sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O modernismo mexicano de Rufino Tamayo

O pintor tomou parte no movimento muralista na década de 1920 e desenvolveu nos anos seguintes, uma obra de grande originalidade vinculada aos temas da arte pré-colombiana mexicana

Hoje, dia 26, se completaram exatos dez anos da morte de Rufino Tamayo, um dos destacados representantes da pintura moderna mexicana. Tendo começado sua atividade artística associado ao movimento muralista, Tamayo teve um desenvolvimento artístico distinto dos demais expoentes do movimento. Sua vida e obra são produtos típicos da polarização política mundial entre as décadas de 1930 e 60, que o levariam da ala esquerda das artes na juventude, para a ala mais conservadora dos artistas ao final da vida.

Nascido em 1899, em Oaxaca, Tamayo era filho de indígenas zapotecas. Estudou na Academia de Bellas Artes de San Carlos, mas rapidamente rompeu com os modelos acadêmicos e passou a estudar de forma independente. Ele toma parte nos grupos de jovens artistas interessados nas artes pré-colombianas mexicanas, e adota estas influências como sua expressão fundamental. A primeira fase de sua pintura, portanto, foi marcada pelo primitivismo e um forte sentimento de resgate da cultura indigenista mexicana.

Ao longo da década de 1920, ele tomou parte no movimento de pintura mural ao lado dos “Três Grandes” e dezenas de outros artistas imbuídos do ideal de levar a arte dos ateliês para as ruas, tirar das mãos dos milionários colecionadores de arte e coloca-las à disposição da população mexicana. O movimento era um produto direto da Revolução Mexicana de 1910 à qual se acrescentou a influência da Revolução Russa de 1917. Segundo Leon Trótski analisou anos mais tarde, o movimento mural mexicano foi o produto artístico mais importante da Revolução de Outubro, de um ponto de vista internacional. Com um caráter mais decisivamente proletário que as manifestações artísticas russas.

O período mais importante de florescimento da pintura mural deu-se em um momento de radicalização das lutas sociais mexicanas, entre 1922 e 1928. Perdendo muito de seu vigor após a reação da direita e o estabelecimento de um governo conservador em acordo com o imperialismo. Tamayo, que foi uma das figuras centrais deste movimento, desde 1921 trabalhava no Museu Nacional de Arqueologia de México, que teve um importante papel em seus estudos sobre a cultura indigenista pré-colombiana.

A evolução artística de Tamayo acompanha este movimento, e, ao contrário de Rivera, Orozco e Siqueiros, com o refluxo das lutas e a dispersão do grupo muralista, o pintor retoma a pintura de cavalete. Ele desenvolve aí um interesse muito maior em problemas puramente formais da pintura. Abandona os temas sociais, passa por uma fase abstrata, influenciado pelo construtivismo, e adere, mais tarde à “arte mágica” defendida pelos surrealistas.

Sua experiência como muralista foi de suma importância em suas fases posteriores. Ele desenvolve a partir disso, uma inovação formal na pintura em tela que ficaria conhecida como mixografia, que consistia na aplicação de volume e textura nas telas. Inovações obviamente motivadas por sua experiência como pintor mural.

Suas obras nesta fase misturam diferentes influências, combinando os temas do folclore mexicano com técnicas derivadas primitivismo e do cubismo em uma abordagem fortemente surrealista. Suas criações nesta etapa assemelham-se com aquelas que realizou o cubano Willfredo Lam, pintor que combinou as mesmas técnicas derivadas do modernismo europeu com sua influência da cultura negra de Cuba, concebendo estranhas criaturas vodu.

Alguns temas eram recorrentes em suas obras, como os cães e as máscaras indígenas, além de figuras indefiníveis inspiradas pela estatuária pré-colombiana mexicana.
Suas formas, meio cubistas meio expressionistas, evoluíram para um expressionismo abstrato na década de 1950, quando o artista morava então em Nova Iorque e passou a ser influenciado pela Escola de Jackson Pollock.

O afastamento gradual de Tamayo do movimento mural para aderir mais tarde a uma arte abstrata, puramente emotiva, era uma manifestação da despolitização do artista, mais ignorante do caráter do movimento revolucionário mexicano do que seus colegas muralistas.

Esta despolitização seria também sua ruína. Após atravessar diversas fases ao longo das décadas de 1930 e 40, o artista acaba assimilado na década seguinte pela burguesia imperialista norte-americana que alavanca sua carreira da mesma forma que o fez com os artistas da Escola de Nova Iorque. Em 1957 Tamayo recebe uma premiação oficial do governo francês. Em 1958 executa um painel para o Palácio da UNESCO e um ano mais tarde ingressa em diversas instituições oficiais norte-americanas. Este processo de venda do artista o levaria até mesmo a Israel, onde ele executa grandes painéis por encomenda do governo, e chega a apoiar a política israelense contra as nações árabes e a causa palestina. Foi precisamente nesta etapa que o imperialismo passou a patrocinar diretamente seu trabalho. Diversos museus israelenses adquiriam seus quadros e Tamayo hoje é um nome frequente entre as grandes coleções particulares de arte. No México ele ganhou até mesmo um museu de artefatos pré-colombianos que leva seu nome, o Museo Rufino Tamayo, em Oaxaca, sua cidade natal.

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