sábado, 30 de junho de 2012

Exposição das obras de Caravaggio será inaugurada em julho no MASP

A mostra de um dos maiores mestres da arte barroca abre dia 27 de julho. Chegando de Belo Horizonte, apresentará em São Paulo pinturas que eram até agora inéditas no Brasil

São Jerônimo Que Escreve.
Será aberta no próximo mês, dia 27 de julho, uma importante mostra das obras de Caravaggio no Museu de Arte de São Paulo (MASP). A exposição Caravaggio e seus seguidores, depois de ter sido apresentada em Minas Gerais, levará ao público paulista oito telas do artista. O pequeno número de trabalhos pode surpreender, mas raramente as obras de Caravaggio viajam à América, de modo que esta é uma das maiores exposições da obra do pintor já realizadas deste lado do Atlântico.

Ao longo de sua atividade, o artista italiano realizou várias réplicas de suas próprias telas, pintando por vezes quatro ou cinco versões de um mesmo quadro. São essas versões menos conhecidas de quadros famosos que chegam agora ao Brasil. Uma das pinturas famosas presentes na exposição é São Jerônimo Que Escreve. Outro que merece destaque é sua famosa cabeça Medusa e também São Francisco em Meditação, mostrando o santo católico pobremente trajado.

Além das oito obras do mestre barroco, a exposição inclui ainda outros 14 trabalhos de alguns contemporâneos e seguidores do pintor, os chamados caravaggescos, entre eles, Jusepe De Ribera, Artemisia Gentileschi, Bartolomeo Cavarozzi, Giovanni Baglione, Giovan Battista, Hendrick van Somer, Leonello Spada, Mattia Preti, Orazio Borgianni e Orazio Gentileschi.

Essa é uma grande oportunidade de se ver reunidas algumas das obras mais representativas da história da pintura, todas provenientes do museu romano Polo Museale.
Michelangelo Merisi da Caravaggio foi o primeiro grande representante da pintura Barroca e sua obra reflete o encerramento da arte renascentista. Ele nasceu no final do século XVI, cerca de dez anos após a morte de Michelangelo Buonarroti, e, durante seus anos de formação, presenciou a crise da arte em seu tempo.
Medusa.
A grande corrente oficial das artes, quando Caravaggio chega à maturidade, era o Maneirismo em uma fase de decadência, e correspondia ao período derradeiro da arte renascentista já em desagregação. Essa arte expressava a crise política em que a Europa estava mergulhada desde a Reforma protestante e a tendência à formação dos Estados nacionais.

A Igreja Católica, combatendo a influência da Reforma e da tendência à ruptura política, assume diretamente controle sobre as artes após o Concílio de Trento, estabelecendo cânones rigorosos acerca da representação de santos e temas sagrados.

A crise geral emerge na pintura a partir de composições e soluções formais cada vez mais inquietantes. As ideias de harmonia e equilíbrio inspiradas no classicismo greco-romano, típicos da Renascença, dão lugar à instabilidade, às formas angulosas, à desarmonia. Era uma nova pintura que começava a seguir no sentido contrário ao da Alta Renascença, cultivadora de ideais humanistas, e se desenvolvia no sentido de um misticismo cada vez mais pronunciado.

A pintura deixa de buscar o naturalismo, a aproximação da realidade e volta-se para representações fantásticas e sobrenaturais da religiosidade, refletindo a histeria das campanhas religiosas, o fanatismo católico, a Inquisição, e, ao mesmo tempo, a ditadura ideológica, as crises pessoais e as dúvidas a respeito da legitimidade daquelas imposições. As figuras e as composições vão se distanciando do realismo para se tornar cada vez mais estilizadas e artificiais. Se por um lado representava a consumação das técnicas renascentistas, por outro expressava a decadência daquela pintura.

Tecnicamente, o desenvolvimento do Maneirismo iria desembocar na pintura barroca, que representava a reorganização da crise da pintura em torno de uma nova técnica coerente, uma pintura marcada pela grandiosidade e dramaticidade das representações. Ideologicamente, os novos artistas barrocos manifestavam a retomada das ideias racionais e científicas em oposição ao obscurantismo religioso que dominara a Europa durante as crises da Reforma e Contra-Reforma.

Michelangelo Caravaggio foi o primeiro grande nome dessa tendência que se afirmou no período de formação das monarquias absolutas, pintura adotada pelas monarquias para representar a grandiosidade dos novos impérios, e viria a se tornar a corrente mais importante da Europa até meados do século XVIII.

Tendo chegado à maturidade somente na última década do século XVI, Caravaggio constituiu sua obra em um intervalo de pouco mais de uma década, morrendo precocemente aos 38 anos.
Ele era considerado já em seu tempo um pintor excepcional, dotado de uma técnica incomparavelmente realista, mas, ainda assim, a liberdade para tratar seus temas e a violência das paixões representadas frequentemente chocavam e provocavam escândalo entre a nobreza e a Igreja.

Sua obra era uma reação à tradicional pintura maneirista em diversos sentidos, inaugurando uma visão totalmente nova na arte.

Caravaggio se voltava contra as representações fantasiosas e estilizadas das cenas e figuras, desenvolvendo, ao contrário, um realismo nunca visto antes na pintura, conseguido a partir de um violento jogo de luzes e sombras.

Seus santos e arcanjos também não eram idealizados, não tinham trajes suntuosos e fisicamente não guardavam semelhança com a aristocracia. As poses artificiais do maneirismo davam lugar também a gestos naturalistas. Caravaggio tomava camponeses, mendigos e prostitutas como modelos, e os pintava tal qual eles eram, obtendo retratos realistas que mantinham as feições consideradas “rudes” e “vulgares” para os padrões artísticos da época. O artista buscava, com isso, aproximar os valores morais pregados pela religião e a vida cotidiana dos homens, marcada pelo sofrimento e a miséria. Ele ressaltava, assim, valores humanistas que constituíam críticas flagrantes à hipocrisia do discurso religioso do clero, à suntuosidade em que vivia a alta burocracia católica e à corrupção da Igreja.

O compromisso de Caravaggio com a verdade artística o manteve sempre uma figura marginalizada entre os pintores de seu tempo. Ele residiu a maior parte de sua vida em Roma, pintou dezenas de obras religiosas por encomenda de nobres, mas, devido à sua recusa em se adaptar ao gosto medíocre dos clientes, viveu muitos períodos na completa miséria. Após assassinar um nobre, Caravaggio foi forçado a fugir de Roma, e a viver de modo errante. Morou em Nápoles, Sicília, Siracusa, Messalina e Palermo.

Ferido mortalmente por um de seus perseguidores, o pintor morreu em 1610, enquanto se dirigia para Roma, após conseguir o perdão do Papa pelo seu crime.

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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Exposição reúne obras de ítalo-brasileiros representativos da arte nacional

Em cartaz no Memorial da América Latina, a mostra busca destacar a presença dos italianos e seus descendentes nas artes brasileiras a partir de artistas como Eliseu Visconti, Brecheret, Poty, Pancetti, Volpi, Mário Zanini e Iberê Camargo, entre outros 

José Pancetti, Paisagem de Saquarema, 1955.
 Estreia hoje (28) no Memorial da América Latina, a exposição Passato Immediato – Presença Italiana na Arte Brasileira, apresentando uma ampla reunião de trabalhos de artistas italianos que vieram ao Brasil e de brasileiros descendentes de italianos.

A mostra reúne um total de 150 trabalhos de 80 de artistas, tais como Eliseu Visconti, José Pancetti, Victor Brecheret, Poty Lazarotto, Mário Zanini, Fúlvio Pennacchi, Alfredo Volpi, Iberê Camargo, Mario Buti, Mônica Nador, Antonio Dias, Ana Maria Maiolino, Cristiano Marcaro, CláudioTozzi, Evandro Carlos Jardim, Paulo Pasta e Sérgio Romagnolo, entre muitos outros.
A mostra integra a programação cultural do Momento Itália-Brasil, acordo entre os governos brasileiro e italiano que tem trazido diversas exposições importantes ao Brasil, tais como a dos artefatos de Roma, a de Giorgio e Di Chirico ou a de Michelangelo da Caravaggio, no MASP.
Essa mostra do Memorial da América Latina, ao contrário das outras exposições, privilegia a influência da cultura italiana sobre as artes nacionais, que é enorme.

Entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, milhares de imigrantes chegaram ao Brasil para trabalhar nas lavouras de café em expansão no Sudeste brasileiro. Conforme essa economia entrava em crise, houve um novo êxodo para as cidades, particularmente para São Paulo, que teve milhares de italianos empregados em suas indústrias.

Essa “invasão” italiana no estado de São Paulo, mas também em toda região Sul e Sudeste, modificou significativamente a fisionomia da população desses estados, e, desde então, a cultura italiana faz parte da vida cotidiana de parte expressiva da população, principalmente no Estado de São Paulo, onde se deu a maior concentração de imigrantes em função da importância econômica da região.

O mesmo se deu com arte. Inúmeros foram os artistas italianos e seus descendentes que se tornaram figuras representativas da arte brasileira, e é justamente essa contribuição que a mostra pretende destacar.

Eliseu Visconti.
Eliseu Visconti, por exemplo, nascido na Itália e emigrado ao Brasil, foi um dos mais importantes artistas da pintura nacional, grande mestre da pintura da virada do século, com influências diversas do realismo, do impressionismo, do simbolismo e do art noveau.
 
Victor Brecheret, igualmente italiano, emigrou ao Brasil na infância com a família. Na adolescência, após estudar em instituições paulistas, mudou-se para a Itália, onde amadureceu sob a influência da escultura renascentista e também do modernismo francês de Rodin e Bourdelle. De volta ao Brasil, Brecheret se tornaria o mais importante escultor modernista do País.

O pintor José Pancetti, nome também representativo do modernismo brasileiro da segunda geração, era filho de italianos. Também filho de imigrantes era Poty Lazarotto, um dos mais importantes ilustradores da geração de 1940, que se formou no grupo de Dalton Trevisan.
Esses são apenas alguns dos exemplos de ítalo-brasileiros representativos das artes nacionais, dentre os quais também poderiam ser citados Alfredo Volpi, pioneiro da pintura abstrata geométrica no Brasil, ou Fúlvio Pennacchi, pintor primitivista.

Mas além da tradição mais moderna da pintura brasileira, há ainda artefatos interessantes e raros, como o mapa original da costa do Brasil feito pelo explorador italiano Américo Vespúcio, provavelmente o primeiro registro cartográfico completo do litoral brasileiro, feito em 1501.
As obras que integram a exposição fazem parte de coleções públicas e particulares: da Pinacoteca do Estado de S. Paulo, do MAC-USP, do Instituto Lina e Pietro Maria Bardi, do Palácio dos Bandeirantes e da Coleção Brasiliana do Instituto Cultural Itaú, além de outras galerias de arte paulistas.

’Klaxon’, a primeira revista do modernismo brasileiro, esta semana no jornal Causa Operária

Encerrada a Semana de 22, o grupo modernista inicia uma nova etapa importante de sua atividade de agitação em prol da nova arte, no número de Causa Operária que está nas ruas, analisamos a trajetória da primeira revista literária da Geração de 22

Nos meses imediatamente posteriores à realização da Semana de Arte Moderna, em 1922, o grupo modernista ingressa em um de seus períodos de maior efervescência. A iniciativa mais importante do grupo, naquele momento, é a organização do primeiro órgão do modernismo brasileiro, a revista Klaxon: mensário da arte moderna.

No caderno de Cultura de Causa Operária que está nas ruas, trazemos a primeira parte do artigo O ano de 1922 depois da Semana: a consolidação do modernismo. Nela, apresentamos uma análise completa de toda a trajetória de Klaxon desde a fundação, até a edição final, publicada em janeiro de 1923.

A intenção do artigo é destacar as consequências positivas que teve o triunfo da Semana de 1922 para os artistas da nova geração. E a criação dessa revista modernista foi sem dúvida um marco na evolução do movimento.

Entre os destaques do artigo está a análise do manifesto inaugural de Klaxon, em que o grupo apresenta abertamente seu programa artístico internacionalista e seu compromisso em expressar seu próprio tempo, em ruptura com as tendências do passado.

Além da matéria de análise, acompanha também a edição, uma série de fac-símiles das páginas de Klaxon, com diversos poemas e artigos publicados na revista, as colunas regulares, os debates, as resenhas de livros e comentários sobre o movimento cultural brasileiro em 1922.

Esta é apenas a primeira parte do artigo O ano de 1922 depois da Semana: a consolidação do modernismo. Na segunda parte, o foco da análise serão os dois principais livros modernistas publicados em 1922, que são também os dois primeiros livros do movimento: a coletânea poética Pauliceia desvairada, de Mário de Andrade, e o romance Os condenados, de Oswald de Andrade.

O lançamento de ambas as obras era igualmente resultado da fermentação do grupo modernista após 1922. O mais importante desses livros era Pauliceia desvairada, que estava escrito desde 1920, mas Mário de Andrade só adquire confiança para publicá-lo após o êxito da Semana. Junto aos poemas, Mário acrescenta também um importante prefácio, o hoje famoso Prefácio interessantíssimo, que foi praticamente o primeiro manifesto programático do modernismo de 1922, aos quais se seguiriam muitos outros, como o prefácio de Klaxon, o ensaio A escrava que não é Isaura, também de Mário de Andrade, o Manifesto Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, etc.

A partir do presente número da série 90 anos da Semana de Arte Moderna, iniciamos uma segunda etapa de nosso especial, detendo-nos agora nos acontecimentos que se sucedem à realização da Semana, anos de crescente radicalização do movimento. Leia Causa Operária, adquira já seu exemplar e acompanhe nossos especiais.

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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Poty tem obra exposta em Curitiba


Integrante da geração de artistas surgidos na década de 1940, no Paraná, Poty Lazzaroto tornou-se um dos mais destacados ilustradores do País. Uma mostra representativa de seu trabalho está agora em cartaz na capital paranaense 


Um dos mais destacados ilustradores brasileiros, Poty Lazzarotto, está com seus trabalhos expostos atualmente no Museu Oscar Niemeyer.
O paranaense que se destacou principalmente pelas ilustrações que realizou para romances, livros de contos e poesia a partir da década de 1940. Sua atividade, porém, se estendeu mais parte para o terreno das pinturas murais, executando obras em baixo relevo e azulejos em fachadas de edifícios e monumentos públicos.
A exposição agora organizada em Curitiba apresenta uma reunião bastante vasta dos trabalhos de Poty, com um total de 800 obras, que acompanham todas as metamorfoses dos desenhos do ilustrador, desde os desenhos da juventude, passando pelas suas primeiras ilustrações em livros e os desenhos que produziu para a revista Joaquim – criada por Dalton Trevisan –, entre outros, incluindo as centenas de gravuras que o artista realizou ao longo de cerca de 50 anos de atividade.
Entre os destaques da exposição estão trabalhos nunca expostos antes em público, como os desenhos que o artista executou em sua viagem ao Parque do Xingu, além de fotografias também inéditas e outros materiais pessoais.
Poty, de todos nós inclui ainda os estudos preparatórios executados por Poty na elaboração de seus projetos monumentais.
A exposição ocupa o todo salão principal do Museu Oscar Niemeyer, o espaço Olho, e permanecerá em cartaz até dia 5 de agosto.

S. Francisco de Assis, por Poty
Breve retrato de Poty

Estudante da Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, o primeiro trabalho significativo de Poty não estava ligado ao desenho, mas à literatura. Foi a publicação, em 1938, ainda aos 14 anos, de uma novela em seis capítulos para o jornal paranaense Diário da Tarde.
Poty descobriu o gosto e pela ilustração apenas em 1943, quando realizou diversos desenhos para o livro Lenda da Herva Mate Sapecada, de Hermínio da Cunha César.
Em 1946, o ilustrador tomou parte também no projeto da revista Joaquim, criada por Dalton Trevisan. Ele foi um colaborador ativo e assinou desenhos presentes em todos os números da revista nos dois anos em que ela circulou. Joaquim foi uma das mais importantes iniciativas literárias do Paraná, atraindo, como colaboradores, dezenas de nomes significativos das artes e da literatura do período, como Di Cavalcanti, Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade, além de críticos literários como Otto Maria Carpeaux e Antônio Cândido. Além de autores nacionais, Joaquim também publicava traduções inéditas de autores estrangeiros, tais como Kafka, Proust, Joyce, Gide e Sartre, entre outros.
Nos anos seguintes, Poty trabalhou como ilustrador de artigos de diferentes jornais e revistas, e foi também a partir desse período que ele desenvolveu seu trabalho como ilustrador de livros, atividade que era muito difundida entre as décadas de 1960 e 70. Nesses anos ele ilustrou obras de José de Alencar, Machado de Assis, Antônio de Alcântara Machado, Raul Bopp, Guimarães Rosa, Gilberto Freire, Jorge Amado, Raquel de Queiroz e Dalton Trevisan, entre outros.
Foi também entre as décadas de 1950 e 60 que Poty começou a executar encomendas de murais para monumentos. Entre os inúmeros projetos em que tomou parte, destaca-se o mural que ele realizou na sede da UNE – União Nacional dos Estudantes, com tema baseado na obra O processo, de Kafka. O mural acabou destruído pelos militares após o Golpe.
Outros murais importantes de Poty são o da fachada do Teatro Guaíra, o mais importante de Curitiba; o mural da Praça 19 de Dezembro, também na capital paranaense; e um painel para o Memorial da América Latina, em São Paulo, cuja arquitetura foi concebida por Oscar Niemeyer.

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quinta-feira, 21 de junho de 2012

Exposição da obra de Jasper Johns chega a São Paulo

Membro de uma geração de artistas conhecida como neodadaístas, Jasper Johns é o elo entre a geração do expressionismo abstrato e a pop arte do final da década de 1950 nos Estados Unidos 

“A situação era tão ruim que me sentia impelido a experimentar qualquer coisa absurda que aparecesse pela frente”, a afirmação é de Adolph Gotlieb, um dos iniciadores do expressionismo abstrato nos Estados Unidos. Gotlieb se referia a um estado de espírito comum a todos os pintores de sua geração. Cerca de uma década mais tarde os novos artistas que apenas começavam suas atividades, se deparavam com um expressionismo abstrato já desgastado, transformado em uma instituição oficial da pintura norte-americana. Aquela mesma “inquietação” descrita por Gotlieb, porém, tomava conta também da nova geração, e os esforços dos artistas mais jovens começaram a seguir no sentido da ruptura com o expressionismo abstrato, e em busca de um novo caminho para o desenvolvimento da pintura.

Jasper Johns foi um dos expoentes da nova geração. Em suas buscas, ele redescobriu a anti-arte de Marcel Duchamp, que se tornou, a partir de então, o ponto de partida para o movimento de renovação da arte norte-americana.

A geração de Jasper Johns abrange poucos mais significativos artistas que ficariam conhecidos como neodadaístas, a geração intermediária entre o expressionismo abstrato e a arte pop do final da década de 1950.

Foi Johns, Rauschenberg e outros, que iniciaram o trabalho de transformação das antitécnicas dadaístas em uma nova técnica artística. Em um momento em que a pintura enquanto tal parecia ter se esgotado, o novo caminho para o desenvolvimento das artes tornava-se a antiarte. E algumas das ideias mais típicas da futura arte pop, como a reciclagem dos ready-mades duchampianos, foram inauguradas pelos neodadaístas.

É um recorte da produção de um desses pioneiros, Jasper Johns, que chega agora ao Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.

Infelizmente a exposição não aborda os anos iniciais da atividade desse artista, no final da década de 1950, mas sua produção da década de 1960, já próximo da pop arte. É uma fase menos significativa da obra de Johns, quando ele passou a desenvolver em técnicas de gravura em metal, litogravura e serigrafia, temas típicos de sua obra, como a bandeira norte-americana, o mapa dos Estados Unidos ou as latas de cerveja Ballantine Ale, tomados como “naturezas-mortas”.

A exposição Jasper Johns: pares trios álbuns reúne 70 trabalhos do artista, marcados pela repetição de assuntos tão típica da arte pop.

Johns, porém, nunca foi propriamente um membro da arte pop. Sua obra traz a marca daquele período intermediário entre os dois movimentos. Raramente a obra de Jasper Johns adquire a feição de uma peça industrial impessoal, como os quadros de Roy Liechtenstein ou Andy Warholl. Ao contrário, Jonhs sempre usaria técnicas da pintura emotiva do expressionismo abstrato para abordar temas “frios”, sem apelo emocional.

Certamente o principal destaque da mostra vai para o conjunto de gravuras retratando a bandeira norte-americana, cuja concepção foi um dos marcos da arte neodadaísta.

Bandeira era uma obra conscientemente ambígua. Ao mesmo tempo uma bandeira, com todas as suas conotações emocionais e subjetivas como símbolo maior dos Estados Unidos, e também uma pintura perfeitamente abstrata, geométrica, regular. Johns executou a primeira obra da Bandeira em 1954, e cada vez mais interessado nessa ideia, inspirada nos ready-mades de Duchamp, ao longo de toda a vida o artista a retomou em variações. Ao contrário do que se poderia supor, apesar da bandeira passar a ser tratada como um tema abstrato, em incontáveis variações cromáticas, a ambiguidade inicial se mantêm, e é isso que sempre interessou o artista.

A exposição, inaugurada na última terça-feira, permanecerá aberta à visitação até o dia 26 de agosto.

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sexta-feira, 8 de junho de 2012

MASP exibe reunião das esculturas de seu acervo

Depois de exibir todas as pinturas da coleção do museu, organizada em segmentos temáticos, agora o museu apresenta um recorte representativo das esculturas de sua coleção, incluindo obras de Degas, Renoir, Rodin, Lipchitz, Brecheret, Ernesto de Fiori e Wesley Duke Lee, entre outros
O Museu de Arte de São Paulo inaugurou em junho uma nova exposição abrangendo um recorte representativo das esculturas do acervo do museu. É uma rara oportunidade de ver o conjunto das esculturas do MASP, uma das coleções mais importantes do continente, reunidas em uma única mostra.

Obsessões da Forma compreende um total de cinquenta peças de diferentes épocas e diferentes tradições artísticas.

Os trabalhos mais antigos da coleção do museu são os dois guerreiros chineses da Dinastia Ming. 
Mas os principais destaques vão para os trabalhos da tradição mais moderna da arte, realizados a partir do final do século XIX. Dos impressionistas há obras de Renoir e Degas.

Destes, destaca-se a excepcional peça de Degas, Bailarina de 14 anos, uma das melhores aquisições do museu. De Renoir está a estatueta Vênus, executada já no final da vida do artista, no período em que ele se voltava para o classicismo renascentista.

Já da virada do século XIX, destaca-se a obra de Rodin, mais importante artista responsável pelo início da escultura moderna. Dele está na mostra o belo bronze A eterna primavera, que mostra um jovem casal se beijando fervorosamente.

Do período do modernismo, provavelmente o trabalho mais representativo do museu seja a peça Pierrô com bandolim, do escultor cubista Jacques Lipchitz, realizada em 1925.

Do modernismo brasileiro há diversos trabalhos. Um deles é uma bela peça de Brecheret, o autorretrato do escultor em bronze, produzido na década de 1940, trabalho representativo da fase em que o artista trabalhava em seu Monumento às Bandeiras.

Outro escultor nacional que tem várias obras preservadas no acervo do MASP é Ernesto de Fiori. Em sua vasta produção destaca-se na exposição sua a cabeça Greta Garbo, representação modernista da famosa atriz sueca, executada na década de 1930.
 Também Bruno Giorgi tem exposta uma se suas obras futuristas, o bronze Catavento.

Do pós-guerra, há trabalhos avançados de artistas como os norte-americanos Alexander Calder, representado por um de seus móbiles; e Jim Dine, com a estranha peça surrealista Macaco com gato; ou os brasileiros Wesley Duke Lee, com sua escultura-instalação Helicóptero; e Emanuel Araujo, com a peça concretista modelada em aço, Bicho alado.

Obsessões da Forma inaugurada no início de junho, permanecerá aberta à visitação até 31 de outubro.