sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Exposição traça panorama da fotografia britânica de 1930 aos dias de hoje

Fotografia de Tony Ray-Jones.
 Essa é a maior mostra sobre o movimento fotográfico britânico já realizada na América Latina, percorrendo 80 anos de fotografia no País
Estreou neste mês a exposição Observadores:  Fotógrafos da Cena Britânica desde 1930 até hoje, que é maior mostra sobre o movimento fotográfico britânico já realizada na América Latina, apresentando um recorte abrangente dos últimos 80 anos de desenvolvimento dessa arte no País.
A mostra foi organizada a partir do acervo das mais importantes instituições britânicas, vindas do museu TATE Gallery, da National Portrait Gallery, do British Council Collection, da Arts Council Art Collection e do Bolton Museum.

As fotografias selecionadas para essa exposição brasileira são, sobretudo, documentais, retratando o cotidiano da vida inglesa ao longo do século, destacando assim a modernização das cidades, os avanços tecnológicos e momentos históricos representativos vividos pelo País, a partir do cotidiano, tanto da população em geral quanto da burguesia britânica.

Fotografia de Derek Ridgers.
A exposição inclui tanto fotógrafos britânicos quanto figuras representativas que viveram e fotografaram na Inglaterra, nomes, em sua maioria, desconhecidos no Brasil. Há trabalhos de Bill Brandt, Martin Parr, Wolfgang Tillman, Cecil Beaton, George Rodger, Richard Billingham, Derek Ridgers, Tony Ray-Jones, Daniel Meadows, Chris Killip, Paul Nash e Keith Arnatt.  
 Bill Brandt tem trabalhos na mostra ligados à fotografia documental, mas sua produção mais característica tem uma forte influência surrealista. É um fotógrafo que trabalha bastante com closes, a partir dos quais ele consegue efeitos visuais inusitados.

George Rodger é um fotógrafo bem caracteristicamente britânico, mais interessado pelo mundo colonial britânico do que pela metrópole propriamente. Durante a vida ele viajou o mundo diversas vezes, foi correspondente de guerra em conflitos nas colônias e fotografou dezenas de tribos africanas. Nessa função ele passou também pelo Iraque e a Birmânia, registrando, assim, uma parcela substancial dos países coloniais britânicos.

Derek Ridgers é um fotógrafo, sobretudo, de retratos. Suas modelos são as figuras do mundo underground londrino, como dragqueens, prostitutas, drogados, punks, góticos, skinheads e marginais de um modo geral, que ocupam parte significativa de sua produção.

Cecil Beaton é um fotógrafo mais convencional, que se notabilizou por seus belos retratos de personalidades do cinema. A mostra faz um contraste entre os trabalhos despojados e elegantes de Beaton e as fotografias urbanas da população pobre feitas por seus colegas.

Fotografia de George Rodger.
Tony Ray-Jones tem como especialidade as fotografias de cenas urbanas inusitadas, mas que mostram bem o modo de vida e a cultura britânica com todas as suas excentricidades.

Martin Parr é autor de um tipo de fotografia muito característica, caótica e de cores fortes. A preferência de Parr são fotografias de multidões em locais públicos, normalmente em momentos de lazer, em ele destaca frequentemente o bizarro que há na população e no modo de vida britânico. Suas fotos são sempre caóticas, com um excesso de elementos e de cores vibrantes. É um fotógrafo bastante interessante, que leva seu trabalho para um viés satírico.

Richard Billingham mais jovem, foi influenciado por Parr desenvolveu um trabalho bastante similar, sendo porém mais agressivo no retrato dos elementos grotescos da vida britânica.

Como esses fotógrafos há muitos outros presentes na exposição, que apresentam uma visão inusitada e interessante da cultura britânica no transcorrer do século. O título da mostra, Observadores, foi inspirado no famoso projeto Mass Observation, criado em 1937, pelo antropólogo britânico Tom Harrisson, em parceria com o poeta Charles Madge e com o cineasta Humphrey Jennings. Juntos eles elaboraram a proposta de examinar e documentar de forma quase científica o modo de vida da classe operária britânica, dado o enorme abismo que eles perceberam existir entre a ideia que se tinha dos britânicos e seu modo de vida real. O projeto buscava compreender melhor a mentalidade, os hábitos e costumes da população.

A exposição Observadores:  Fotógrafos da Cena Britânica desde 1930 até hoje, está em cartaz em São Paulo, no Centro Cultural Ruth Cardoso, localizado na Avenida Paulista, nº 1313.

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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Descobertas na Inglaterra obras inéditas de William Turner

As pinturas foram doadas ao Museu Nacional do País de Gales na década de 1950. Dadas como falsas após a realização de testes, as obras acabaram guardadas nos depósitos, e só recentemente foram resgatadas e sua autoria comprovada
The Beacon Light.
No início do século XX, as irmãs Gwendoline e Margaret Davies, montaram uma das grandes coleções de arte da Europa, voltada, particularmente, às obras do impressionismo francês, mas que agrupava obras de outros artistas cujas técnicas tinham familiaridades com a pintura impressionista, entre os quais o romântico britânico William Turner. Em 1951, ano que marcava o centenário da morte de Turner, elas doaram nove obras do artista ao acervo do Museu Nacional Cardiff, no País de Gales.

Margate Jetty.
Antes de serem expostas no museu, as obras foram submetidas a testes de autenticidade, cujo resultado indicava, para o espanto de todos, que três daqueles quadros teriam sido assinados por um falsário. Em função disso, essas telas acabaram nunca expostas, e foram guardadas nos galpões do museu, onde elas permaneceriam esquecidas durante os cinquenta anos seguintes.
Segundo conta a atual curadora do museu, Beth McIntyre, em 1956, quando os testes foram realizados, “Off Margate e Margate Jetty foram avaliadas como não sendo obras dele. The Beacon Light foi considerada uma obra que continha esboços iniciais rudimentares de Turner pintados por cima por outro artista, o que fez com que ela não fosse considerada uma obra de Turner”. Depois daqueles exames, conta McIntyre, a cada nova tecnologia de testes de autenticidade que surgia, as pinturas eram novamente levadas ao laboratório, mas os resultados invariavelmente indicavam falsificação. A questão parecia dada por encerrada.

Há dez anos, porém, McIntyre assumiu a curadoria do museu e tomou conhecimento das três obras: The Beacon Light, Off Margate e Margate Jetty. Impressionada com a beleza dos quadros, que pareciam legítimos Turners, ela resolveu investigar novamente a questão.

Desse modo, ao longo dessa última década foi realizada uma nova investigação utilizando métodos mais modernos de testes, que combina análises de raio-x, luz infravermelha e exames de pigmento. Esses testes finais mostraram resultados conclusivos de que as três obras foram de fato pintadas pelo britânico William Turner.

Off Margate.
Depois de mais de meio século de dúvidas, esses três Turners foram expostos a público em uma mostra que estreou na última terça-feira, no Museu Nacional Cardiff. A exposição apresenta todos os Turners da coleção Davies doadas para o museu ao longo da década de 1950. São nove telas a óleo, entre os quais as três telas inéditas, e outras treze aquarelas do artista.

As obras são da fase mais característica do pintor, mostrando paisagens marinhas a partir de um tratamento quase abstrato dos pigmentos. Margate Jetty mostra um porto envolto em neblina ao amanhecer; Off Margate mostra um pequeno veleiro navegando na linha do horizonte a partir da vista da praia; e em The Beacon Light, o pintor procura registrar um curioso efeito de luz que rasga o céu em um dia nublado.

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sábado, 22 de setembro de 2012

Ex-prisioneiro de Pinochet lança livro relatando as torturas que sofreu

O livro de memórias é de autoria de Pedro Hidalgo, ex-ministro da Agricultura do governo Allende. Na obra ele narra sua experiência na prisão, as torturas a que foi submetido e a luta da família para encontrá-lo

Foi lançado essa semana no Brasil o livro de memórias Do fogo à luz: um encontro com a tortura, de autoria do chileno Pedro Hidalgo, ex-ministro da Agricultura no governo de Salvador Allende, deposto pelo golpe militar em 1973.

Em seu posto, Hidalgo foi autor da Reforma Agrária implementada pelo governo frentepopulista entre 1970 e 1973, sob a pressão das massas trabalhadoras do país.

A obra foi editada pelo Sindicato dos Engenheiros do Estado do Rio de Janeiro, e foi distribuída gratuitamente durante o lançamento ocorrido na sede carioca da Ordem dos Advogados do Brasil.
No livro, Hidalgo narra toda sua experiência com a ditadura. Desde o momento do golpe que derrubou o governo e resultou na prisão de boa parte dos políticos que integravam o governo Allende, passando pela sua estada nas prisões da ditadura, quando Hidalgo presenciou e foi ele mesmo submetido a várias sessões de tortura. Paralelamente, o ex-preso político conta também a luta da família para localizar seu paradeiro.

Chama a atenção no relato do ex-ministro, a violência com que a ditadura tratou uma figura política proeminente do governo anterior, o que revela a forma extraordinariamente bárbara que tomou a ditadura militar no Chile, uma das mais agressivas da América Latina.
Nascido ao norte do Chile, Hidalgo era militante do Partido Socialista. Na década de 1970, em uma época extremamente revolucionária, o país estava tomado por enormes movimentos grevistas. A burguesia organiza improvisadamente um governo de frente popular capaz de manobrar com as massas, tendo à frente Salvador Allende. Foi a convite de Allende que Hidalgo assumiu seu posto como ministro.

Ele foi preso em 1973 poucos dias após o golpe, por uma patrulha militar. Levado para o presídio de Chillán, ele foi submetido à tortura seguidamente durante uma semana. Hidalgo foi, depois disso, transferido para o presídio na Ilha Quiriquina, onde permaneceu dois meses encarcerado, sendo também aí torturado regularmente. Ele foi depois mandado de volta a Chillán, onde foi colocado em uma solitária e submetido a intensivas sessões de tortura durante 40 dias ininterruptamente. Esse é o ponto central do relato da obra, onde Hidalgo descreve também o tratamento dado por outros presos em Chillán.

Do fogo à luz: um encontro com a tortura é parte da iniciativa de setores da esquerda brasileira que atuam em favor da abertura dos arquivos da ditadura militar no Brasil e traz uma contribuição à denúncia das práticas bárbaras aplicadas pelos regimes militares no Continente – que atuaram segundo a cartilha do imperialismo norte-americano – entre as décadas de 1960 e 80.

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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Horror no cinema brasileiro

Neste mês de setembro, a Cinemateca paulista inaugura uma nova mostra regular apresentando algumas das obras mais representativas desse gênero obscuro do cinema nacional

Neste mês de setembro, a Cinemateca Brasileira irá inaugurar uma mostra regular de filmes ainda inédita em sua programação, reunindo, pela primeira vez, os filmes de um gênero ainda muito pouco desenvolvido no País: o cinema de horror.

A mostra Horror no Cinema Brasileiro apresentará a partir de agora em sessões mensais às sextas-feiras e sábados, e com reprises todas as quartas, produções pouco conhecidas, mas representativas desse gênero no cinema brasileiro.
Neste mês inaugural, a mostra apresentará três filmes bastante raros. São eles, O anjo da noite, de Walter Hugo Khouri; O sósia da morte, de João Ramiro Mello, e A reencarnação do sexo, de Luiz Castellini.

O anjo da noite é um filme obscuro da filmografia do cineasta paulista, mas é tido como um dos mais representativos e sofisticados filmes de horror brasileiros, obra que conquistou, em 1974, o Prêmio Especial do Júri na Mostra Internacional do Filme Fantástico e de Terror de Sitges, na Espanha.

O anjo da noite tem seu clima sombrio inspirado em grandes narrativas da literatura de terror e 
sua história é uma releitura de uma lenda urbana norte-americana. Ele se passa em uma mansão gótica, onde uma jovem babá, cuidando de duas crianças, passa a ser atormentada por misteriosos telefonemas mudos durante toda uma noite. Como se revela mais adiante no filme, as ligações antecipam da chegada de um assassino psicótico à mansão.

Já o filme A reencarnação do sexo, é um thriller de horror erótico na tradição dos filmes B. A ação começa quando um respeitável pai de família descobre que sua filha está tendo um caso com o caseiro e decide preparar uma emboscada para o rapaz, que é assassinado em um ritual macabro. A garota morre também pouco depois. Anos mais tarde, o pai começa a ser assombrado pelos fantasmas do casal. A história é inspirada em uma passagem do Decameron, de Giovanni Boccaccio. O filme é uma produção da Boca do Lixo, o movimento cinematográfico paulista da década de 1980.

Por fim, O sósia da morte, apresenta uma versão de horror do tema clássico do duplo maligno que assombra a vida do protagonista. No filme, um tranquilo professor começa a ser perseguido pelo seu duplo, que começa a passar cheques em seu nome e pretende assassiná-lo.
Os três filmes serão exibidos ao longo de um único final de semana, entre sexta e sábado, em seções realizadas de madrugada. Apenas O anjo da noite será reprisado durante a semana. Confira abaixo a programação.

21/9 – Sexta-feira
Sala Cinemateca BNDES
24h O anjo da noite

22/9 - Sábado
Sala Cinemateca BNDES
2h O sósia da morte
4h A reencarnação do sexo

26/9 - Quarta
Sala Cinemateca Petrobras
20h30 O anjo da noite

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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Museu do Prado disponibiliza online todo seu acervo das obras de Goya

A coleção mais importante das obras de Francisco de Goya no mundo está agora disponível para os internautas no site do museu, reunindo todas as obras representativas do artista
Três de Maio, uma das obras mais importantes do pintor espanhol, presente no acervo do Museu do Prado.
O Museu Nacional do Prado, mais importante museu espanhol, detentor de um dos acervos artísticos mais importantes do mundo está levando à diante um projeto de popularização das obras de seu acervo, digitalizando todos os trabalhos em alta resolução e disponibilizando-os em seu site na internet.

A primeira fase desse projeto foi concluída recentemente, e ela consistiu na digitalização de toda a obra do pintor Francisco de Goya presente no acervo do museu. É a reunião mais importante das obras do artista espanhol existente no mundo.
Todas as pinturas mais representativas de Goya estão na coleção do Museu do Prado, e daí a importância da iniciativa.

Os trabalhos estão divididos em quatro categorias, sendo elas Pinturas, Desenhos, Gravuras e Documentos.

Saturno devorando um filho.
O segmento dedicado às pinturas certamente é o mais importante. Nele estão presentes, por exemplo, as duas telas mais expressivas da obra do pintor, Dois de maio de 1808 ou a luta com os mamelucos e o Três de maio de 1808, ou os fuzilamentos de Madri, duas obras que retratam a violência da ocupação francesa à Espanha durante as guerras napoleônicas em dois momentos decisivos: a resistência aos franceses e o fuzilamento dos vencidos. Essa última, em particular, pela dramaticidade da cena, é tida como a maior das obras-primas de Goya.
Outro agrupo de pinturas importantes são as chamadas ‘pinturas negras’, dedicadas a temas violentos e sombrios, bastantes presentes na obra do artista. Entre elas destaca-se a perturbadora pintura mitológica Saturno devorando um filho, representando o titã grego que, ao saber que estava condenado a ser deposto por um de seus filhos, passa a devorá-los logo após o nascimento.

Outro trabalho representativo é O Grande Bode. Essa obra foi originalmente um mural feito por Goya para decorar uma das paredes de sua casa, a Quinta del Sordo. Pelo fato de não ser uma encomenda, a obra revela maior liberdade na escolha de temas e na execução das técnicas, revelando bem o potencial do pintor. A composição mostra um grupo de figuras pintadas com um aspecto animalizado, reunidas em torno de um grande bode negro, personificação do demônio. É um assunto tipicamente folclórico que interessava Goya, inspirado nas superstições religiosas dos camponeses espanhóis.

Mais tarde, o mural foi transposto para tela, não por Goya, como se poderia supor, mas por Salvador Martínez Cubells, por encomenda de um banqueiro belga, admirador de Goya. O capitalista pretendia vender a obra na Exposição Universal de Paris, de 1878, mas, sem conseguir um comprador, acabou doando a tela para o Museu do Prado. Posteriormente, o mural original se perdeu, e a tela de Cubells tornou-se o único registro desse trabalho.
Como essas pinturas há outras, como Dois velhos comendo, que chama a atenção pelas deformações expressivas das duas figuras monstruosas e cadavéricas, de trajes miseráveis, durante uma refeição. Uma obra tida como uma antecipação dos rumos futuros que tomaria a pintura durante o modernismo.

Os grupos pictóricos presentes no acervo do museu estão divididos em subcategorias. São eles: Assuntos históricos, Pintura Alegórica, Pintura Religiosa, Pinturas Negras, Pinturas de Gênero, Retrato, As Majas, Desenhos para Tapeçarias, e ainda outro grupo dedicado às Cópias, seguidores e imitadores de Goya.

Além das pinturas, outro destaque importante da coleção digitalizada pelo museu são as séries de gravuras de Goya, tão famosas quanto suas pinturas. Ao longo da vida, Goya executou cinco diferentes séries de gravuras, organizadas em torno de determinados temas. Os mais importantes entre eles são Tauromaquia, Caprichos e Desastres da Guerra.
Tauromaquia, como o título sugere, tem ao centro, a grande presença dos touros na cultura espanhola. A série mostra desde cenas de caça até as tradicionais touradas, em imagens que chamam atenção pela vivacidade das cenas.

Caprichos foi uma série proibida na Espanha monarquista. Ela apresentava um conjunto de imagens alucinatórias e caricatas que expunham toda a decadência da aristocracia espanhola, executada anos antes da queda da monarquia com a ocupação francesa.

Desastres da Guerra, por sua vez, era um retrato realista e violento das atrocidades que Goya presenciou durante a ocupação das tropas napoleônicas na Espanha. A série é toda ela uma crônica da guerra em imagens, um verdadeiro trabalho de reportagem realizado pelo artista. Há os cadáveres abandonados nas estradas, corpos torturados, dependurados nas árvores, cenas de estupros promovidos pelos soldados franceses, as execuções, os enfrentamentos entre a população desarmada e os soldados. O sadismo, as barbaridades e horrores de todos os tipos são revelados aí pelo pintor, em uma obra-prima antibelicista.

Essas e muitas outras obras podem agora ser conferidas na íntegra e em alta resolução no site do museu. Basta acessar o endereço www.museodelprado.es/goya-en-el-prado

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Retrospectiva aborda obra de Alain Resnais

Em cartaz em São Paulo, a mostra apresenta uma retrospectiva abrangente com os principais filmes da carreira do diretor, com destaque para seus documentários ‘autorais’ anteriores à sua fase ‘nouvelle vague’

Está em cartaz na Cinemateca Brasileira, na zona sul de São Paulo, uma mostra abrangente de filmes do cineasta francês Alain Resnais, que se notabilizou na década de 1950 associado ao movimento da nouvelle vague.

Ao longo de mais de cinco décadas de atividade, Renais ficou conhecido por seus filmes altamente subjetivos e experimentais, um cinema tipicamente “de autor”, que era uma das premissas da nouvelle vague.

Renais foi sempre um admirador dos movimentos vanguardistas em arte. Em 1951 produziu o documentário Guernica, a sobre o bombardeio à cidade espanhola e tomando como fio condutor do filme a obra-prima de Pablo Picasso.

Depois disso, já em sua fase nouvelle vague, Resnais realisou Hiroshima meu amor e O ano passado em Marienbad, filmes feitos em parceria com dois dos maiores nomes do noveau roman francês, Alain Robbe-Grillet e Marguerite Duras, que escreveram os roteiros.
Dessa maneira, já no início da década de 1960, Renais era tido como o mais vanguardista e hermético dos diretores da nova geração do cinema francês.

O interessante dessa mostra atualmente em cartaz na Cinemateca é conhecer justamente a produção, toda ela de documentários, de Resnais que antecede sua vinculação com a nouvelle vague. Tais filmes revelam que Resnais perseguia já um cinema autoral bem antes dos críticos da Cahiers du Cinéma teorizarem esses princípios. Como um cineasta mais velho do que Truffaut, Godard, Rohmer e outros, Resnais foi uma inspiração para os novos cineastas antes de vir a formar um movimento com eles, indicando, portanto, a tendência geral por onde seguiria o cinema francês nas décadas seguintes.

A produção mais antiga presente na mostra é justamente Guernica, que já traz essa marca “autoral” do cinema de Resnais. O filme não é uma narrativa convencional sobre a devastação da cidade pelo bombardeio fascista, mas um documentário poético, que se desenvolve todo a partir de uma narração dramática, que intercala imagens emocionalmente impactantes de diversas obras de Picasso produzidas durante as décadas de 1930 e 40.

Seguem essa mesma tendência os documentários seguintes do diretor. Noite e neblina, de 1955, que alterna imagens contemporâneas das instalações dos campos de concentração nazistas abandonados, com imagens do período da guerra, acompanhado também por uma narração poética.

Em O canto do estireno, de 1958, que retrata a fabricação do plástico na França, esses princípios são levados a um maior radicalismo, e a narração é toda feita em versos alexandrinos, compostos pelo escritor Raymond Queneau.

Depois desses filmes, Resnais ingressa na fase nouvelle vague e realiza seus dois longa-metragem ficcionais mais importantes, os já citados Hiroshima meu amor e O ano passado em Marienbad. Esse segundo filme, de 1961, é o mais radical da filmografia do diretor, que tem a virtude de colocar totalmente de lado as “necessidades comerciais” do cinema e realiza um filme indigesto para muitos espectadores, mas que constitui um experimento extremamente pertinente na época, usando para a forma narrativa do filme, o movimento literário mais avançado surgido no segundo pós-guerra mundialmente. O ano passado em Marienbad é um filme que poucos diretores teriam a coragem, a liberdade e o desprendimento necessário para fazer.
Resnais manteve esse estilo de cinema e essa influência do noveau roman também em seus filmes seguintes, entre os quais se destaca Muriel, de 1963, que também trata dos traumas da guerra, agora um homem que é assombrado pelas lembranças dos horrores que presenciou na Guerra da Argélia.

O tema dos traumas de guerra foi de fato durante muito tempo o tema principal dos filmes de Resnais, tema cujas técnicas expressivas que encontrou se aplicam perfeitamente, como pode se ver em A guerra acabou, de 1966, sobre um militante comunista espanhol que participou da Guerra Civil; e Loin du Vietnam, produção coletiva realizada como um protesto contra Guerra do Vietnã.

Muitos outros filmes de Resnais estão também presentes na mostra, adentrando em suas produções das décadas de 1970, 80 e 90. É uma boa oportunidade para se conhecer esse que é um dos criadores centrais do cinema francês da segunda metade do século. Confira abaixo a programação completa da mostra.

Programação:

12.09 – Quarta-feira
Sala Cinemateca Petrobras
18h30 Amores Parisienses
21h00 Loin du Vietnam

13.09 – Quinta-feira
Sala Cinemateca Petrobras
18h00 Smoking
20h30 Guernica | As Estátuas Também Morrem | Noite e Neblina | Toda A Memória Do Mundo | O Canto do Estireno

14.09 - Sexta-feira
Sala Cinemateca Petrobras
18h00 Pour Esteban González, González, Cuba | A Guerra Acabou
20h30 Loin du Vietnam

19.09 - Quarta-feira
Sala Cinemateca Petrobras
18h30 Meu Tio da América
20h30 Muriel

20.09 - Quinta-feira
Sala Cinemateca BNDES
18h30 Stavisky ou O Império de Alexandre
20h30 Pour Esteban González, González, Cuba | A Guerra Acabou

21.09 - Sexta-feira
Sala Cinemateca Petrobras
19h00 O Ano Passado em Marienbad
21h00 Meu Tio da América

22.09 - Sábado
Sala Cinemateca Petrobras
19h30 Pour Esteban González, González, Cuba | A Guerra Acabou

23.09 - Domingo
Sala Cinemateca Petrobras
15h00 Amores Parisienses
17h30 No Smoking
20h00 Smoking

Sinopses:

Guernica, de Alain Resnais e Robert Hessens
França, 1951, 35mm, pb, 13’ | Legendas em português
O bombardeamento de Guernica pela aviação nazista, em favor de Franco, é evocado através do afresco de Picasso e de outras de suas obras.

As estátuas também morrem (Les statues meurent aussi), de Alain Resnais e Chris Marker
França, 1953, 35mm, pb, 29’ | Legendas em português
Documentário sobre a arte negra, combinando imagens de estátuas africanas a um texto de Chris Marker que denuncia a opressão e a destruição de uma arte e de um povo por outro. Manifesto anti-colonialista, recebeu o Prêmio Jean Vigo de 1954.

Noite e neblina (Nuit et brouillard), de Alain Resnais
França, 1955, 35mm, cor/pb, 32’ | Legendas em português
Encomendado pelo Comitê de História da Segunda Guerra Mundial, o filme alterna as paisagens serenas e coloridas dos campos de concentração nazistas no presente a imagens de arquivo que retratam os horrores do passado.

Toda a memória do mundo (Toute la mémoire du monde), de Alain Resnais
França, 1956, 35mm, pb, 22’ | Legendas em português | Exibição em DVD
Num passeio pelos corredores da Biblioteca Nacional Francesa, o documentário discute a memória e o legado de nossa civilização.

O canto do estireno (Le chant du styrène), de Alain Resnais
França, 1958, 35mm, cor, 14’ | Legendas em português | Exibição em DVD
Documentário poético sobre a fabricação do plástico, aliando imagens do processo industrial filmadas em Cinemascope a uma narração em versos alexandrinos compostos pelo escritor francês Raymond Queneau, autor do romance Zazie no metrô.

Hiroshima meu amor (Hiroshima mon amour), de Alain Resnais
França/Japão, 1959, 35mm, pb, 90’ | Legendas em português
Emmanuelle Riva, Eiji Okada, Stella Dassas, Pierre Barbaud
Uma atriz francesa, em visita a Hiroshima devastada pela guerra para atuar num filme sobre a paz, se envolve com um arquiteto japonês que sobreviveu ao bombardeio. O romance a faz relembrar seu antigo amor por um soldado alemão que conheceu em Nevers, na França, no final da Segunda Guerra. Primeiro longa-metragem de Resnais, com roteiro da escritora e cineasta Marguerite Duras.

O ano passado em Marienbad (L'année dernière à Marienbad), de Alain Resnais
França/Itália, 1961, 35mm, pb, 94’ | Legendas em português
Delphine Seyrig, Giorgio Albertazzi, Sacha Pitoëff, Françoise Bertin
Num luxuoso hotel, um homem tenta fazer com que uma mulher se lembre do romance que supostamente tiveram um ano antes. Explorando a arquitetura do hotel, Resnais fez um de seus filmes mais impactantes. Com roteiro do escritor Alain Robbe-Grillet, O ano passado em Marienbad apresenta uma narrativa não-linear, permeada pelo mundo dos sonhos e pelos labirintos da memória. Marienbad é um marco da nouvelle vague. Recebeu o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1961 e indicação ao Oscar de melhor roteiro original em 1963.

Muriel (Muriel ou le temps d'un retour), de Alain Resnais
França/Itália, 1963, 35mm, cor, 116’ | Legendas em português
Delphine Seyring, Jean-Pierre Kérien, Nita Klein, Jean- Baptiste Thiérrée
Viúva reencontra um antigo amor da juventude e com isso consegue se livrar do tédio que parece contaminar sua existência. Enquanto isso, seu jovem enteado é assombrado por memórias de uma atrocidade que testemunhou durante a guerra da Argélia, quando uma jovem chamada Muriel foi torturada até a morte. Terceiro longa-metragem do diretor Alain Resnais, que novamente contou com a colaboração do escritor e roteirista Jean Cayrol, responsável pelo texto do curta-metragem Noite e neblina, o filme dá sequência às investigações já presentes em seus curtas-metragens e em seus dois longas anteriores, Hiroshima mon amour e O ano passado em Marienbad, nos quais como aqui, misturam-se passado e presente e realidade e imaginação para dar conta dos efeitos do tempo e da memória.

A guerra acabou (La guerre est finie), de Alain Resnais
França/Suíça, 1966, 35mm, pb, 121’ | Legendas em português | Exibição em 16mm
Yves Montand, Ingrid Thulin, Geneviève Bujold, Jean Dasté
Militante comunista espanhol vai a Paris com um nome falso e tenta encontrar um antigo companheiro. Seu objetivo é impedir que o colega regresse à Espanha, onde poderá ser preso pela polícia franquista. Indicado ao Oscar de Melhor roteiro em 1968. Fotografia de Sacha Vierny.

Loin du Vietnam, de Alain Resnais, Chris Marker, Jean-Luc Godard, Agnès Varda, Joris Ivens, William Klein e Claude Lelouch
França, 1967, 35mm, cor, 115’ | Legendas em português
Supervisionado pelo cineasta Chris Marker (1921-2012), Loin du Vietnam foi rodado por um coletivo de diretores e técnicos, entre eles Jean-Luc Godard, Agnès Varda e Alain Resnais. Trata-se de um manifesto contra a Guerra do Vietnã e os norte-americanos, em favor dos vietnamitas. Segundo Marker, “se algum dia um filme francês mereceu ser chamado coletivo, foi bem este, a ponto de perguntarmos, durante sua realização, quem fazia o quê”.

Stavisky ou O império de Alexandre (Stavisky... ), de Alain Resnais
França/Itália, 1974, 35mm, cor, 115’ | Legendas em português
Jean-Paul Belmondo, Charles Boyer, François Périer, Michael Lonsdale
Inspirado na vida do industrial francês Alexandre Stavisky. Ele utiliza seu charme e talento para fazer amizade com influentes membros da elite industrial e política francesa. No entanto, ao armar um grande golpe, envolve-se num escândalo que quase leva o país a uma guerra civil. Música do compositor americano Stephen Sondheim. Roteiro de Jorge Semprún. Por sua atuação, Charles Boyer recebeu o Prêmio de Melhor ator no Festival de Cannes de 1974. Stavisky também foi indicado a Palma de Ouro.

Meu tio da América (Mon oncle d'Amérique), de Alain Resnais
França, 1980, 35mm, cor, 125’ | Legendas em português
Gérard Depardieu, Nicole Garcia, Roger Pierre, Henri Laborit
Os destinos cruzados de três personagens sob o olhar de outro: o biólogo Henri Laborit, que explica sua teoria sobre como o ambiente interfere na formação da personalidade dos seres humanos. Os objetos de investigação são dois homens e uma mulher, de cidades, origens sociais e famílias diferentes.

Pour Esteban González, González, Cuba, de Alain Resnais
França, 1991, 35mm, cor, 3’ | Legendas em português | Exibição em beta analógica
Uma carta filmada endereçada à Fidel Castro para pedir a libertação de um preso político. Filme realizado a convite da Anistia Internacional, dentro do longa coletivo Contre l'oubli, que contou com a participação de vários cineastas, entre eles Godard, Claire Denis e Costa-Gravas. O curta é inédito no Brasil.

Smoking, de Alain Resnais
França, 1993, 35mm, cor, 140’ | Legendas em português
Sabine Azéma, Pierre Arditi, Peter Hudson
Oito histórias diferentes que tratam da vida de cinco mulheres, todas interpretadas por uma só atriz, e de quatro homens, também interpretados pelo mesmo ator. A narrativa trata das escolhas que cada um pode fazer em sua vida. Adaptação da peça Intimate Exchanges, do dramaturgo Alan Ayckbourn, o filme forma um duplo com No smoking e recebeu o Urso de Prata no Festival de Berlim em 1994.

No smoking, de Alain Resnais
França, 1993, 35mm, cor, 144’ | Legendas em português
Sabine Azéma, Pierre Arditi, Peter Hudson
Oito histórias diferentes que tratam da vida de cinco mulheres, todas interpretadas por uma só atriz, e de quatro homens, também interpretados pelo mesmo ator. A narrativa trata das escolhas que cada um pode fazer em sua vida. Adaptação da peça Intimate Exchanges, do dramaturgo Alan Ayckbourn, o filme forma um duplo com Smoking e recebeu o Urso de Prata no Festival de Berlim em 1994.

Amores parisienses (On connaît la chanson), de Alain Resnais
França, 1997, 35mm, cor, 120’ | Legendas em português
Pierre Arditi, Sabine Azéma, Agnès Jaoui, Jane Birkin
As rotinas profissionais e os desencontros amorosos de seis personagens. Musical dirigido por Resnais, que utiliza canções populares francesas para ilustrar a ciranda sentimental de suas personagens. Sucesso de bilheteria, Amores parisienses recebeu sete prêmios César e o Prêmio Louis Delluc.


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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Morreu no Rio de Janeiro o sambista Roberto Silva

No último domingo morreu o sambista da geração de 1940, Roberto Silva, o ‘Príncipe do Samba’, autor de sucessos como Maria Teresa, Mandei fazer um patuá e Descendo o morro 

Morreu na madrugada do último domingo o sambista carioca Roberto Silva, que ficou famoso como o “Príncipe do Samba”. Silva estava com 92 anos e há seis meses foi diagnosticado com câncer na próstata.

Ele havia dado entrada na última sexta-feira no Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, depois de sofrer um AVC. Os exames diagnosticaram que alguns órgãos do músico haviam parado de funcionar em função do câncer. Ele preferiu então ser levado para sua residência para passar seus últimos momentos junto com a família, onde morreu na madrugada seguinte. Seu velório e enterro foram realizados na tarde de domingo, no cemitério de Inhaúma.

Ao longo de 75 anos de atividade, Roberto Silva gravou 20 LPs e 350 compactos, tendo dezenas de suas gravações relançadas em CD. Apesar de nos últimos anos ele não ter gravado novos trabalhos, ainda cantava regularmente em bares e casas noturnas.

“Ele adorava fazer o que ele fazia e morreu querendo continuar cantando. Ele gostava muito dessa juventude agora, das pessoas novas que estavam chegando no samba e dizia: 'eles é que vão dar continuidade ao que eu plantei'. Tenho certeza de que ele não será esquecido”; afirmou em entrevista sua viúva, Syone Guimarães da Costa.

Roberto Silva nasceu em 1920, no Morro do Cantagalo, em Copacabana, na zona sul do Rio. Filho de pai italiano e mãe carioca, ele começou a cantar sambas ainda na adolescência e na década de 1930 participou diversas vezes de programas de rádio, cantando ao vivo.

Sua primeira gravação foi em 1946, e trabalhou nesse período em diversas rádios cariocas, como a Tupi, Guanabara, Mauá e Nacional, momento em que o sambista tornou-se conhecido por seu canto preciso e habilidade nas divisões rítmicas.

Sua primeira música famosa surgiu em 1948, o samba Maria Teresa, do compositor Altamiro Carrilho. Ao longo da maior parte da atividade, Roberto Silva foi principalmente intérprete, componde apenas esporadicamente. Seus maiores sucessos foi cantando peças de Nelson Cavaquinho, Ary Barroso, Geraldo Pereira e Wilson Batista, entre outros.

Entre suas muitas canções que fizeram sucesso, além de Maria Teresa estão também Mandei fazer um patuá, Descendo o morro, Meu sonho é você, Normélia e Jornal da Morte.
Entre os trabalhos mais recentes de Roberto Silva está uma participação especial no show O samba é minha nobreza, promovido pelo músico Hermínio Bello de Carvalho, que ficou em cartaz no Rio durante três meses e que rendeu a gravação de um CD duplo.

Para comemorar seus setenta anos de atividade à dois anos, em 2008, Roberto Silva realizou um show no Rio, acompanhado do grupo Pé de Moleque, em que ele tocou os sucessos de quase oitenta anos de samba.

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domingo, 9 de setembro de 2012

Picasso e Duchamp frente a frente

Uma grande exposição inaugurada esta semana em Estocolmo reúne obras de Picasso e Duchamp, duas das figuras mais representativas da arte do século XX

"Ele estava errado”. Foi o que teria afirmado Pablo Picasso em 1968, comentando a morte do francês Marcel Duchamp. E foi essa mesma frase que o Museu de Arte Moderna de Estocolmo escolheu como título da exposição que foi inaugurada esta semana na cidade, reunindo pela primeira vez a obras dos dois artistas em uma única exposição: Picasso/Duchamp: he was wrong.
A exposição apresenta um recorte representativo das criações Picasso em diferentes fases de sua atividade. De Duchamp, foram incluídos seus trabalhos mais importantes, ready-mades como A fonte, pinturas, como A noiva despida por seus celibatários, mesmo, e instalações, como Ètant donnés.

Marcel Duchamp.
O objetivo do museu nesta mostra é contrapor a arte de Picasso de Duchamp como dois polos opostos da tradição da arte de vanguarda.

Duchamp e Picasso eram de fato artistas muito distintos e as produções reunidas no museu são as mais diversificadas possíveis, mas, na realidade, a forma como o Museu de Estocolmo organizou essa oposição conduz a uma conclusão propositalmente errada e conservadora.
Segundo quer fazer crer o museu, Picasso representaria um polo positivo, afirmativo de uma determinada tradição da arte moderna, como pintor propriamente. Duchamp, por outro lado, seria o precursor da arte conceitual, a arte como uma ideia. Tendo desenvolvido sua obra no sentido da antiarte, e buscando criar obras, sobretudo, intelectuais, Duchamp personificaria a arte como uma negação da tradição da pintura. É uma oposição no final das contas superficial e errada. Uma oposição puramente formal, pintura X ideia, que acaba por mascarar as verdadeiras diferenças teóricas que há entre a obra de Picasso de Duchamp.

Pablo Picasso.

Picasso, apesar de ter se desenvolvido como pintor, foi um revolucionário da pintura do século XX, e subverteu de diversas maneiras a tradição estabelecida da pintura, tanto com suas collages quanto com sua pintura cubista, com suas esculturas de sucatas, sua pintura surrealista etc.
Se Picasso representou uma tentativa de superação do conservadorismo das instituições ainda dentro do marco da tradição, Duchamp, por outro lado, representou um ponto de ruptura mais profundo com essa mesma tradição ao negar a atividade do pintor e do artista em geral.
Mais corretamente seria dizer que tanto Picasso quanto Duchamp representam dois estágios diferentes da crítica às instituições artísticas e à ideologia burguesa em arte. E é esse conteúdo radical da obra de ambos os artistas que acabou obscurecido pela forma conservadora como a exposição foi montada.

Seguindo o esquema da curadoria, Picasso seria a defesa da pintura e Duchamp a defesa da não-pintura. Picasso acaba assim sendo mostrado como um conservador, o que de forma alguma ele foi, e Duchamp como um revolucionário. Mas Duchamp fica também em uma posição ingrata, pois, segundo a mostra dá a entender, ele seria um revolucionário por ter aberto caminho para a arte conceitual dos dias de hoje, o que é igualmente falso e profundamente conservador. Duchamp não era alguém interessado em uma técnica. Sua contribuição vai muito além disso. Ele foi o artista que conseguiu trazer à tona uma situação geral das artes no interior do capitalismo, e fez isso por meio de uma obra extremamente original. Ele denunciou a existência de um grande sistema de arte que artificialmente dá sustentação a determinados artistas, tendo eles qualidade ou não.

A exposição Picasso/Duchamp: he was wrong acaba por revelar a superficialidade da crítica de arte burguesa, que cuidadosamente subtraiu o caráter mais radical da obra de ambos os artistas em favor de uma oposição puramente aparente entre a obra dos dois artistas, e que termina como um elogio à arte em moda nos dias de hoje, tanto a arte conceitual como a pintura como mero objeto decorativo.

sábado, 8 de setembro de 2012

Em setembro, Municipal de São Paulo apresenta ópera ‘Pelléas et Mélisande’, de Debussy

Uma das obras-primas de Claude Debussy, ‘Pelléas et Mélisande’ influenciou dezenas de compositores modernos, como Ravel, Bartok e Schöenberg
O compositor Claude Debussy.
No último mês, dia 22 de agosto, completaram-se exatos 150 anos do nascimento do grande compositor francês Claude Debussy, tido como um dos pais do modernismo musical do século XX.
Marcando a data, o Teatro Municipal de São Paulo, neste mês de setembro, apresentará a ópera Pelléas et Mélisande, uma das mais importantes do repertório do compositor, que dá prosseguimento à temporada 2012 de óperas do Municipal.

Em agosto esteve em cartaz no palco do Teatro, a grandiloquente ópera O crepúsculo dos Deuses, parte final da obra-prima de Richard Wagner, O anel do nibelungo.
Já a ópera de Debussy contrasta vivamente com os excessos expressionistas da ópera wagneriana. Pelléas et Mélisande é uma tragédia intimista, que foi concebida na atual montagem também segundo uma concepção despojada, se concentrando mais na sutileza de iluminações do que na exuberância de cenários e figurinos que marcou o espetáculo anterior.

Esse contraste, segundo os organizadores da temporada 2012, foi proposital, buscando apresentar ao público brasileiro as mais diferentes correntes estéticas que marcaram a história da ópera em diferentes épocas.

Debussy é tido por muitos como o verdadeiro fundador da tradição modernista da música erudita, a partir da criação do famoso Prelúdio à Tarde de um Fauno, baseado no poema igualmente inovador de Stéphane Mallarmé.

Dentro do repertório de Debussy, Pelléas et Mélisande é considerada sua obra-prima e um manifesto das novas técnicas musicais inauguradas por ele em , Prelúdio à Tarde de um Fauno, corrente que ficou conhecida como “impressionismo musical”. Tendo sido o impressionismo um movimento estritamente pictórico foi, logicamente, com certa liberdade que se resolveu adotar a nomenclatura para designar também uma corrente musical, a partir de certos traços de intenção comuns tanto a Debussy quanto à pintura impressionista, muito admirada por ele.

Baseada na peça teatral homônima do simbolista belga do Maurice de Maeterlink, Pelléas et Mélisande é uma tragédia amorosa cujo centro da história é a traição de Mélisande com o meio-irmão de seu marido, Pélleas.

Tanto a história quanto suas personagens são permeadas de conteúdos simbólicos em uma narrativa poética que trata basicamente das paixões humanas que subvertem as convenções e instituições.

Debussy demorou uma década para adaptar para o teatro lírico a obra, que quando estreou em Paris, em 1902, tornou-se o maior escândalo da trajetória do compositor. Na estreia, o denso drama amoroso foi recebido com gargalhadas pelo público, que, no encerramento, também não se atreveu a aplaudir o espetáculo. Hoje, porém, Pelléas et Mélisande é tida como uma das obras-primas da ópera mundial, bastante influente entre outros compositores modernistas de primeiro plano como o húngaro Bela Bartók e o austríaco Arnold Schönberg.

A adaptação que chega agora a São Paulo teve direção cênica por Iacov Hillel, direção musical e regência de Abel Rocha e cenários concebidos por Helio Eichbauer.

A temporada de Pelléas et Mélisande compreende cinco apresentações ao longo do mês de setembro, nos dias 15, 17, 19, 20 e 21. Para maiores informações sobre reservas e compras de ingressos, basta entrar em contato com a bilheteria do Municipal, pelo telefone (11) 3397-0327. O preço dos ingressos varia entre 40 e 100 reais.

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