foi um dos grandes diretores do movimento de renovação do cinema japonês da década de 1960, associado ao chamado ‘noberu bagu’ a ‘nouvelle vague’ japonesa
Morreu na noite da última quarta-feira (17) o cineasta Koji Wakamatsu em um hospital em Tóquio, onde estava internado desde sexta-feira (12), após ter sido vítima de atropelamento. O diretor estava com 76 anos.

Wakamatsu foi um destacado diretor da geração de 1960 do cinema japonês, durante o período de radicalização política em que viveu o país no final da década. Ele foi um realizador popular entre o movimento estudantil radicalizado da década de 1960. Seu nome é associado ao movimento vanguardista da noberu bagu, surgido no Japão sob o impacto da nouvelle vague francesa.

Durante a guerra do Vietnã, o Japão foi transformado em uma base regular de atividades para tropas norte-americanas que partiam dali para a Indochina. Essa situação desencadeou uma enorme onda de radicalização política, que se juntava à crise do regime político japonês. Na ocasião, imensos protestos eram organizados pelo movimento estudantil e uma ala mais radicalizada do movimento iniciou um movimento de guerrilha associado com os demais grupos de orientação maoista surgidos da Europa, como o Baader-Meinhof na Alemanha Ocidental. Em um de seus filmes mais conhecidos Êxtase dos anjos do diretor se inspirava nessa realidade para traçar um balanço sombrio do fracasso do movimento armado japonês.

O primeiro filme de destaque de Wakamatsu surgiu em 1965, foi Secrets behind de wall, que analisava as perversões sexuais presentes na sociedade japonesa. Repleto de cenas eróticas explícitas, o filme apresentava a história de um estudante antissocial, isolado e sombrio que começa a espionar pela janela a vida sexual de sua vizinha, uma ex-ativista política pacifista.

A obra foi selecionada para representar o Japão no Festival de Berlim daquele ano e causou, por isso, viva controvérsia entre os meios cinematográficos japoneses. Os membros da conservadora federação de produtores de cinema do Japão chegaram a tirar um manifesto declarando ser uma “vergonha nacional” a escolha de tal obra para o festival, que os produtores classificavam como pink eiga, nome popularmente atribuídos aos filmes de “pornô soft” japoneses.

Essa controvérsia tornou o diretor uma figura marginalizada entre os meios cinematográficos oficiais no País desde então, motivo pelo qual Wamakatsu abriu uma produtora independente para dar prosseguimento ao seu trabalho.

As discussões sobre o conteúdo sexual dos filmes do diretor o acompanhariam durante toda a trajetória, como em sua participação na produção de Império dos sentidos (1975), dirigido por Nagisa Oshimi, que foi alvo dos mesmos ataques.

O cinema de Wakamatsu, porém, ia muito além disso, e tais discussões acabavam por encobrir o fato de seus filmes trazerem à tona problemas políticos presentes na sociedade japonesa desde a década de 1960.

Um dos filmes mais políticos de Wakamatsu é o já citado Êxtase dos anjos, de 1972. Ele retratava a trajetória de um grupo guerrilheiro japonês que prepara um ataque para roubar armas de uma base do Exército norte-americano. Um dos membros do grupo trai a organização e a operação fracassa. A partir daí Wakamatsu retrata a completa desintegração do grupo em meio à paranoia e intriga.

A filmografia do diretor é bastante extensa, inclui quase uma centena de produções, as quais frequentemente tocavam temas políticos e adotavam uma estética vanguardista.
Uma das produções recentes de Wakamatsu foi o Exército Japonês Unido, de 2007, retratando a história desse grupo maoista formado em 1968 e dissolvido em 1972. O filme foi premiado no Festival de Berlim desse ano.

Em 2010, outro filme do diretor teve notoriedade, Caterpilar, um drama passado na Segunda Guerra e que foi também selecionado pelo Festival de Berlim. Também em 2010 Wakamatsu dirigiu 11:25: The Day He Chose His Own Fate uma cinebiografia do escritor Yukio Mishimam que foi exibida em Cannes. A última produção do cineasta japonês foi The Millennial Rapture, exibido recentemente, em setembro, no Festival de Veneza.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Mostra paulista exibe filmes de Luís Buñuel

Promovida pela Biblioteca Roberto Santos, a mostra traz quatro filmes do cineasta espanhol realizados entre as décadas de 1950 e 70: ‘Os esquecidos’, ‘A via láctea’, ‘Tristana, uma paixão mórbida’ e ‘Esse obscuro objeto de desejo’
A partir desta sexta-feira, a Biblioteca Roberto Santos, localizada no bairro do Ipiranga, zona sul de São Paulo, começará a exibir a mostra O surrealismo de Luís Buñuel, trazendo quatro filmes do diretor realizados entre as décadas de 1950 e 70.

Os esquecidos, de 1950, é o primeiro filme da fase mexicana do diretor, momento em que ele realizaria algumas de suas obras-primas e conquistaria notoriedade mundial.

O filme se propõe a retratar, não o México das paisagens exuberantes e da cultura exótica que a burguesia mexicana vendia para o restante do mundo, mas o México marginal em que vivia a grande maioria da população, o país dos miseráveis ocultos, dos esquecidos, com sugere o título. Os protagonistas do filme são um grupo de jovens marginais que vivem em uma favela nos arredores da Cidade do México cometendo pequenos crimes. O filme, quando lançado, causou grande impacto pelo realismo brutal da história e da sordidez da vida daqueles adolescentes, filme realizado no momento em que o cinema neorrealista ganhava força na Europa do pós-guerra.

Já produções como Via Láctea, de 1969; Tristânia, uma paixão mórbida, de 1970 e Esse obscuro objeto de desejo, de 1977; rodados na França, pertencem à fase final de Buñuel, obras que destacam sempre a crítica do diretor à decadência dos valores burgueses e da sociedade em geral.

Via Láctea é lembrado como a mais agressiva crítica de Buñuel à Igreja. A obra acompanha as andanças de dois peregrinos vagabundos pelo caminho sagrado de Santiago de Compostela, na Espanha. Nessa jornada, eles vão se deparando com diferentes figuras bíblicas onde as heresias católicas são ridicularizadas.

Tristânia, uma paixão mórbida, é a adaptação cinematográfica de um romance do escritor Benito Pérez Galdós. A obra narra o processo de corrupção moral de uma jovem órfã, Tristana, que é seduzida por seu tutor, Don Lope, um homem muito mais velho.

Em Esse obscuro objeto de desejo, Buñuel coloca ao centro da trama um jogo de sedução entre um ricaço de meia-idade, Matheu, e Conchita, jovem de 18 anos cuja virgindade é seu “obscuro objeto de desejo” que Matheu persegue desesperadamente durante todo o filme. Ao mesmo tempo em que Conchita o seduz, não tem nenhuma intenção de consumar a conquista.
A mostra O cinema surrealista de Luís Buñuel será exibida entre os dias 19, 21 e 26 de outubro na cinemateca da Biblioteca Roberto Santos.

Programação:

19/10 – sexta-feira
19h - Os esquecidos 

21/10 – Domingo
16h – Via Láctea
18h – Tristana, uma paixão mórbida 

26/10 – Sexta-feira
19h – Esse obscuro objeto de desejo

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Homenagem a Andrei Tarkóvski é o destaque da Mostra Internacional de Cinema

A homenagem inclui uma mostra retrospectiva dos filmes do cineasta, a exibição de documentários sobre ele, duas exposições fotográficas, o lançamento de um livro e um ciclo de debates com a presença do filho do diretor, Andrei A. Tarkóvski
Uma das fotos polaroids de Tarkóvski presente na mostra
A edição deste ano da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, uma das mais importantes do país, terá como principal homenageado o cineasta russo Andrei Tarkóvski, autor de filmes como O rolo compressor e o violonista.

A programação do festival ainda não foi divulgada pelos organizadores, mas a homenagem contará com uma retrospectiva completa de seus filmes, a exibição de documentários sobre o diretor, feito por outros cineastas de destaque, e duas exposições de fotos realizadas por Tarkóvski, além do lançamento de um livro reunindo algumas dessas imagens.

Além da atividade cinematográfica, Tarkóvski sempre cultivou o gosto pela fotografia, atividade complementar ao seu trabalho no cinema. A exposição O Espelho de Memórias, que será inaugurada nas dependências do Cinesesc, reunirá 30 fotografias do acervo pessoal do diretor, além de fotos de filmagens e a reprodução de alguns poemas escritos pelo pai de Tarkóvski, o poeta russo Arseni Tarkóvski.

Outra exposição é Luz Instantânea: Polaroides de Tarkóvski que reúne 80 fotografias feitas pelo diretor na Rússia e em seu exílio na Itália entre 1979 e 1984. A exposição teve inauguração ontem, no MASP.

Essa segunda mostra fotográfica apresenta uma seleção das imagens reunidas no livro Tarkóvski – Instantâneos, cujo lançamento faz parte da programação da Mostra Internacional.
Na exposição do MASP está sendo exibido ainda o documentário Andrei Tarkóvski. A reminiscência, de 1997, realizado pelo filho do diretor, Andrei A. Tarkóvski, que é também cineasta e presidente do Instituto Internacional Andrei Tarkovki, que busca preservar e divulgar a obra do pai.

Andrei A. Tarkóvski virá a São Paulo por ocasião da Mostra Internacional para tomar parte nos debates sobre a obra do homenageado, em uma programação ainda não divulgada.
Quanto à retrospectiva de filmes de Tarkóvski a serem exibidos nessa 36ª mostra, ela incluirá os nove longas-metragens presentes na obra do diretor, todos conhecidos no Brasil: Ubiytsy (1956); O rolo compressor e o violonista (1960); A infância de Ivan (1962); Andrei Rublev (1966); Solaris (1972); O espelho (1974); Stalker (1979); Nostalgia (1983) e O sacrifício (1986).

A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo conta com mais de 400 filmes em sua programação deste ano e tem início previsto para a próxima sexta-feira, dia 19.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Prédio do Cine Belas Artes é tombado em São Paulo

O processo se arrastava desde o início do ano passado, quando o Belas Artes foi fechado após quase sete décadas de funcionamento. Agora o edifício é oficialmente um patrimônio cultural da cidade 
 
Na tarde desta segunda-feira (15), o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), departamento ligado à Secretaria de Cultura do governo estadual paulista, decidiu em reunião pelo tombamento do edifício do Cine Belas Artes. A preservação permanente do imóvel foi aprovada por 16 votos a favor e duas abstenções.


Com essa decisão, a fachada do edifício é considerada agora oficialmente um patrimônio cultural da cidade, não podendo sofrer nenhuma modificação ou reformas sem autorização prévia do governo estadual. A medida se refere especificamente aos primeiros quatro metros da fachada do edifício a partir da calçada.

A medida, que busca, segundo o documento “garantir o registro permanente do lugar” na memória da cidade, também inclui a preservação da calçada em frente ao edifício, feita de pedras pretas e brancas que formam o desenho do Estado de São Paulo.

O tombamento, no entanto, não implica em que haja nenhuma obrigatoriedade de destinação do imóvel a fins culturais ou de qualquer outro tipo. A decisão do conselho não restringe seu uso ou mesmo a modificação do espaço interno do prédio segundo a vontade de seu proprietário desde que os elementos tombados do edifício permaneçam intocados.

O Cine Belas Artes foi inaugurado em 1943 e permaneceu em funcionamento, sob diferentes direções, até 2011, quando o locatário perdeu o patrocínio e teve de entregar o imóvel.



domingo, 14 de outubro de 2012

Filme ‘Pinheirinho um ano depois’ denuncia política criminosa do PSDB contra famílias pobres

Depois da violenta desocupação promovida pelo governo Alckmin, documentário revela que os ex-moradores da comunidade do Pinheirinho estão morando na rua, sem nenhum respaldo do governo

Um grupo de realizadores independente tomou a iniciativa de produzir um documentário que busca revelar a situação de completo abandono em que foram atiradas as famílias da comunidade do Pinheirinho depois do processo de desocupação promovido pelo governo PSDB em São José dos Campos em janeiro deste ano.

O filme, Pinheirinho um ano depois, trará dezenas de depoimentos de moradores, líderes comunitários e assistentes sociais que denunciam a política criminosa do governo em diferentes questões.

Dois aspectos chamam atenção. Em primeiro lugar, o tratamento dado aos moradores logo após a desocupação, quando eles foram espalhados por diferentes abrigos e colocados em uma situação de isolamento completo durante vários dias, o que configura uma situação de cárcere totalmente ilegal. Uma moradora denuncia no vídeo: “Eu fiquei 18 dias no abrigo com meu neto. Eles não deixavam ninguém ligar, não deixavam [ninguém] sair nem entrar. Minha filha ia visitar eu e o filho, e eles não deixavam [ela] entrar. É como se fosse uma prisão. Daí faltava comida, meu neto ficava com fome, pedia, não tinha comida lá dentro também. No abrigo era um sufoco. Eu dormia com um homem do meu lado que eu nem sei que era”.

Outra situação igualmente criminosa é que, passado esse período inicial da desocupação, as famílias foram abandonadas sem nenhum respaldo do poder público. Uma assistente social denuncia em uma entrevista: “A situação das famílias depois da reintegração de posse é uma situação de 'homeless', de sem-terra (sic), basicamente eles não tem onde morar”.
Esses são alguns dos problemas que o documentário aborda entre inúmeros outros. Um dos líderes da comunidade, nas filmagens também comenta: “hoje a grande maioria das crianças que moravam no Pinheirinho não pode ver um carro de polícia que elas fogem, elas tem medo. Tem criança que não pode ouvir um barulho de helicóptero (...) Ficou esse rastro de violência muito grande e a dificuldade é muito grande. Mesmo porque o governo de São José dos Campos nunca procurou ninguém da direção, nunca procurou nem uma família pra conversar”.

O grupo que tomou a iniciativa de filmar o documentário está levantando fundos para a produção de maneira independente por meio do portal Catarse, que divulga projetos e visa a arrecadação de recursos para produções de caráter cultural. Dessa forma, os produtores de Pinheirinho um ano depois pretendem colocar o documentário no ar gratuitamente na internet. A produção estimada para o filme é de 11 mil reais aproximadamente que, segundo os realizadores, cobre apenas os custos de produção e equipamento e deverá ser arrecadada até dia 20 de novembro. Toda a equipe do filme está envolvida no projeto de maneira voluntária.

O grupo divulgou um primeiro vídeo promocional do documentário. Confira pelo link.

sábado, 13 de outubro de 2012

‘Nosferatu’ terá exibição ao ar livre com orquestra no parque do Ibirapuera

Este ano completa-se o 90º aniversário do lançamento da obra-prima de Murnau, um dos maiores clássicos do cinema mundial. O programa, exibido em cópia restaurada, faz parte da 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Na próxima semana, a partir do dia 19, começa a 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Entre os destaques da programação, está a exibição, no dia 2 de novembro, de uma cópia recentemente restaurada de Nosferatu, uma das grandes realizações do cinema expressionista alemão.

O programa noturno, que será realizado no feriado do Dia de Finados, inclui a participação de uma orquestra com 80 músicos que farão a trilha sonora do filme.
Essa cópia restaurada que chega agora ao Brasil já foi exibida em outros países em apresentações similares ao ar livre e acompanhamento musical ao vivo.
 A exibição é uma homenagem a Murnau, resgatando uma obra que foi um marco dos filmes de horror e do cinema mudo, pela qualidade excepcional da produção.

Passados 90 anos da criação de Nosferatu, dezenas de adaptações já foram realizadas do romance de Bram Stoker para o cinema. A obra de Murnau, porém, permanece uma das maiores delas. Realizado em 1922 e protagonizado por Max Schreck, que dá vida ao cadavérico conde Graf Orlock, Nosferatu foi o primeiro filme de vampiro a fazer sucesso no cinema.

Nosferatu é uma adaptação fiel do romance de Stoker, mas por problemas de direitos autorais, que não foram cedidos pela família do escritor, Murnau, ao invés de cancelar a produção, optou por mudar os nomes de todas as personagens do filme.

A produção é também representativa do momento histórico em que foi criada, na Alemanha devastada do pós-guerra. Nosferatu, ao lado de Gabinente do Dr. Caligari, é tido como a máxima realização desse cinema por conseguir transmitir nas telas a atmosfera de tensão e desespero que tomava conta do país no período reacionário que se seguiu à derrota da Alemanha na guerra e ao esmagamento da Revolução no ano seguinte.

A obra literária que deu origem ao filme, Drácula, é um romance de horror vitoriano que expressava muitas das inquietações da pequena-burguesia britânica em meio à crise social e política que tomou conta do país no final do século XIX. A paralisia conservadora da sociedade britânica era chacoalhada por grandes mobilizações operárias, pelo movimento sufragista feminino, e pelo grande êxodo migratório saído do Leste europeu. Com isso, todos os valores conservadores da sociedade vitoriana começaram a ser contestados, e a figura do Drácula, o estrangeiro monstruoso que transformava respeitáveis mães e moças de sociedade em macabras sugadoras se sangue, personificava essa situação de crise dos valores burgueses.

O Nosferatu de Murnau, por sua vez, parecia evocar sentimentos que iam de encontro à crise alemã, com o vampiro agora personificando os horrores da guerra e o rastro de assassinatos e doenças que ela deixava atrás de si. Com monstros como Nosferatu e o sonâmbulo assassino Césare, o cinema expressionista deu forma aos medos que tomavam conta da sociedade alemã, particularmente das camadas médias, que apenas assistiam, acuadas, as violentas lutas políticas que tomavam conta do país.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Filme denuncia a ditadura criada no Rio em benefício da especulação imobiliária

Curta-metragem denuncia a repressão das UPPs contra a população e os despejos em favelas no Rio de Janeiro, bem como sua relação com as empreiteiras e grandes empresas como parte dos “preparativos” para a Copa de 2016. Assista aqui o documentário

Foi lançado recentemente o documentário Domínio Público, filme independente expõe a situação de verdadeira ditadura que está sendo imposta no Rio de Janeiro por ocasião da Copa do Mundo – situação, porém, que abrange outras grandes cidades que sediarão os jogos de 2014. O filme concentra sua pesquisa no Rio de Janeiro, mas essa é uma situação geral.
Desde que foi anunciada a Copa do Mundo no Brasil, iniciou-se uma ampla operação de ataques contra o povo. A parcela mais afetada da população, como sempre acontece é a dos moradores das comunidades pobres.

No Rio de Janeiro, onde esse processo tem se dado de forma mais aberta e agressiva, foram criadas as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) para controlar e reprimir a atividade dos moradores; e estão também sendo realizados dezenas de despejos a pretexto da realização de obras de infraestrutura para a Copa do Mundo.


Domínio Público
estabelece a relação entre essa máquina repressiva estatal e os interesses das grandes empreiteiras e outras empresas que pretendem lucrar com os jogos da Copa.


Em entrevista para o portal Publica: Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo dada pelos realizadores do filme, os cineastas Fausto Mota, Raoni Vidal e Henrique Campos, eles comentam que tal operação chamou a muito atenção deles, o que os levou a iniciar suas pesquisas: “Começamos a nos questionar sobre a escolha dos locais para instalação das unidades e a valorização imobiliária inerente ao processo. A partir disso, passamos a pesquisar material sobre o tema e percebemos que o buraco era bem mais profundo do que a gente pensava. As UPPs são a ponta do iceberg de um projeto de cidade muito perigoso…”


Eles destacam também a truculência como tem sido feitos os processos de despejo da população pobre das comunidades que se tornarão canteiros de obras para a Copa: “[o que mais me chamou a atenção foi] a maneira cruel e desumana como é feita a remoção das pessoas de comunidades localizadas em áreas de forte interesse imobiliário. Famílias inteiras são despejadas na rua, muitas vezes sem direito a nada, perdendo móveis, eletrodomésticos e sem ter para onde ir, tendo que se alojar em casa de parentes ou em albergues para mendigos”. Situação que é exposta em maiores detalhes no filme.


A conclusão a que eles chegam é a de que, em meio aos preparativos para a Copa do Mundo, a cidade cada vez mais foi sendo colocada nas mãos interesses capitalistas completamente alheios à população, passando por cima de direitos democráticos elementares. É uma situação que na realidade sempre existiu, mas que foi exposta mais claramente em função dos jogos. “Para se realizar um megaevento como a Copa do Mundo ou as Olímpiadas, são necessárias várias alianças e acordos. Existe uma aliança em nível horizontal entre a rede hoteleira, os proprietários de terra, as empreiteiras, a prefeitura, o governo estadual e empresários locais, e em nível vertical com o governo federal, que detém os mecanismos de financiamento como BNDS e Caixa, e a FIFA, a CBF, o COI, as grandes multinacionais que patrocinam esses eventos. São muitos acordos envolvidos por trás dos megaeventos e isso é muito perigoso, pois a cidade passa a ser dirigida em função dos interesses privados de uma pequena elite”. E acrescentam que “na lógica da cidade-empresa o que importa é extrair o lucro máximo e não o bem-estar do cidadão. O governo se transforma em um mero balcão de negócios para administrar esses interesses privados, ao invés de se preocupar com os problemas reais da população”.


E esse processo é acompanhado também, conforme eles assinalam, por um enorme esquema de desvio de verbas públicas: “É uma roubalheira que não tem tamanho, uma quantidade imensa de dinheiro público, bilhões, vai servir para enriquecer esse grupo de empresários como Eike Batista. Poucas vezes se desviou tanto dinheiro dos nossos cofres públicos. Quem vai pagar essa conta no final?”


Merece maior atenção no filme a atuação nefasta da UPPs, mecanismo que viabiliza os processos de despejo realizados nos morros. Por esse motivo, um ponto que surge no documentário e deve ser destacado como forma de alerta aos desavisados, são as declarações do candidato do Psol, Marcelo Freixo, contra as UPPs. A impressão que se tem é que Freixo seria contra essa política repressiva, o que não é fato. É sempre importante lembrar que durante o processo do 1º turno das eleições municipais, em que Freixo era candidato à Prefeitura, ele apoiou as UPPs e a política que elas representam, chegando a declarar que a “UPP foi uma conquista para os moradores”. Uma posição totalmente diversa da que ele aparece no filme apoiando.


O documentário foi produzido de maneira totalmente independente, durante 14 meses de intensa pesquisa, em que foram realizadas também as entrevistas e demais filmagens que compõe a produção.


Entre o material diversificado de denúncias jornalísticas nas quais os realizadores se apoiaram para realizar seu filme, está inclusive o portal Causa Operária Online, que tem denunciado amplamente o esquema repressivo colocado em marcha no Rio em benefício dos grandes capitalistas.


Concluída essa primeira etapa da produção, que chegou a um curta-metragem de quase 20 minutos de duração, os cineastas pretendem ainda aprofundar o tema e possivelmente transformar Domínio Público em um longa metragem.


Veja o documentário, clique aqui.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Novo documentário resgatará a importância de Mercedes Sosa

 
 Com estreia marcada para 2013, o documentário La voz de Latinoamerica busca contar a história de uma das expoentes maiores da música moderna latino-americana a partir do depoimento de dezenas de músicos que tomaram parte no movimento

Na década de 1960, Mercedes Sosa, em parceria com outros músicos argentinos, escreveu o Manifesto da Nueva Cancion, texto considerado hoje uma das obras fundamentais da cultura latino-americana contemporânea.  No Manifesto, aqueles músicos elaboravam um programa musical em defesa dos ritmos populares de seus países, e defendiam uma música política, de protesto, vinculada à luta dos povos do continente contra as ditaduras militares latino-americanas. Aquela proposta, em um curto período de tempo popularizou-se em um amplo movimento musical internacional que manifestou-se na Argentina, em Cuba, no Brasil, Chile, Venezuela, Colômbia, Uruguai e Peru, entre outros.

Mercedes Sosa foi um dos expoentes, dentro e fora da Argentina, desse enorme movimento internacional da nova música latino-americana, o mesmo movimento que levou ao surgimento da MPB no Brasil.

É essa história pessoal da cantora, associada ao movimento musical mais amplo que acontecia, que pretende contar o documentário La voz de Latinoamerica, que está agora em fase de pós-produção, tem estreia programada para o segundo semestre de 2013.
O documentário é dirigido pelo cineasta Rodrigo Vila, em parceria com o único filho de Mercedes, Fabian Matus.

O documentário conta toda a trajetória de Mercedes Sosa a partir de imagens documentais e entrevistas com dezenas de artistas que foram próximos da cantora, que foram influenciados por ela ou que tomaram parte naquele movimento. Entre os cantores que dão depoimentos sobre Sosa, estão Joan Baez, Chico Buarque, Julio Bocca, Simon Peres, Daniel Baremboin, David Byrne, Caetano Veloso, Sting e Shakira, entre outros.

Sobre o filme, comentou Fabian Matus: “Mercedes Sosa é minha mãe e será sempre a cantora de todos. Foi a militante e a artista; e ao mesmo tempo a que acariciava minha cabeça e meus sonhos, a que acompanhava meus medos, a que alimentou minha fantasia, a que estimulou meu trabalho. Essas duas mulheres, a pública e a privada, a figura internacional e minha mãe da intimidade, estiveram sempre juntas. É desse lugar privilegiado, pessoal e afetivo, que eu tratei de contar essa história”.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Morreu o poeta peruano Antônio Cisneros

Membro da Geração de 1960, dos poetas latino-americanos, Cisneros foi um dos mais importantes nomes da literatura peruana das últimas décadas

No último sábado morreu o poeta peruano Antônio Cisneros, um dos nomes mais destacados da Geração de 1960 da poesia peruana, da qual também faziam parte nomes como Rodolfo Hinostroza e Javier Heraud, entre outros.

Cisneros estava com 69 anos e morreu vítima de um câncer de pulmão. Além de poeta, ele trabalhou também como professor e jornalista.

Nascido em 1942, ele cedo começou a escrever em verso e prosa. Sua poesia se caracterizava pela descrição, com grande lirismo e, por vezes, com notas humorísticas e irônicas, o cotidiano da vida da população de Lima. Seu primeiro livro de versos foi publicado ainda em seus tempos de estudante universitário, em 1961, Destierro, e já em 1962 publicou também David.

Ligado à esquerda universitária peruana e aluno da Pontifica Universidade Católica, Cisneros publicou na época um documento expressando sua simpatia e apoio à Revolução Cubana, iniciativa que iniciou um processo de perseguição política na Universidade e o levou a abandonar seu curso, matriculando-se em seguida na Universidade de São Marcos.

O poeta tornou-se nacionalmente conhecido no Peru, como um dos importantes expoentes da Geração de 1960, com o poema Canto ceremonial contra un oso hormiguero, de 1968, que lhe rendeu o Prêmio Casa de Las Americas.

Depois de concluir os estudos, e durante a ditadura peruana, ele mudou-se para a Inglaterra, durante o movimento cultural e intelectual do chamado swinging London, termo que caracteriza uma época de fermentação artística, na música, artes plásticas e no cinema londrino.

O período mais importante de sua atividade poética deu-se entre as décadas de 1960 e 1970, durante a crise política peruana que se desenvolve antes de depois do golpe militar de 1968.
A obra de Cisneros combinava temas políticos e cotidianos, sempre ligado ao movimento de esquerda.

Depois da reabertura política, em 1975, Cisneros afastou-se da esquerda peruana, converteu-se ao catolicismo e tornou-se um dos poetas oficiais do país, acumulando dezenas de prêmios, medalhas e cargos honoríficos nas quatro décadas seguintes. Sua nova crença religiosa iria aparecer em seus livros seguintes, como no El Libro de Dios y de los húngaros, de 1978.

Depois da reabertura ele atuou principalmente como jornalista cultural, em jornais como o semanário Marka, em 1976; o jornal satírico Monos e Monadas, em 1978, e os suplementos literários El Caballo Rojo, em 1980; 30 días, em 1984; ou , em 1987.

Cisneros foi ainda professor, lecionando em universidades na Inglaterra e na França. Seu câncer foi diagnosticado no final do ano passado e a doença evoluiu rapidamente desde então. O escritor foi enterrado no domingo em Lima, sua cidade natal.

domingo, 7 de outubro de 2012

Lançado nessa semana novo livro sobre Vladimir Herzog

Além de reconstituir as circunstâncias em torno do assassinato do jornalista pela ditadura militar, a biografia resgata um episódio obscuro de sua infância, quando a família Herzog atravessou a Europa fugindo do nazismo


Ocorreu na última quinta-feira (3) o lançamento da biografia As duas guerras de Vlado Herzog, escrita pelo jornalista Audálio Dantas, que na ocasião da morte de Herzog era o presidente do Sindicato dos Jornalistas.


O objetivo do autor era escrever uma reportagem reconstituindo as circunstâncias e o momento político em que Herzog foi assassinado, trabalho que resultou na presente biografia.

O livro é dividido em duas partes distintas, destacando um outro aspecto da vida do jornalista praticamente desconhecido do grande público. Dantas volta à infância do jornalista e mostra a família Herzog, de origem iugoslava e judia, que durante a Segunda Guerra teve de fugir de sua cidade natal, Banja Luka, para a Itália, e de lá partiram para a América. Nem todos os membros da família, porém, puderam empreender juntos a fuga, e os que ficaram para trás acabaram exterminados nos campos de concentração. Essa teria sido a “primeira guerra” em que o futuro jornalista se envolvera ainda na infância. A “outra guerra” foi, obviamente, a ditadura militar brasileira.

A parte principal da biografia destaca justamente a atividade de Herzog durante a ditadura: “Este livro é a tentativa de reconstituição de um tempo ruim. Centrado nos tumultuados dias de outubro de 1975, quando a fúria dos agentes do lado mais escuro da ditadura militar golpeou a fundo a categoria dos jornalistas, ele mostra os acontecimentos do ponto de vista de quem os viveu intensamente. Eu, por exemplo, que não tenho dúvida de que aqueles foram os dias mais angustiantes da minha vida”.

Para contar essa história, apresentar um quadro vivo da atuação da ditadura no período e reconstituir a crise política da época, Audálio Dantas colheu depoimentos de mais de cinquenta jornalistas que também viveram processos de perseguição durante a ditadura e narraram suas experiências com o DOI-Codi.

Mais do que apenas narrar os fatos que levaram à morte de Herzog, Dantas busca em seu livro enfatizar o significado político e histórico que o acontecimento assumiu em meio a um enorme movimento de luta contra a ditadura.

Conforme Dantas comentou, “Vlado foi o 12º jornalista sequestrado naquele período. E denunciamos um a um, desde o primeiro. Claro que com ele foi mais grave, porque resultou em morte. No dia seguinte à notícia – quando ainda não havia sido divulgada a foto dele morto na prisão – emitimos nota responsabilizando o Estado pela morte. Dois pontos foram fundamentais para a repercussão dessa nota: o primeiro foi que a responsabilidade pela morte do preso que estava em poder das autoridades era, sim, do Estado, independentemente das circunstâncias dessa morte; o segundo foi que havia um convite para o velório do Vlado, o que não era comum. Na época, as pessoas que morriam vítimas de confrontos policiais, suicídio etc. eram enterradas sem barulho. Vlado foi a primeira vítima da ditadura a não ser enterrada em silêncio”.

sábado, 6 de outubro de 2012

Municipal paulista apresenta duas óperas alemãs em sua programação de outubro

Dando continuidade à sua temporada de óperas, o teatro traz um programa duplo este mês, apresentando ‘Violanta’, de Korngold e ‘Uma Tragédia Florentina’, de Zemlinsky

Cena de Violanta, da montagem que será encenada no Municipal.
Depois de ter levado ao palco em agosto uma montagem grandiosa ópera O crepúsculo dos deuses, do alemão Richard Wagner, o Teatro Municipal de São Paulo apresenta agora em outubro um programa duplo, trazendo outras duas óperas do repertório alemão. São elas, Violanta, concebida em 1916 pelo compositor Erich Wolfgang Korngold e Uma Tragédia Florentina, composta em 1917 por Alexander Von Zemlinsky.

A opção do Municipal poderia parecer inusitada, mas na realidade segue uma tradição, pois ambas as óperas vem sendo apresentadas juntas nas temporadas internacionais há décadas.
Isso se deve tanto pelo tempo reduzido de duração de cada uma delas – Violanta com cerca de 1h10 e Uma Tragédia Florentina com 50 minutos – quanto pelas afinidades que as duas obras possuem entre si e a proximidade musical Korngold e Zemlinsky, que eram contemporâneos e de origem austríaca.

Os dois espetáculos são ambientados na Itália renascentista (Violanta se passa na Veneza do século XV e Uma Tragédia Florentina na Florença do século XVI.) e apresentam um enredo superficialmente similar, com traições e triângulos amorosos ao centro da trama. Os heróis das duas peças têm inclusive o mesmo nome, Simone, que são, em ambas as histórias, maridos traídos.

Do ponto de vista do estilo das duas criações há também o fato de Korngold ter recebido grande influência musical de Zemlinsky, este último, 26 anos mais velho. Essa influência foi particularmente forte na juventude de Korngold, que foi aluno de Zemlinsky e concebeu Violanta quando tinha apenas 17 anos.

Por trás das similaridades, no entanto, há duas obras distintas, daí o interesse em apresentá-las juntas. Ao pé que Violanta é uma tragédia, Uma tragédia florentina é uma sátira social, de maneira que, juntas, fazem um vivo contraste e apresentam duas faces distintas da ópera do chamado neorromantismo alemão. 

Violanta 

Com um libreto original escrito pelo poeta austríaco Hans Müller, essa ópera é uma tragédia bastante tradicional, ao estilo do romantismo. Simone é um comandante militar da República de Veneza, marido da bela Violanta. Ele jurou vingança contra Alfonso, príncipe da República, após a irmã de Violanta, Nerina ter se suicidado depois de ter sido seduzida e desprezada pelo galanteador Alfonso. A ópera será a história da execução dessa vingança.
Violanta, para vingar-se, elabora um plano para seduzir Alfonso, levá-lo aos seus aposentos durante a celebração do carnaval veneziano. Lá o príncipe seria morto por Simone, que estaria escondido no quarto. O plano, no entanto, sai do controle de sua idealizadora. Violanta apaixona-se por Alfonso e tenta então evitar que a vingança seja consumada. Ao final do espetáculo, porém, Simone descobre o romance, salta sobre Alfonso, mas acaba assassinando Violanta, que se coloca entre os dois. O desfecho da obra mostra a condenação moral da heroína, que se deixa levar pelas emoções passando por cima de seus deveres morais para com a irmã e o marido.

Uma tragédia florentina

O libreto de Uma tragédia florentina foi composto a partir de um conto homônimo do britânico Oscar Wilde. A ópera, apesar do que sugere o título, é na realidade uma sátira. Ela começa quando um rico comerciante florentino de tecidos, Simone, regressa de viagem e encontra, em casa, sua esposa, Bianca, com um desconhecido, que se apresenta como um cliente, príncipe Guido Bardi, filho do monarca de Florença. Bardi era na realidade amante de Bianca. Nas cenas seguintes a obra revela toda a subserviência do burguês ao aristocrata quando esse se mostra disposto a comprar tudo o que havia na casa, pinturas, tapetes, móveis e inclusive a esposa dele. Simone declina, diz que Bianca não era digna de um príncipe. A trama segue nesse ritmo até que o ingênuo Simone descobre o caso entre os dois e desafia Bardi para um duelo. No embate final entre eles, Simone desarma Bardi e o estrangula no chão. Bianca que torcia entusiasticamente, aos berros, para que Bardi matasse o marido, assim que vê a cena se coloca ao lado de Simone com declarações de amor calorosas. Simone também abraça calorosamente a mulher, apaixonado. A peça expõe ao ridículo a hipocrisia das relações amorosas burguesas e o interesse social que reside por trás das aparências.

A montagem do Municipal

A montagem de Violanta e Uma tragédia florentina que chega agora no Municipal foram dirigidas pelo dramaturgo Felipe Hirsch e seus colaboradores, Daniela Thomas e Felipe Tassara. O mesmo grupo já dirigiu a montagem de duas outras óperas apresentadas no Municipal, O Castelo do Barba Azul (2006) e Rigoletto (2011). A música do espetáculo ficará a cargo da Orquestra Sinfônica Municipal, (com participação do Coral Lírico em Violanta) e sob a regência de Luís Gustavo Petri, que também assina a direção musical.
As óperas serão apresentadas juntas ao longo do mês de outubro, nos dias 12, 13, 16, 18, 20 e 21.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Mostra celebra centenário da morte de August Strindberg

 
O ciclo apresenta leituras dramáticas e adaptações das peças do dramaturgo sueco, além de espetáculos livremente baseados em sua biografia
Este ano se completa o centenário da morte do escritor sueco August Strindberg, romancista e dramaturgo, morto em maio de 1912.

Marcando a data, começa esse mês e se estende até novembro uma mostra teatral que leva aos palcos paulistas espetáculos inspirados pela vida e obra do dramaturgo.

Na mostra serão apresentadas quatro adaptações de peças de Strindberg, os dramas Dança da morte e Credores, a comédia Brincando com fogo, e a peça curta A mais forte.

Além dessas peças, estão presentes outros trabalhos inspirados na própria biografia do escritor. O Livro da Grande Desordem e da Infinita Coerência é uma peça performática criada a partir de fragmentos da peça Um sonho, e do romance autobriográfico Inferno de August Strindberg.

A noite das tríbades é uma adaptação inédita no Brasil do texto do dramaturgo Per Olov Enquist, sobre a vida e a obra de Strindberg, apresentadas a partir de um diálogo entre o escritor e sua esposa em um teatro abandonado enquanto tentam ensaiar a peça A mais forte.

O espetáculo Strindbergman é uma produção francesa que busca estabelecer uma aproximação entre o teatro de Strindberg e o cinema de Ingmar Bergman, ambos suecos. A peça une a encenação de A mais forte com imagens do filme Persona, de Bergman.
Outros eventos que terão lugar na mostra é a leitura dramática das peças O sonho e Dança da morte, e a realização de ensaios abertos da peça Credores.

Breve retrato de Strindberg

August Strindberg foi um dos mais importantes dramaturgos do final do século XIX, iniciador do teatro moderno na Suécia com sua peça de estreia, Mestre Olof, de 1872. Seu período criativo mais importante deu-se no final da década de 1880, após ele atravessar uma série de crises pessoais, período em que concebeu suas obras-primas, O pai, Senhorita Júlia e Os credores, que retratam conflitos amorosos. Os trabalhos de Strindberg, extremamente renovadores da linguagem teatral, mesclam uma linguagem naturalista com a imersão na subjetividade das personagens, obras consideradas precursoras do teatro expressionista. No final da vida, após um colapso nervoso, Strindberg iniciou uma fase que se aproxima do simbolismo, com criando peças como Sonho e Dança da morte.

Veja aqui a programação completa da mostra, que será apresentada em diferentes Sescs de São Paulo.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Octávio Gelino e o cinema militante da década de 1960

O cineasta e pesquisador argentino Octávio Gelino morreu na última segunda feira. Diretor da obra-prima ‘A hora dos fornos’, seu maior legado foi a formação de uma vanguarda cinematográfica militante no final da década de 1960

Passou praticamente em branco entre os jornais da imprensa burguesa a notícia da morte do importante cineasta argentino Octávio Gelino, que, ao lado de Fernando Solanas, concebeu o documentário A hora dos fornos, uma das obras-primas do cinema político latino-americano e mundial.

Gelino estava com 77 anos e faleceu na última segunda-feira (1/10) em Buenos Aires, vítima de um câncer.

Nascido em 1935, na Espanha, a família de
Gelino emigrou para a Argentina na década de 1950. Após o golpe militar em 1966, Octávio Gelino ao lado de Fernando Solanas se envolveram nas filmagens clandestinas de um longo documentário que viria a se tornar o filme La hora de los hornos (no Brasil, A hora dos fornos).

O longa-metragem, que defendia a luta armada contra das ditaduras militares latino-americanas, foi exibido pela primeira vez em 1968, no Festival de Pesaro, na Itália, e obteve uma enorme repercussão em um momento em que a população de diversos países se levantava contra a ofensiva direitista do imperialismo. Nos Estados Unidos as mobilizações se deram contra a Guerra do Vietnã; na Europa, em diferentes países, como a Itália e Alemanha Ocidental, grupos revolucionários surgiram em luta contra os governos de direita. Na América Latina, foi um momento também de intensa atividade política contra as ditaduras militares. Nesse sentido, A hora dos fornos surgia como um manifesto contundente em defesa da luta anti-imperialista no mundo, uma expressão intelectual importante daquele enorme movimento político internacional.

Juntamente com o documentário, os cineastas lançaram na ocasião o Manifesto por um terceiro cinema, que se tornou extremamente popular, se posicionando contra o cinema comercial e afirmando a necessidade de uma posição ativa de luta contra o imperialismo. No texto eles afirmavam: “Toda a tentativa de contestação, mesmo violenta, que não sirva para mobilizar, agitar, politizar de qualquer maneira as camadas do povo, para armá-las racional e sensivelmente para a luta, longe de incomodar o sistema é por este aceito com indiferença, chegando, por vezes, a convir-lhe. A virulência, o não-conformismo, a simples revolta, a insatisfação, são produtos que se adéquam ao mercado de compra e venda capitalista, são objetos de consumo”.

Dito isso, eles elaboravam uma tese sobre a forma como o cinema era controlado pelo imperialismo através de modelos formais: “O modelo da obra de arte perfeita, do filme perfeito, executado segundo as regras impostas pela cultura burguesa, pelos seus teóricos e críticos, serviu, nos países dependentes, para inibir o cineasta, sobretudo quando ele quis adaptar modelos idênticos a uma realidade que não lhe oferecia nem a cultura, nem a técnica, nem os elementos mais sumários para aí chegar. A cultura da metrópole guardava os segredos milenários que tinham dado origem aos seus modelos. A transposição destes para a realidade neocolonial revelou-se um mecanismo de alienação, uma vez que o artista do país dependente não podia assimilar, em alguns anos, os segredos de uma cultura e de uma sociedade elaboradas durante séculos, através de circunstâncias históricas completamente diferentes”.

Depois de analisarem o que seria o primeiro cinema, que seguia os modelos de Hollywood, e o segundo cinema, ligado ao movimento de ruptura do cinema autoral; eles teorizam sobre o terceiro cinema, que seria o cinema militante: “O Terceiro Cinema (não confundir com o cinema do Terceiro Mundo) é o cinema de agitação política. É o cinema militante de luta anticapitalista e anti-imperialista. Corresponde ao período histórico da descolonização e da luta armada contra o imperialismo. Será um cinema completamente liberto dos modelos estéticos de Hollywood e das vanguardas artísticas burguesas, a maior parte das vezes exibido em circuitos paralelos ou mesmo clandestinos. É um cinema sem normas estéticas ou técnicas, em vias de formação não só nos países da América Latina, da África e da Ásia, mas também nos países europeus, em que os cineastas revolucionários e o movimento popular organizado lutam pela transformação da sociedade e pela construção do socialismo.

Juntamente com o manifesto e A hora dos fornos, que era o exemplo prático daquelas ideias, Getino e Solanas fundaram um grupo internacional de cinema militante, o Grupo Cine Liberação, cuja proposta era criar um movimento que passasse por fora dos circuitos tradicionais do cinema comercial, amparando-se nos sindicatos, universidades, associações de bairro e organizações próprias do movimento operário e popular para a veiculação das obras.

A hora dos fornos
, como se pode imaginar, foi criado de uma forma totalmente independente, com baixíssimo custo de produção e uma equipe reduzida, que às vezes se resumia apenas a Getino e Solana, portando apenas uma câmera e um gravador.

Em 1969, em parceria com outros realizadores, Getino produziu outro documentário militante, Los caminos de la liberación.

Getino era adepto do peronismo, movimento nacionalista burguês de orientação democrática, e foi autor, nos momentos finais da ditadura, de dois documentários em defesa de Péron. Eram eles Perón: La revolución justicialista e Perón: Actualización política y doctrinaria para la toma del poder, ambos lançados em 1971.

Quando há a reabertura e Perón ascende à presidência, Getino ingressa também no governo, nomeado ao posto de chefe da censura cinematográfica. Uma das decisões dele foi liberar todos os filmes anteriormente proibidos pela ditadura.

Com a derrubada do governo peronista em 1973, com o novo golpe militar, Getino parte para o exílio. Vive no Peru e posteriormente no México. Nesses anos ele redireciona o sentido de sua atividade e se volta à pesquisa das condições econômicas e sociais do cinema latino-americano.

Com a queda da ditadura argentina, Getino retorna ao país, onde assume a direção do Instituto Nacional de Cinematografia, participando de filmes e publicando livros teóricos sobre temas técnicos de cinema, ligados a problemas econômicos e às novas tecnologias.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Ciclo de documentários destaca a crise política brasileira no século XX

Os documentários acompanham a história nacional em suas sucessivas crises a partir da biografia de presidentes e líderes políticos de cada período, tais como Luís Carlos Prestes, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitscheck, João Goulart e Lula, entre outros
O ex-presidente brasileiro João Goulart.
Começa hoje em São Paulo, na Cinemateca Brasileira, um ciclo de documentários políticos, que narram acontecimentos representativos da história brasileira do século XX. A mostra inclui ainda documentários internacionais e obras ficcionais.
O que quase todos eles têm em comum é girar em torno da biografia de determinadas personalidades políticas, tais como Luís Carlos Prestes, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitscheck, João Goulart e Lula.
Sobre questões internacionais há o documentário Videogramas de uma revolução; destacando a revolução na Romênia em 1989; outra produção, Viva Zapatero! narra um famoso caso de censura ocorrido na Itália durante o governo Berlusconi, no início da década de 2000; e um filme ficcional, A comédia do poder, de Claude Chabrol baseado em um escândalo de corrupção recente na França.
Obviamente que os documentários apresentam a história de um ponto de vista burguês, e seu valor reside nos materiais raros de arquivo que apresentam, a partir de imagens da época e o relato dos envolvidos.
Getúlio Vargas, da cineasta Ana Carolina, narra a trajetória política de Vargas, desde sua participação na Revolução de 1930, passando pelo Estado Novo, e seu segundo governo, de orientação nacionalista que culmina com seu suicídio. A produção narra os fatos a partir de fotografias raras e imagens de telejornais da época.
Seguem um formato similar os documentários Os anos JK: uma trajetória política, do documentarista Silvio Tendler, e Jango, do mesmo diretor. Ambos narram a crise política brasileira das décadas de 1950 e 1960 a partir da biografia dos presidentes.
Céu aberto, de João Batista de Andrade, tem como tema a crise final da ditadura militar, com o movimento pelas Diretas Já. Os fatos são narrados a partir do ponto de vista dos políticos burgueses que tomaram parte no movimento, como Fernando Henrique Cardoso e Ulysses Guimarães. O filme apresenta também depoimentos de figuras do próprio regime militar, como o General Newton Cruz, que liderou a violenta repressão da ditadura contra o movimento das Diretas em Brasília.
Sobre o momento final da ditadura há ainda o documentário Linha de montagem, que retrata o movimento grevista de São Bernardo do Campo, mostrando a atuação da burocracia lulista à frente do movimento para acabar com as greves.
Sobre Lula há ainda o documentário Entreatos, de João Moreira Salles, mostrando o PT vinte anos depois de Linha de montagem, já perfeitamente adaptado à política burguesa. O filme mostra os bastidores da campanha presidencial que levou Lula ao poder em 2002.
Além dos documentários, outras produções ficcionais analisam também determinadas crises da política nacional.
O filme O desafio, dirigido por Paulo César Saraceni, se propõe a apresentar a desmoralização de determinados setores da pequena burguesia de esquerda diante do golpe militar em 1964, e a onda repressiva que se seguiu a ele.
Outra produção presente na mostra é Terra em transe, de Glauber Rocha, que apresenta uma alegoria política da crise brasileira na década de 1960, a partir das disputas de poder entre diferentes personagens que vivem na cidade imaginária de Eldorado.
Há ainda na mostra o ficcional Lula, filho do Brasil, de Fabio Barreto, feito por encomenda do PT para exaltar o ex-presidente. Obra presente na mostra pela óbvia vinculação política da Cinemateca ao atual governo Dilma.
Essa mostra, Ciclo lideranças políticas e cinema, que tem a abertura hoje, estará em exibição até o dia 18 de outubro. Veja abaixo a programação completa.

Programação:

3/10 – Quarta-feira
Sala Cinemateca BNDES
18h30 Getúlio Vargas
20h30 Apresentação de Vera Chaia e Telmo Estevinho | Vocação do Poder

4/10 - Quinta-feira
Sala Cinemateca Petrobras
19h30 O velho

5/10 - Sexta-feira
Sala Cinemateca Petrobras
19h00 Os anos JK
21h00 Viva Zapatero!

6/10 - Sábado
Sala Cinemateca Petrobras
16h00 O desafio
19h00 Videogramas de uma revolução

7/10 - Domingo
Sala Cinemateca Petrobras
16h30 A comédia do poder
20h30 Entreatos

10/10 - Quarta-feira
Sala Cinemateca Petrobras
20h30 Céu aberto

11/10 - Quinta-feira
Sala Cinemateca BNDES
19h30 Entreatos

12/10 - Sexta-feira
Sala Cinemateca Petrobras
16h00 Vocação do poder

13/10 - Sábado
Sala Cinemateca Petrobras
16h00 Jango
19h00 Terra em transe

14/10 - Domingo
Sala Cinemateca Petrobras
16h30 Linha de montagem
18h30 Lula, o filho do Brasil
21h00 Os Anos JK

17/10 - Quarta-feira
Sala Cinemateca Petrobras
19h00 Getúlio Vargas
20h30 Lula, o filho do Brasil

18/10 - Quinta-feira
Sala Cinemateca Petrobras
20h00 Linha de montagem

terça-feira, 2 de outubro de 2012

7ª Mostra Paulista de Cinema Nordestino

A mostra traz 20 produções recentes do cinema nordestino, que serão apresentadas tanto na capital paulista quanto em outras 26 cidades do estado
Começou na última semana, na capital paulista e outras cidades do interior do estado, a 7ª edição da Mostra Paulista de Cinema Nordestino, que leva ao sudeste as principais produções recentes do movimento cinematográfico do Nordeste.
Em função do aniversário do centenário do escritor baiano Jorge Amado e do músico pernambucano Luiz Gonzaga, que se completam em 2012, a mostra traz como destaques duas produções relacionadas aos artistas.
Uma delas é o filme Capitães de Areia, baseada no romance homônimo de Jorge Amado e dirigido pela neta do escritor, Cecília Amado.
A outra produção é o documentário O homem que engarrafava núvens, dirigido por Lírio Ferreira e que conta, a partir dos depoimentos de dezenas de cantores, a vida e a importância da obra de Luiz Gonzaga.
Essa 7ª edição da mostra traz um total de 20 filmes, sendo 2 longas-metragens, 13 curtas e médias-metragens adultos e outros 5 curtas infantis.
Entre os médias-metragens destaca-se a animação Morte e Vida Severina, adaptado do romance homônimo de João Cabral de Melo Neto, e dirigido por Afonso Serpa.
Merece destaque também outra animação, Vida Maria, dirigida por Márcio Ramos. Com apenas oito minutos de duração, o curta apresenta um recorte da vida de uma jovem moradora do sertão. O filme já foi premiado nos festivais de que participou.
Além da capital paulista, a mostra será apresentada também nas cidades de Americana, Araçatuba, Araras, Bauru, Botucatu, Campinas, Cotia, Cruzeiro, Cubatão, Indaiatuba, Itú, Jacareí, Jaú, Jundiaí, Limeira, Matão, Mogi Guaçu, Ourinhos, Presidente Prudente, Santa Bárbara D’Oeste, São Carlos, Sertãozinho, Tatuí, Taubaté e Votorantim.
Para mais informações, sobre os filmes que participam, os horários e locais acesse o blog da mostra: http://mostracinepaulistane.blogspot.com.br/

‘Castro Alves pede passagem’ ganha nova montagem nos palcos paulistas

Montada a partir do texto de Gianfrancesco Guarnieri, a peça reconta a história de Castro Alves e leva ao palco as personagens que povoam a obra do ‘poeta dos escravos’

Em 1971, ano do centenário da morte do poeta baiano Castro Alves, o dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri lançava nos palcos sua peça Castro Alves pede passagem. O objetivo do dramaturgo era tornar mais acessível o legado do grande poeta do período final do romantismo brasileiro, que fez de sua obra uma arma de luta em defesa da causa abolicionista, motivo pelo qual Castro Alves se tornou conhecido como o “poeta dos escravos”.
Em uma linguagem direta e acessível, Guarnieri recontava os momentos principais da vida do poeta. Desde sua adesão, na adolescência aos ideais abolicionistas e republicanos; sua relação com a popular atriz portuguesa Eugênia Câmara; a estreia de Castro Alves como poeta na década de 1860 e os anos de militância em defesa da causa abolicionista, publicando seus textos na imprensa, até sua morte precoce, em 1871, aos 24 anos.
A nova montagem é encenada pela Companhia das Artes, com direção de Jair Aguiar. A peça foi montada a partir de uma sucessão de flashbacks, em que ganham vida no palco as figuras que povoam a obra do escritor, com seus escravos, republicanos, e o próprio poeta e suas mulheres.
O espetáculo não utiliza grandes recursos de cenários ou figurinos, privilegiando o trabalho do ator.
Castro Alves pede passagem permanecerá em temporada até 21 de outubro, em São Paulo. Ela está em cartaz no Teatro Coletivo, localizado na Rua da Consolação, 1623. O espetáculo acontece às 19hs aos sábados e às 18hs aos domingos. 
O poeta 
Castro Alves foi o representante maior da última fase do Romantismo brasileiro, já repleta de influências do Realismo. Sua obra foi toda vinculada aos problemas sociais mais graves de seu tempo. O tema mais recorrente em sua obra é luta do escravo por sua liberdade, que na obra do poeta toma as proporções de uma aventura épica pela libertação humana.
Graças à grande sensibilidade de Castro Alves, ele deu dignidade literária ao escravo, o que era um fato ainda inédito nas letras brasileiras. Antes de Castro Alves, o negro raramente comparecia na literatura brasileira, em passagens sem grande brilho.
Se Fagundes Varela foi o primeiro grande poeta a falar da questão do sofrimento dos negros, Castro Alves foi muito mais longe, fez dos escravos um de seus temas centrais, cantou sua desgraça, e percebeu não apenas a dor desses oprimidos, mas também sua glória e a grandeza de sua luta, tendo sido também Castro Alves o primeiro poeta a cantar a luta dos Palmares.
Castro Alves foi poeta revolucionário, declamatório, panfletário, autor, de uma das obras mais belas e poderosas da literatura nacional. Ele não foi somente o poeta dos escravos, mas o poeta da revolução brasileira desse período, seus poemas sociais, sobre negros ou brancos, são numerosos e constituem a melhor parte de sua obra. Sua poesia floresceu em um dos momentos mais agudos da crise política brasileira, quando milhares de ativistas lutavam pela derrubada da monarquia e pelo fim da escravidão, o pior dos flagelos brasileiros.