sábado, 14 de julho de 2012

Klimt e as Secessões: o início da pintura moderna nos países germânicos

O pintor austríaco foi o principal representante do movimento de renovação da pintura austríaca no final do século XIX, desenvolvendo uma obra que constituiria o elo entre a velha tradição na pintura e a nova geração de artistas expressionistas

14 de julho de 2012 

Painel Medicina, de Klimt.
No dia 14 de julho de 1862, há exatos 150 anos, nascia o pintor austríaco Gustav Klimt, autor de uma das obras mais interessantes e originais da pintura moderna.

Nascido em Viena, Klimt pertenceu à primeira geração de pintores modernos a surgir simultaneamente na Alemanha e na Áustria a partir da influência, cada vez mais presente, da pintura moderna francesa. Esse movimento seria impulsionado, sobretudo, pelo crescimento industrial alemão, que influenciaria também sua vizinha, a Áustria.

Essa geração chega à sua fase madura na década de 1890, exatamente no momento em que o impressionismo atingia o esgotamento em Paris, que seus integrantes de dispersavam, e seu legado passava a servir como ponto de partida para uma nova geração de pintores em busca de outros caminhos para sua arte.

Na Áustria, Klimt foi o principal líder da nova geração. Ele começou sua atividade no final da década de 1870 como um promissor pintor acadêmico, mas rapidamente assimilou influências formais mais moderas, como o impressionismo e o art noveau. Ele foi muito festejado pelos seus primeiros trabalhos, pintados, em sua maioria, como encomendas de instituições acadêmicas e patronos burgueses. Sua arte, porém, começou a despertar controvérsias entre os meios burgueses na medida em que Klimt começava a romper com as normas acadêmicas. Suas telas afastavam-se do realismo e do ilusionismo tridimensional e tornavam-se cada vez mais planas e estilizadas, alinhadas com as correntes internacionais do art noveau e sua correspondente nos países germânicos, o Jugendstil (novo estilo).

Danaê, de Klimt.
A ruptura mais importante em sua trajetória deu-se quando Klimt foi chamado, em 1894, para pintar três painéis no saguão central da Universidade de Viena representando alegorias das faculdades. O pintor, porém, se recusou a adaptar sua composição para a Medicina segundo a opinião conservadora dos professores da instituição. As polêmicas em torno desses painéis se estenderam durante meses e anunciavam já o início da maturidade artística de Klimt, que, após vários outros atritos envolvendo a concepção de suas obras, marginais às doutrinas acadêmicas, se tornou um dos fundadores do grupo Secessão de Viena, inspirado pelo exemplo das duas secessões que foram formadas alguns anos antes na Alemanha.

A atuação desses grupos está na origem da formação de um amplo movimento modernista em ambos os países. Antes das secessões, os pintores modernos alemães e austríacos viviam ainda isolados e marginalizados em seus meios dominados pelo academicismo.

A origem das secessões alemãs remonta ao movimento artístico francês. Sua primeira manifestação data de 1890, quando, em Paris, foi reorganizada sobre novas bases a Société Nationale des Beaux-Arts, formada por um grupo de artistas independentes que rompiam com os meios acadêmicos e resolveram se organizar e se apoiar mutuamente, promovendo exposições e eventos que visavam divulgar as manifestações artísticas dissidentes da nova arte, à maneira de como se organizaram antes deles os impressionistas. Esse grupo parisiense, considerado a primeira manifestação secessionista, era encabeçado por vários nomes representativos da arte simbolista, como o escultor Auguste Rodin e o pintor Puvis de Chavannes.

O beijo da esfinge, de Franz von Stuck, líder da Secessão de Munique.
A ruptura com os salões oficiais promovidos e controlados pelo governo foi um fenômeno geral da pintura europeia naquele período. Foi esse gesto de radicalismo artístico e político que abriu caminho, já no início do século XX, para a grande proliferação das vanguardas modernistas nos tanto na França quanto nos países alemães.

Tanto na Alemanha quanto na Áustria, a pintura moderna começa sob a influência do impressionismo por um lado, mas também do simbolismo, corrente que chegara a esses países vinda também da França, a partir da obra de artistas como Puvis de Chavannes e Gustave Moreau.

Na Alemanha surgem a partir dessa influência, a Secessão de Munique, em 1892, e alguns meses mais tarde, da Secessão de Berlim, grupos que passaram a atuar a partir da organização de exposições coletivas de seus membros.

Ambos os grupos tinham como característica comum a proposta de aproximar as artes plásticas das artes aplicadas, industriais, como o design de cartazes e de objetos. Em Munique, os principais nomes do grupo eram dois pintores simbolistas, o alemão Franz von Stuck e o belga Fernand Khnopff.

Em Berlim, a Secessão surge com uma proposta mais radical, formado em oposição à conservadora Associação de Artistas de Berlim, controlada pelo Estado. Esse grupo se distinguia pelo predomínio da influência dos chamados impressionistas alemães, entre eles, Lovis Corinth foi sua figura mais representativa, mas o grupo contou também com a presença de uma geração mais jovem que iria iniciar a pintura expressionista na Alemanha.

Salomé, de Lovis Corinth, líder da Secessão de Berlim.
Em Viena, a Secessão surge também a partir dos sucessivos atritos dos artistas mais inovadores com a direção da Cooperativa dos Artistas das Artes Decorativas de Viena, que os leva à ruptura, em 1897. Da mesma forma que as Secessões alemãs, portanto, o grupo vienense nasce também com a proposta de aproximar a pintura das novas técnicas industriais. A Secessão de Viena é fundada por Klimt juntamente com os arquitetos e designers Joseph Maria Olbrich, Josef Hoffmann.

A atividade das secessões seria de fundamental influência para uma nova geração de pintores que começavam suas atividades naquela década de 1890. Os dois principais nomes do expressionismo austríaco, Oskar Kokoshka e Egon Schiele, teriam suas primeiras obras expostas justamente nas exposições coletivas organizadas pela Secessão de Viena, que tinham em Gustav Klimt o nome mais importante e influente do grupo.

Egon Schiele, em particular, foi discípulo de Klimt, começou pintando em um estilo claramente influenciado pelo artista mais velho e foi gradualmente partindo para uma pintura menos decorativa e mais emocional, com formas inquietantes e cores violentas e não descritivas, já típicas do expressionismo.

Ao se observar a obra de Klimt e Schiele em perspectiva, têm-se um claro panorama da evolução da pintura moderna, do academicismo para o impressionismo, do impressionismo para o simbolismo e o art noveau, e deste para o expressionismo, corrente que na Áustria teria sua expressão máxima em Kokoshka.

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