21 de setembro de 2011
Luis Cernuda foi um dos principais nomes da chamada Geração de 27, ou Geração das Vanguardas, momento em que a poesia modernista espanhola explodia definitivamente como um movimento geral da cultura do país. Este grupo de poetas atuou principalmente em Madri e, além de Cernuda, no núcleo principal desta geração também incluem-se poetas como Federico García Lorca, Jorge Guillén, Rafael Alberti, Pedro Salinas, Manuel Altolaguirre, Dámaso Alonso, Emilio Prados, Vicente Aleixandre e Gerardo Diego. Esta relação, porém, poderia ser ampliada para mais algumas dezenas de poetas que iniciaram sua atividade sob a influência da crise revolucionária européia.
O evento que marca a “revelação” destes jovens poetas para o restante do país, foi uma homenagem realizada naquele ano para o poeta renascentista Luis de Góngora por ocasião dos 300 anos de seu nascimento, o representante maior na poesia do chamado Século de Ouro da literatura espanhola.
A maior parte dos principais nomes desta geração participou do evento sediado em Sevilha, na que foi provavelmente a primeira reunião formal destes poetas que tinham grande identificação em seus temas e influências.
A crise revolucionária na Espanha
A crise espanhola no século XX remete diretamente às lutas nas colônias americanas por sua independência, que teve impactos imediatos no nível de vida da população da metrópole.
Em 1902, ao completar 16 anos, Afonso XVIII assumiu o comando da decadente monarquia espanhola. Durante os anos da regência, a crise espanhola já havia se iniciado com toda força, abalada pelas revoluções em Cuba, Porto Rico e Filipinas, que passaram todas ao controle dos Estados Unidos.
Durante os primeiros anos do reinado de Afonso XVIII, uma nova crise diplomática leva à perda do controle espanhol sobre o Marrocos, que se torna a partir de então um protetorado do imperialismo francês.
A crise nacional da monarquia nos anos seguintes levaria, em 1923, a burguesia espanhola a organizar um golpe de Estado com respaldo do próprio rei. Começava aí a sangrenta trajetória do fascismo espanhol, sob comando do ditador Miguel Primo de Rivera.
O novo governo iniciou um vigoroso processo repressivo no país, prendendo, torturando e assassinando centenas de pessoas, principalmente militantes das organizações do movimento operário, anarquistas e comunistas.
Após o período inicial de terror, o governo adquiriu certa estabilidade e agrupou em torno de si todas as alas mais reacionárias do regime em torno do partido fascista União Patriótica. A etapa seguinte foi a lançar uma ofensiva militar para retomar o Marrocos, que é bem sucedida e garante a substituição da política repressiva de maior intensidade por um governo mais brando. Foi formado aí um Parlamento de fachada que iria elaborar uma Constituição formal sob os moldes fascistas, garantindo a supressão de qualquer organização operária no país.
Precisamente neste momento de estabilização do regime e afrouxamento dos aparatos repressivos vêm à tona o gigantesco descontentamento nacional na forma de grandes manifestações contra o governo. É aí também que surgem os poetas da Geração de 27, cujo radicalismo político se expressava na forma de um radicalismo formal de sua poesia.
As mobilizações contra o governo levaria a uma crise terminal no regime, que é obrigado a operar uma reabertura democrática com as mesmas figuras que davam sustentação à ditadura, e, em primeiro lugar, a monarquia de Afonso XIII.
A obra de Luis Cernuda foi um produto da crise deste período. Nascido em 1902 e filho de militar, Cernuda entrou em contato com o ambiente literário espanhol em 1919, através de sua amizade com o poeta Pedro Salinas. Foi ao mudar-se para Madri que ele conhece também alguns dos melhores poetas da nova geração. Sua principal influência nestes anos, além da tradição clássica espanhola, eram os novos nomes da poesia francesa. Teve particular influência sobre ele a obra de André Gide, mas, em pouco tempo, assimilava também influências importantes do surrealismo, através dos escritos de Paul Éluard Pierre Reverdy, que definiriam a identidade de sua poesia.
Em 1925 ele publica seus primeiros poemas em jornais literários, e um ano mais tarde, com o resfriamento da censura torna-se colaborador de jornais liberais, como La Verdad e Mediodía y Litoral.
Seu primeiro livro é publicado exatamente no ano de 1927, quando esta geração se revela à população em geral. Sua obra de estréia é Perfil del aire, escrito em um estilo que combinava o classicismo espanhol com os versos livres modernistas. Mais bem sucedidos são seus livros de influência surrealista, Un río, un amor, de 1929; e Los placeres prohi-bidos, de 1931. Tais textos, porém, eram ainda um período de preparação do poeta, que publica sua primeira obra-prima em 1933, Donde habite el olvido, apresentando um conjunto de poemas em que Cernuda encontra a própria voz, em versos melancólicos e intimistas. É desta fase um de seus poemas mais popularmente conhecidos em seu país, a poesia que empresta seu nome ao livro, Donde habite el olvido.
Ele atuaria nos meses seguintes como jornalista na Guerra Civil e também como soldado, apresentando-se como voluntário em um regimento de alpinista na Serra de Guadarrama.
Cernuda participa dos conflitos até 1938, quando ele parte para um ciclo de conferências na Inglaterra, sobre a nova poesia espanhola. Ele nunca mais voltaria ao seu país. Sua saída do país não foi um caso isolado, mas um fenômeno geral. A luta contra o fascismo espanhol dispersou completamente os integrantes do grupo, que seguiria cada um por um caminho diferente a partir daí. O afastamento de Cernuda nos anos seguintes se reflete em seus versos na consolidação de uma tendência altamente subjetiva, concentrada em temas ligados ao seu isolamento pessoal.
Cernuda viveria na Inglaterra até o término da Segunda Guerra. Em 1947 ele se instala nos Estados Unidos, e, a partir de 1951, se instala no México, onde reside até sua morte, em 1963.
Donde habite el olvido
Luís Cernuda
Cómo llenarte, soledad,
Sino contigo misma.
De niño, entre las pobres guaridas de la tierra,
Quieto en ángulo oscuro,
Buscaba en ti, encendida guirnalda,
Mis auroras futuras y furtivos nocturnos,
Y en ti los vislumbraba,
Naturales y exactos, también libres y fieles,
A semejanza mía,
A semejanza tuya, eterna soledad.
Me perdí luego por la tierra injusta
Como quien busca amigos o ignorados amantes;
Diverso con el mundo,
Fui luz serena y anhelo desbocado,
Y en la lluvia sombría o en el sol evidente
Quería una verdad que a ti te traicionase,
Olvidando en mi afán
Cómo las alas fugitivas su propia nube crean.
Y al velarse a mis ojos
Con nubes sobre nubes de otoño desbordado
La luz de aquellos días en ti misma entrevistos,
Te negué por bien poco,
Por menudos amores ni ciertos ni fingidos,
Por quietas amistades de sillón y de gesto,
Por un nombre de reducida cola en un mundo fantasma,
Por los viejos placeres prohibidos,
Como los permitidos nauseabundos,
Útiles solamente para el elegante salón susurrado,
En bocas de mentira y palabras de hielo.
Por ti me encuentro ahora el eco de la antigua persona
Que yo fui,
Que yo mismo manché con aquellas juveniles traiciones;
Por ti me encuentro ahora, constelados hallazgos,
Limpios de otro deseo,
El sol, mi dios, la noche rumorosa,
La lluvia, intimidad de siempre,
El bosque y su alentar pagano,
El mar, el mar como su nombre hermoso;
Y sobre todos ellos,
Cuerpo oscuro y esbelto,
Te encuentro a ti, tú, soledad tan mía,
Y tú me das fuerza y debilidad
Como el ave cansada los brazos de piedra.
Acodado al balcón miro insaciable el oleaje,
oigo sus oscuras imprecaciones,
contemplo sus blancas caricias;
Y erguido desde cuna vigilante
Soy en la noche un diamante que gira advirtiendo
a los hombres.
Por quienes vivo, aun cuando no los vea;
Y así, lejos de ellos,
Ya olvidados sus nombres, los amo en muchedumbres,
Roncas y violentas como el mar, mi morada,
Puras ante la espera de una revolución ardiente
O rendidas y dóciles, como el mar sabe serlo
Cuando toca la hora de reposo que su fuerza conquista.
Tú, verdad solitaria,
Transparente pasión, mi soledad de siempre,
Eres inmenso abrazo;
El sol, el mar,
La oscuridad, la estepa,
El hombre y el deseo,
La airada muchedumbre,
¿Qué son sino tú misma?
Por ti, mi soledad, los busqué un día;
En ti, mi soledad, los amo ahora.
Cómo llenarte, soledad,
Sino contigo misma.
De niño, entre las pobres guaridas de la tierra,
Quieto en ángulo oscuro,
Buscaba en ti, encendida guirnalda,
Mis auroras futuras y furtivos nocturnos,
Y en ti los vislumbraba,
Naturales y exactos, también libres y fieles,
A semejanza mía,
A semejanza tuya, eterna soledad.
Me perdí luego por la tierra injusta
Como quien busca amigos o ignorados amantes;
Diverso con el mundo,
Fui luz serena y anhelo desbocado,
Y en la lluvia sombría o en el sol evidente
Quería una verdad que a ti te traicionase,
Olvidando en mi afán
Cómo las alas fugitivas su propia nube crean.
Y al velarse a mis ojos
Con nubes sobre nubes de otoño desbordado
La luz de aquellos días en ti misma entrevistos,
Te negué por bien poco,
Por menudos amores ni ciertos ni fingidos,
Por quietas amistades de sillón y de gesto,
Por un nombre de reducida cola en un mundo fantasma,
Por los viejos placeres prohibidos,
Como los permitidos nauseabundos,
Útiles solamente para el elegante salón susurrado,
En bocas de mentira y palabras de hielo.
Por ti me encuentro ahora el eco de la antigua persona
Que yo fui,
Que yo mismo manché con aquellas juveniles traiciones;
Por ti me encuentro ahora, constelados hallazgos,
Limpios de otro deseo,
El sol, mi dios, la noche rumorosa,
La lluvia, intimidad de siempre,
El bosque y su alentar pagano,
El mar, el mar como su nombre hermoso;
Y sobre todos ellos,
Cuerpo oscuro y esbelto,
Te encuentro a ti, tú, soledad tan mía,
Y tú me das fuerza y debilidad
Como el ave cansada los brazos de piedra.
Acodado al balcón miro insaciable el oleaje,
oigo sus oscuras imprecaciones,
contemplo sus blancas caricias;
Y erguido desde cuna vigilante
Soy en la noche un diamante que gira advirtiendo
a los hombres.
Por quienes vivo, aun cuando no los vea;
Y así, lejos de ellos,
Ya olvidados sus nombres, los amo en muchedumbres,
Roncas y violentas como el mar, mi morada,
Puras ante la espera de una revolución ardiente
O rendidas y dóciles, como el mar sabe serlo
Cuando toca la hora de reposo que su fuerza conquista.
Tú, verdad solitaria,
Transparente pasión, mi soledad de siempre,
Eres inmenso abrazo;
El sol, el mar,
La oscuridad, la estepa,
El hombre y el deseo,
La airada muchedumbre,
¿Qué son sino tú misma?
Por ti, mi soledad, los busqué un día;
En ti, mi soledad, los amo ahora.
A un poeta muerto
Luís Cernuda
Así como en la roca nunca vemos
La clara flor abrirse,
Entre un pueblo hosco y duro
No brilla hermosamente
El fresco y alto ornato de la vida.
Por esto te mataron, porque eras
Verdor en nuestra tierra árida
Y azul en nuestro oscuro aire.
Leve es la parte de la vida
Que como dioses rescatan los poetas.
El odio y destrucción perduran siempre
Sordamente en la entraña
Toda hiel sempiterna del español terrible,
Que acecha lo cimero
Con su piedra en la mano.
Triste sino nacer
Con algún don ilustre
Aquí, donde los hombres
En su miseria sólo saben
El insulto, la mofa, el recelo profundo
Ante aquel que ilumina las palabras opacas
Por el oculto fuego originario.
La sal de nuestro mundo eras,
Vivo estabas como un rayo de sol,
Y ya es tan sólo tu recuerdo
Quien yerra y pasa, acariciando
El muro de los cuerpos
Con el dejo de las adormideras
Que nuestros predecesores ingirieron
A orillas del olvido.
Si tu ángel acude a la memoria,
Sombras son estos hombres
Que aún palpitan tras las malezas de la tierra;
La muerte se diría
Más viva que la vida
Porque tú estás con ella,
Pasado el arco de tu vasto imperio,
Poblándola de pájaros y hojas
Con tu gracia y tu juventud incomparables.
Aquí la primavera luce ahora.
Mira los radiantes mancebos
Que vivo tanto amaste
Efímeros pasar junto al fulgor del mar.
Desnudos cuerpos bellos que se llevan
Tras de sí los deseos
Con su exquisita forma, y sólo encierran
Amargo zumo, que no alberga su espíritu
Un destello de amor ni de alto pensamiento.
Igual todo prosigue,
Como entonces, tan mágico,
Que parece imposible
La sombra en que has caído.
Mas un inmenso afán oculto advierte
Que su ignoto aguijón tan sólo puede
Aplacarse en nosotros con la muerte,
Como el afán del agua,
A quien no basta esculpirse en las olas,
Sino perderse anónima
En los limbos del mar.
Pero antes no sabías
La realidad más honda de este mundo:
El odio, el triste odio de los hombres,
Que en ti señalar quiso
Por el acero horrible su victoria,
Con tu angustia postrera
Bajo la luz tranquila de Granada,
Distante entre cipreses y laureles,
Y entre tus propias gentes
Y por las mismas manos
Que un día servilmente te halagaran.
Para el poeta la muerte es la victoria;
Un viento demoníaco le impulsa por la vida,
Y si una fuerza ciega
Sin comprensión de amor
Transforma por un crimen
A ti, cantor, en héroe,
Contempla en cambio, hermano,
Cómo entre la tristeza y el desdén
Un poder más magnánimo permite a tus amigos
En un rincón pudrirse libremente.
Tenga tu sombra paz,
Busque otros valles,
Un río donde del viento
Se lleve los sonidos entre juncos
Y lirios y el encanto
Tan viejo de las aguas elocuentes,
En donde el eco como la gloria humana ruede,
Como ella de remoto,
Ajeno como ella y tan estéril.
Halle tu gran afán enajenado
El puro amor de un dios adolescente
Entre el verdor de las rosas eternas;
Porque este ansia divina, perdida aquí en la tierra,
Tras de tanto dolor y dejamiento,
Con su propia grandeza nos advierte
De alguna mente creadora inmensa,
Que concibe al poeta cual lengua de su gloria
Y luego le consuela a través de la muerte.
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