A mostra reunirá mais de uma centena de trabalhos da artista,
desde sua fase concretista, na década de 1950, até seus trabalhos mais
radicais vinculados à psicanálise e às experiências sensoriais e de
interação com o público
Uma das esculturas da série Bichos, de Lygia Clark. |
A partir
de 1º de setembro, estreia em São Paulo uma das maiores exposições
realizadas nos últimos anos com a obra da artista plástica Lygia Clark,
suja atividade esteve vinculada nas décadas de 1950 e 1960 com o
concretismo e o neoconcretismo.
A mostra reúne um total de 140 trabalhos, entre pinturas, desenhos, esculturas e outros objetos produzidos pela artista.
Os primeiros trabalhos presentes na
mostra são quadros do início da década de 1950, que mostram que a
artista, antes de aderir ao movimento concretista flertava com o cubismo
e outras tendências figurativas que já tendiam fortemente à abstração.
Esse caminho a leva a realização de obras já totalmente abstratas e
geométricas como Composição, de 1953, ou Ovo-estudo, de 1958, produto de sua adesão às teorias racionalistas e ao concretismo internacional.
A ruptura de sua obra nesse caminho se
daria em 1959, quando é fundado o movimento neoconcreto, inaugurado
oficialmente com a Primeira Exposição Neoconcreta, no Rio de Janeiro,
lançada juntamente com o manifesto do grupo.
O neoconcretismo surgia como parte do
movimento de radicalização geral da sociedade brasileira no período, com
a crise que emerge no final do governo de Juscelino Kubitschek e que
levaria sucessivamente Jânio Quadros e João Goulart ao poder. Período
revolucionário da história brasileira que se encerra abruptamente com o
Golpe, em 1964.
O desenvolvimento do neoconcretismo
acompanhava uma tendência geral do movimento cultural brasileiro que
rompia então com a cultura típica da década de 1950. À bossa nova, se
sucedeu a formação da MPB, com suas músicas políticas; e ao extremo
formalismo e racionalismo do movimento concretista, sucederam-se
tendências artísticas de maior radicalismo político, reivindicando uma
retomada da subjetividade como método de criação artística. Além
do neoconcretismo, como parte dessa mesma tendência geral seria também
formado em 1965, o Grupo Surrealista de São Paulo, o primeiro grupo
organizado do surrealismo no Brasil.
Lygia Clark, ao lado de Lygia Pape,
Ferreira Gullar, Amílcar de Castro e Fanz Weissman, seria uma das
figuras de maior destaque no grupo neoconcreto.
Os trabalhos da artista a partir dessa
data tendem então cada vez mais à subjetividade e recorre a experiências
sinestésicas em arte, criando objetos para serem tocados, cheirados,
etc. A busca principal de Lygia Clark nesse momento era produzir
trabalhos que pudessem interagir com o espectador, e não
serem simplesmente observados à distância, uma teoria que tinha
influência do movimento internacional da arte conceitual, que se
desenvolve também no mesmo período em diferentes países.
São dessa fase a maior parte dos trabalhos presentes na exposição, incluindo suas esculturas-moles e sua série Bichos. Estão também presentes na mostra obras inéditas da artista relacionadas ao cinema e à arquitetura. Nessa área destaca-se sua Casa do poeta, de 1964, um projeto de residência com paredes interiores móveis.
A exposição Lygia Clark: Uma retrospectiva é uma iniciativa da associação cultural O Mundo de Lygia Clark,
pertencente à família da artista, e estará em cartaz, a partir de 1º de
setembro, no Itaú Cultural, localizado na Avenida Paulista, 149. A
entrada é franca.
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