A cantora anunciou o encerramento de sua atividade por motivos médicos. Ela foi responsável por tornar conhecida internacionalmente a morna, gênero musical de Cabo Verde
27 de setembro de 2011
No final da última semana, a cantora cabo-verdiana Cesária Évora anunciou que estaria abandonando para sempre os palcos. A informação foi veiculada na imprensa através de uma nota de sua gravadora, a Lusafrica.
Segundo explica a nota, a cantora está se aposentando da vida musical por motivos médicos. Atualmente com 70 anos, Cesária Évora está com a saúde muito fragilizada.
Ela iria realizar uma série de shows em Paris quando foi feito o comunicado. “Os médicos que a seguem em Paris ordenaram o cancelamento da sua próxima digressão. Cesária decidiu então, em conjunto com o seu produtor e agente, José da Silva, pôr um fim de maneira definitiva à sua carreira”, informa o texto.
Cesária Évora tem tido uma série de problemas de saúde mais graves desde março de 2008, quando sofreu um AVC durante uma apresentação na Austrália. Desde então, submetida a diferentes procedimentos médicos, sua saúde vem se deteriorando. A nota destaca que “os seus problemas de saúde são consequência das várias operações cirúrgicas a que tem sido submetida nos últimos anos, entre elas uma operação a coração aberto em maio de 2010”.
Apesar disso, a cantora terminará o próximo disco em estúdio, trabalho ao qual vem se dedicando desde o ano passado.
Cesária Évora, que se tornou conhecida como a “rainha da morna”, foi responsável pela popularização da música nacional da ex-colônia portuguesa em outros países. Ela é também uma das principais vozes da África Negra.
Évora nasceu em Mindelo, segunda maior cidade de Cabo Verde, em 1941. Seu pai era também músico e foi dele que ‘Cise’, como era conhecida, recebeu os primeiros estímulos como cantora.
Ainda na infância começou a se apresentar na rua, na principal praça da cidade, cantando ao lado de seu irmão saxofonista. Tornou-se uma figura popular no movimentado bairro do Lombo, cantando em bares e hotéis. Graças aos seus amigos músicos, rapidamente se popularizou em toda a cidade como a principal voz da morna, gênero mais popular de seu país.
A morna está para Cabo Verde como o fado está para Portugal. Ela é tocada, em sua forma mais simples, com um ou dois instrumentos, normalmente um violão, que faz a base melódica, e um instrumento solista, que pode ser outro violão, um violino ou mesmo a própria voz do cantor.
É uma música de andamento lento e tradicionalmente melancólica, que canta as dores e dificuldades da vida dos trabalhadores cabo-verdianos.
Cesária Évora era já uma cantora de destaque quando acontece a Independência em 1975, popularmente conhecida como a “diva dos pés descalços”, por cantar sempre descalça em suas apresentações. A situação econômica do país a obrigou a abandonar por dez anos a vida musical para sustentar a família em empregos diversos. Neste período ela caiu no alcoolismo e sua recuperação só veio no final da década de 1980, quando conseguiu firmar um contrato com um empresário local.
Ela retomou sua atividade cantando principalmente em Portugal, onde o gênero é também conhecido. A partir da repercussão que sua música tem ali, ela consegue tocar também na França. Deste modo, a retomada de sua atividade se dá principalmente através da iniciativa de empresários estrangeiros. Ela grava na ocasião dois álbuns que tem repercussão em outros países europeus, La diva aux pied nus, de 1988; e Miss Perfumado, em 1992.
A música de Cesária Évora, cantando as misérias do povo cabo-verdiano, era em si mesma uma denúncia do parasitismo da dominação portuguesa sobre as ilhas. Mas dá-se no caso dela um processo muito típico de assimilação, por parte do imperialismo, de uma figura importante de um país atrasado.
Esse fato não diminui de maneira nenhuma a importância de Cesária Évora e seu afastamento dos palcos será certamente sentido por todos os amantes da boa música.
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