“A situação era tão ruim que me sentia impelido a experimentar qualquer coisa absurda que aparecesse pela frente”, a afirmação é de Adolph Gotlieb, um dos iniciadores do expressionismo abstrato nos Estados Unidos. Gotlieb se referia a um estado de espírito comum a todos os pintores de sua geração. Cerca de uma década mais tarde os novos artistas que apenas começavam suas atividades, se deparavam com um expressionismo abstrato já desgastado, transformado em uma instituição oficial da pintura norte-americana. Aquela mesma “inquietação” descrita por Gotlieb, porém, tomava conta também da nova geração, e os esforços dos artistas mais jovens começaram a seguir no sentido da ruptura com o expressionismo abstrato, e em busca de um novo caminho para o desenvolvimento da pintura.
Jasper
Johns foi um dos expoentes da nova geração. Em suas buscas, ele
redescobriu a anti-arte de Marcel Duchamp, que se tornou, a partir de
então, o ponto de partida para o movimento de renovação da arte
norte-americana.
A
geração de Jasper Johns abrange poucos mais significativos artistas que
ficariam conhecidos como neodadaístas, a geração intermediária entre o
expressionismo abstrato e a arte pop do final da década de 1950.
Foi
Johns, Rauschenberg e outros, que iniciaram o trabalho de transformação
das antitécnicas dadaístas em uma nova técnica artística. Em um momento
em que a pintura enquanto tal parecia ter se esgotado, o novo caminho
para o desenvolvimento das artes tornava-se a antiarte. E algumas das
ideias mais típicas da futura arte pop, como a reciclagem dos ready-mades duchampianos, foram inauguradas pelos neodadaístas.
É um recorte da produção de um desses pioneiros, Jasper Johns, que chega agora ao Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.
Infelizmente
a exposição não aborda os anos iniciais da atividade desse artista, no
final da década de 1950, mas sua produção da década de 1960, já próximo
da pop arte. É uma fase menos significativa da obra de Johns, quando ele
passou a desenvolver em técnicas de gravura em metal, litogravura e
serigrafia, temas típicos de sua obra, como a bandeira norte-americana, o
mapa dos Estados Unidos ou as latas de cerveja Ballantine Ale, tomados
como “naturezas-mortas”.
A exposição Jasper Johns: pares trios álbuns reúne 70 trabalhos do artista, marcados pela repetição de assuntos tão típica da arte pop.
Johns,
porém, nunca foi propriamente um membro da arte pop. Sua obra traz a
marca daquele período intermediário entre os dois movimentos. Raramente a
obra de Jasper Johns adquire a feição de uma peça industrial impessoal,
como os quadros de Roy Liechtenstein ou Andy Warholl. Ao contrário,
Jonhs sempre usaria técnicas da pintura emotiva do expressionismo
abstrato para abordar temas “frios”, sem apelo emocional.
Certamente
o principal destaque da mostra vai para o conjunto de gravuras
retratando a bandeira norte-americana, cuja concepção foi um dos marcos
da arte neodadaísta.
Bandeira
era uma obra conscientemente ambígua. Ao mesmo tempo uma bandeira, com
todas as suas conotações emocionais e subjetivas como símbolo maior dos
Estados Unidos, e também uma pintura perfeitamente abstrata, geométrica,
regular. Johns executou a primeira obra da Bandeira em
1954, e cada vez mais interessado nessa ideia, inspirada nos
ready-mades de Duchamp, ao longo de toda a vida o artista a retomou em
variações. Ao contrário do que se poderia supor, apesar da bandeira
passar a ser tratada como um tema abstrato, em incontáveis variações
cromáticas, a ambiguidade inicial se mantêm, e é isso que sempre
interessou o artista.
A exposição, inaugurada na última terça-feira, permanecerá aberta à visitação até o dia 26 de agosto.
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