A 16 de agosto de 1938 morria, como viveu, um dos maiores músicos da
cultura norte-americana: na miséria e no anonimato
16 de agosto de 2012
16 de agosto de 2012
As
composições de Robert Johnson são características de um dos períodos
mais importantes da história da música negra norte-americana, entre as
décadas de 1920 e 30, quando, não
apenas o blues torna-se um gênero musical mais profissional, como
também o jazz, gênero nascido do blues, torna-se a música mais popular
dos Estados Unidos, com as big bands de swing. Esse jazz moderno conquista plateias de negros e brancos, por todo
o país e ajuda a fortalecer as tendências à luta do movimento negro
pelo fim da segregação racial no país. Johnson, músico de talento que
foi, nesse período viveu e morreu como um típico músico negro de sua
geração, pobre, anônimo e marginalizado.
Um
mito popular que cercou a vida do músico, divulgado pelos colegas de
Robert Johnson e reforçado por ele mesmo em sua música, foi o de que o bluesman,
ainda no início da carreira teria feito um pacto com o demônio, a
partir do qual ele teria adquirido suas habilidades musicais.
Segundo
conta esse mito, Johnson teria vendido sua alma na encruzilhada das
rodovias 61 e 49, em Clarksdale, no Mississippi. Seu violão teria sido
tomado pelo diabo, que mudou a afinação do instrumento, tornando-o mais
grave. Jonhson teria adquirido aí sua sonoridade característica e as
qualidades como letrista e compositor. A história, difundida de boca a
boca a até ser registrada nas biografias do músico, foi relatada também
nas composições de Johnson como Crossroads Blues, Me And The Devil Blues e Hellhound On My Trail.
Robert
Johnson nasceu no Mississipi, na cidade de Hazlehurst. O ano de seu
nascimento é incerto, variando entre 1909 e 1912. Ele viveu uma infância
comum a toda população pobre e negra da região, frequentou a escola
entre 1924 e 27, e se tornou um jovem relativamente bem educado para sua
condição social. Seu primeiro instrumento musical foi uma gaita, que
tocava desde muito jovem, e com a qual começou a compor seus blues.
Johnson
tinha por volta de 16 anos quando casou-se pela primeira vez, com
Virginia Travis, que morreu meses depois, durante o parto. Johnson nessa
época era já mal visto por muitos na comunidade devido às músicas que
tocava e ao boato que já existia sobre ele ter vendido sua alma ao
diabo. A morte da esposa de Johnson apenas reforçou sua fama como alguém
cuja vida fora amaldiçoada.
Foi
por volta de 1929 que o jovem músico conheceu um bluesman de
importância em sua geração, Son House, que se mudara naquele momento
para Robinsonville. Foi House, que mais tarde se lembraria de Johnson
como um gaitista de talento, mas um péssimo violonista, quem ensinou ao
jovem uma técnica apropriada de tocar o violão, instrumento no qual
Johnson passou a se dedicar com maior seriedade a partir daí.
Depois de algumas viagens, e de ter adquirido novas
habilidades com o músico Isaiah “Ike” Zimmerman, Johnson retornou em
1931 a Robinsonville tocando seu violão de uma forma já irreconhecível,
descrito por seus contemporâneos como um grande virtuoso do blues.
Foram
músicos como Son House e Ike Zimmerman alguns dos muitos colegas de
Johnson a reforçar a fama do músico como alguém que teria vendido sua
alma ao diabo para adquirir habilidades musicais sobrenaturais.
Johnson
tem um segundo casamento, mas se separa poucos meses mais tarde, no
início de 1932. Essa data marca o início do período mais significativo
da vida do músico, que, entre 1932 e 1938, passa a viver como músico
itinerante, residindo por curtos períodos em diferentes cidades no
Tennessee, Arkansas, e no Delta do Mississipi.
Ele
viajou nesse período por todo o país, de leste a oeste, e de norte a
sul do País. Nessa vida errante, Johnson envolveu-se em muitas brigas,
fez muitas dívidas e viveu com diferentes mulheres, algumas delas
casadas. Sabe-se hoje que, em função desses problemas, ele chegou a usar
pelo menos oito sobrenomes diferentes no período, o que confirma que o
músico viveu praticamente no anonimato, viajando de cidade em cidade
como um desconhecido em busca de oportunidades de trabalho nos bares
noturnos.
A
morte inesperada de Johnson se deu em torno de problemas dessa
natureza, antes dele completar 30 anos. Em agosto de 1938, quando se
apresentava no bar Tree Forks, o músico tomou uma dose de uísque
envenenado (algumas versões sugerem ter sido stricnina), preparado,
supostamente, pelo dono do bar, pelo fato de Johnson ter flertado com a
esposa dele.
Não
se sabe ao certo se Johnson morreu em função do envenenamento ou de
sequelas decorrentes dele, o certo é que o músico morreu três dias mais
tarde, em grande agonia.
Todo
o legado musical de Robert Johnson se resume a 29 músicas gravadas em
duas sessões em estúdios no Texas. A primeira delas realizada em
novembro de 1936, em San Antonio, e a segunda, em junho de 1937, em
Dallas.
Apesar
dessa produção reduzidíssima, Johnson nas décadas seguintes se tornou
uma das figuras mais populares e influentes da história do blues, que na
década de 1930 viveu um de seus períodos de maior florescimento.
Johnson é um dos grandes nomes do chamado Delta blues. Suas músicas
influenciaram e já ganharam versões, tanto de outros músicos de blues
como de grupos de rock’n’roll, como The Rolling Stones, Led Zeppelin,
Eric Clapton e The Blues Brothers, entre outros. A importância e
influência que se atribui hoje a Robert Johnson, está intimamente ligada
à importância da música negra à cultura norte-americana.
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