quinta-feira, 21 de junho de 2012

Exposição da obra de Jasper Johns chega a São Paulo

Membro de uma geração de artistas conhecida como neodadaístas, Jasper Johns é o elo entre a geração do expressionismo abstrato e a pop arte do final da década de 1950 nos Estados Unidos 

“A situação era tão ruim que me sentia impelido a experimentar qualquer coisa absurda que aparecesse pela frente”, a afirmação é de Adolph Gotlieb, um dos iniciadores do expressionismo abstrato nos Estados Unidos. Gotlieb se referia a um estado de espírito comum a todos os pintores de sua geração. Cerca de uma década mais tarde os novos artistas que apenas começavam suas atividades, se deparavam com um expressionismo abstrato já desgastado, transformado em uma instituição oficial da pintura norte-americana. Aquela mesma “inquietação” descrita por Gotlieb, porém, tomava conta também da nova geração, e os esforços dos artistas mais jovens começaram a seguir no sentido da ruptura com o expressionismo abstrato, e em busca de um novo caminho para o desenvolvimento da pintura.

Jasper Johns foi um dos expoentes da nova geração. Em suas buscas, ele redescobriu a anti-arte de Marcel Duchamp, que se tornou, a partir de então, o ponto de partida para o movimento de renovação da arte norte-americana.

A geração de Jasper Johns abrange poucos mais significativos artistas que ficariam conhecidos como neodadaístas, a geração intermediária entre o expressionismo abstrato e a arte pop do final da década de 1950.

Foi Johns, Rauschenberg e outros, que iniciaram o trabalho de transformação das antitécnicas dadaístas em uma nova técnica artística. Em um momento em que a pintura enquanto tal parecia ter se esgotado, o novo caminho para o desenvolvimento das artes tornava-se a antiarte. E algumas das ideias mais típicas da futura arte pop, como a reciclagem dos ready-mades duchampianos, foram inauguradas pelos neodadaístas.

É um recorte da produção de um desses pioneiros, Jasper Johns, que chega agora ao Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.

Infelizmente a exposição não aborda os anos iniciais da atividade desse artista, no final da década de 1950, mas sua produção da década de 1960, já próximo da pop arte. É uma fase menos significativa da obra de Johns, quando ele passou a desenvolver em técnicas de gravura em metal, litogravura e serigrafia, temas típicos de sua obra, como a bandeira norte-americana, o mapa dos Estados Unidos ou as latas de cerveja Ballantine Ale, tomados como “naturezas-mortas”.

A exposição Jasper Johns: pares trios álbuns reúne 70 trabalhos do artista, marcados pela repetição de assuntos tão típica da arte pop.

Johns, porém, nunca foi propriamente um membro da arte pop. Sua obra traz a marca daquele período intermediário entre os dois movimentos. Raramente a obra de Jasper Johns adquire a feição de uma peça industrial impessoal, como os quadros de Roy Liechtenstein ou Andy Warholl. Ao contrário, Jonhs sempre usaria técnicas da pintura emotiva do expressionismo abstrato para abordar temas “frios”, sem apelo emocional.

Certamente o principal destaque da mostra vai para o conjunto de gravuras retratando a bandeira norte-americana, cuja concepção foi um dos marcos da arte neodadaísta.

Bandeira era uma obra conscientemente ambígua. Ao mesmo tempo uma bandeira, com todas as suas conotações emocionais e subjetivas como símbolo maior dos Estados Unidos, e também uma pintura perfeitamente abstrata, geométrica, regular. Johns executou a primeira obra da Bandeira em 1954, e cada vez mais interessado nessa ideia, inspirada nos ready-mades de Duchamp, ao longo de toda a vida o artista a retomou em variações. Ao contrário do que se poderia supor, apesar da bandeira passar a ser tratada como um tema abstrato, em incontáveis variações cromáticas, a ambiguidade inicial se mantêm, e é isso que sempre interessou o artista.

A exposição, inaugurada na última terça-feira, permanecerá aberta à visitação até o dia 26 de agosto.

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