O pintor grego, um dos grandes nomes da pintura moderna, concebeu uma obra original que antecipou ideias e técnicas que seriam desenvolvidas mais tarde pelo movimento surrealista
Gare de Montparnasse, a melancolia da partida, obra de 1914. |
As enigmáticas paisagens oníricas do italiano Giorgio de Chirico, que tanto inspiraram os surrealistas franceses, estão agora expostas no Museu de Arte de São Paulo. As obras pertencem todas à Fondazione Giorgio e Isa de Chirico, sediada em Roma, a mais importante instituição detentora dos trabalhos do artista.
A mostra itinerante já foi exposta em Porto Alegre e, encerrando a temporada em São Paulo, seguirá para Belo Horizonte.
A exposição apresenta 45 pinturas, 11 esculturas e 66 fotografias do artista italiano, produzidas no final de sua vida, ao longo das décadas de 1960 e 70. Essa fase final, chamada por ele neometafísica, representou um retorno de De Chirico à inspiração que caracterizou o período mais importante de sua produção no início do século XX.
São trabalhos muito singulares, que se caracterizam pela repetição, em incontáveis variações, de praticamente um único tema. O sentido de tal produção “minimalista” era evocar uma determinada atmosfera subjetiva, que perseguiu, inspirou e assombrou De Chirico ao longo de toda a vida.
Nas pinturas do artista, alguns elementos são bastante recorrentes, como colunas gregas, arcadas, torres, esculturas clássicas, locomotivas, relógios, figuras sem face, desumanizadas, os jogos de sombra, elementos através dos quais De Chirico explorava estados emocionais como o silêncio, a melancolia, a solidão, a sensação de imobilidade etc. A recusa em retratar a realidade exterior visível, contraposta por uma busca pela expressão de estados subjetivos insólitos, constituía a base da técnica que o artista chamaria de pintura metafísica, ou seja, uma pintura abstrata em seu conteúdo.
Duas figuras sem face, paralizadas em um praça vazia sob um céu esverdeado, elementos recorrentes na obra do artista. |
A fase metafísica da obra de De Chirico desenvolveu-se até 1917, depois disso, ele retrocedeu para técnicas mais convencionais. A pintura metafísica constituiu o período mais importante de sua atividade, e foi ela precisamente que provocou uma profunda admiração em poetas e pintores como André Breton, Paul Éluard, Benjamin Péret ou Max Ernst, que mais tarde fundaram o grupo surrealista. Mas a pintura de Giorgio de Chirico não era apenas apreciada por eles, mais do que isso, foi uma das grandes inspirações do surrealismo, uma obra que apresentava exatamente os elementos misteriosos e fantásticos que constituíam os estímulos fundamentais à imaginação que tanto perseguiam os surrealistas.
Nesse sentido, a pintura de De Chirico coloca-se como uma precursora isolada do surrealismo, antecipando técnicas e conceitos que se tornariam uma das grandes correntes da pintura moderna, e daí o seu grande valor.
A exposição De Chirico, o sentimento da arquitetura, permanecerá em cartaz no MASP até o dia 20 de maio.
Breve retrato do artista
Giorgio de Chirico nasceu em 1888, na Grécia. Na adolescência ele estudou no Japão e na Alemanha, até se estabelecer no Haiti, onde travou amizade com o poeta Guillaume Apollinaire, um dos principais líderes da vanguarda modernista francesa. Morando na Itália, a partir de 1910 De Chirico desenvolve obras totalmente marginais ao movimento futurista, em um estilo sui generis, caracterizado por seus temas desvinculados da realidade exterior. Foi apenas em 1917 que o pintor, junto ao ex-futurista Carlo Carrá, batiza a técncia que empregava como pintura metafísica. A partir de 1917, porém, quando, para o espanto de todos, ele passa a pintar em um estilo acadêmico, fase que tomaria os 30 anos seguintes da vida. É apenas na década de 1960 que o artista abandona esse caminho e volta-se para uma pintura muito similar à que produziu entre 1910 e 20, pintura a que chamou de neometafísica. São as obras desse período final que estão expostas agora no MASP.
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