sexta-feira, 30 de setembro de 2011

20 anos do disco que popularizou o grunge

Há duas décadas o Nirvana lançava o seu segundo disco, Nevermind e apresentava ao mundo aquele movimento da juventude que nascia em Seatle no limiar do neoliberalismo

Em 2011 temos presenciado o processo de degelo das lutas sociais em todo o mundo. Isso após um período de duas décadas da mais brutal paralisia do movimento operário. No outro extremo desta verdadeira era do gelo que se estabeleceu sobre o planeta, há 20 anos, vinha à luz um dos grandes álbuns da história recente do rock, o disco Nevermind, do Nirvana.

A principal faixa do disco, a agressiva Smells Like Teen Spirit, foi uma das músicas mais populares da década e junto com ela havia todo um conjunto de excelentes composições, como Territorial Pissings, Come as You Are, Drain you, Lithium, Polly, On a Plain. Por estas composições, que tinham todas elas um forte apelo popular, Nevermind, se tornou um dos discos mais influentes do rock no período, considerado talvez a mais representativa gravação de rock da década de 1990.
Este álbum reunia um grupo de composições de alta qualidade e marcou a popularização de um dos últimos movimentos importantes do rock norte-americano, o grunge, que era essencialmente uma versão atualizada e moderada do punk norte-americano da década de 1970.

O punk surgiu em um período de intensa radicalização política não somente nos Estados Unidos, mas em todo o mundo de um modo geral, o que se refletia na agressividade do comportamento das bandas do final da década de 1970 e a crescente politização destes movimentos na década seguinte.

Kurt Cobain, Chris Novoselic e Dave Grohl.
O movimento grunge começou a se formar gradualmente ao longo da década de 1980, como parte do processo de resfriamento das lutas sociais nos Estados Unidos. Ele cresceu e ganhou importância como um movimento mais geral da juventude norte-americana, porém, apenas no início da década de 1990, quando a atitude característica do grunge, passou a encontrar novos adeptos. Ao contrário de outras correntes do rock, o grunge foi um fenômeno bastante heterogêneo. De um modo geral, foi o produto cultural da desilusão de uma camada proletarizada da pequena burguesia norte-americana. Seus adeptos em geral eram figuras marginalizadas, depressivas e sem perspectivas sociais. Foi um movimento sem uma clara ideologia política e tendia fortemente ao subjetivismo.

A maior parte de suas influências vinha diretamente do punk, e o interesse musical destes grupos girava em torno de assuntos relacionados às drogas, à marginalidade, ao cotidiano das ruas. Apesar da agressividade da música grunge, há um forte componente de melancolia e introspecção em suas composições.

O primeiro precursor importante do estilo foi o nova-iorquino Sonic Youth, formado já em 1981, com influências mais claras do punk rock norte-americano. Pouco mais tarde começa se formar um movimento em Seatle. Em 1984 foi fundado o Soundgarden, grupo de tendências divergentes, cuja música oscilava principalmente entre o heavy metal e o hard rock. Em 1987, era criado também o Alice in Chains, tocando músicas derivadas do glam rock, hard rock e outros gêneros. Nasceram na esteira destes grupos, o Pear Jam, o Mudhoney e o Nirvana, grupos que tocando juntos em muitas apresentações em Seatle, dariam forma a este movimento.

A característica musical do grunge era manter a simplicidade das composições do punk rock, mas com uma mistura diversificada de influências.

Pode-se dizer que, como movimento, o grunge surge e se desenvolve entre 1988 e 1890, e, em 1991, com Nevermind, aquele movimento restrito à cidade de Seatle se expande para todos os Estados Unidos, e nos anos seguintes, para outros países. Este crescimento espantoso da popularidade do Nirvana e da filosofia do grupo de um modo geral, correspondia justamente à etapa política em que o mundo entrava então, uma etapa de resfriamento das lutas sociais, que trazia consigo a volta de um conservadorismo atroz. Aqueles três jovens tímidos, melancólicos, de olhar distante, e profundamente contrariados com a vida que levavam, eram a imagem de toda uma geração acuada pela ofensiva da reação neoliberal. Um período de congelamento global que só agora, vinte anos mais tarde, começa a se desfazer.

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Morre Redson, fundador do Cólera e um dos iniciadores do movimento punk brasileiro

O músico foi um dos principais organizadores e impulsionadores do movimento punk paulistano

Morreu na última terça-feira uma das figuras mais representativas do movimento punk no Brasil, guitarrista e vocalista Edson Pozzi, popularmente conhecido como Redson. Ele foi o fundador, em 1979, do Cólera, uma das primeiras e mais importantes bandas de punk rock nacional. Ele estava com apenas 49 anos.

Segundo informou o baixista da banda, Val Pinheiro, Redson foi vítima de uma parada cardiorrespiratória durante a madrugada. Seu corpo foi velado ontem e seu enterro foi marcado para hoje às 10 horas, em São Paulo.

O músico fundou a banda de punk rock, Cólera, ao lado de seu irmão, Carlos Pozzi (Pierre), ainda em 1979. Redson era a principal mente criativa do grupo, guitarrista, vocalista e responsável por parte expressiva das composições da banda. O Cólera foi um dos primeiros grupos de rock brasileiro a se integrar ao movimento punk internacional.

O Cólera no festival O Começo do Fim do Mundo
Mais do que um músico influente, Redson se destacou como um dos organizadores do movimento punk paulista. Em 1982 ele impulsionou a iniciativa de gravação do disco fundador do punk rock nacional, a coletânea Grito Suburbano – SUB, que foi extremamente influente nos anos seguintes. Neste álbum estavam representadas quatro das bandas pioneiras do punk rock paulista, além do Cólera, também o Inocentes, Ratos de Porão e Olho Seco.

No ano de lançamento do disco, foi organizado também por iniciativa destes músicos e do escritor Antônio Bivar, o primeiro grande festival de punk rock no País, O Começo do Fim do Mundo, que teve lugar no prédio do SESC Pombéia.

Capa do disco SUB que lançou o punk paulistano, em 1982.
Em 1984 foi lançado o primeiro disco do Cólera, Tente Mudar o Amanhã, seguido pelo álbum Pela Paz em Todo o Mundo, de 1986. São duas das gravações mais representativas do movimento punk brasileiro. Suas músicas eram voltadas à denúncia da miséria nacional, críticas à burguesia, à política militar dos governos imperialistas; defendendo por outro lado a mobilização popular, o enfrentamento contra o governo, a subversão da ordem burguesa e exaltando um estilo de vida marginal, que seria marca comum em todo o movimento punk.

O movimento punk paulista nasceu a partir da iniciativa da juventude operária radicalizada, no período em que o país estava tomado pelos movimentos grevistas. Uma manifestação nacional do mesmo fenômeno que se desenvolvia também nos Estados Unidos e Europa.

O Cólera estava ainda em atividade e até hoje, lançando seus discos de forma totalmente independente. Seu último disco foi lançado em 2004, Deixe a Terra em Paz.

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45 anos da morte do poeta surrealista André Breton

Por ocasião do 45º aniversário de morte, e também do 115º aniversário do nascimento de André Breton, grande fundador e líder do movimento surrealista, que se completou na última semana, dia 28, apresentamos nesta edição de Causa Operária Online, um especial analisando o caráter profundamente revolucionário das contribuições do poeta francês e de seu movimento artístico para a cultura do século XX. Os artigos que incluímos aqui são de autoria do companheiro Rui Costa Pimenta, editor de Causa Operária e presidente do PCO, escritos para este mesmo jornal no centenário do nascimento do poeta em 1996, 15 anos atrás

28 de setembro de 2011

Retrato de Breton, pelo pintor surrealista Victor Brauner.
Hoje se completa o 45º aniversário de morte do poeta surrealista André Breton, uma das personalidades mais importantes e influentes na história da arte do século XX. Como destaca Rui Costa Pimenta logo no primeiro artigo desta série, este especial não tem uma finalidade “comemorativa”, mas se presta a combater as atuais tendências oportunistas, venais e puramente reacionárias da mentalidade artística vigente nos dias de hoje. Mentalidade, diga-se de passagem, que é produto da própria pressão imperialista sobre os meios artísticos, que nunca foi tão brutal como o é na atualidade.
Os textos que apresentamos neste especial foram originalmente escritos por ocasião do centenário de nascimento de André Breton, e publicados na forma de livro, cuja edição já está esgotada e que deverá sair novamente em uma edição bastante aumentada, neste momento, em preparação.
Estas análises acompanham todo o processo de desenvolvimento do surrealismo, em todas as suas etapas, destacando as principais ideias estéticas e políticas do poeta francês, bem como seu caráter profundamente revolucionário para o desenvolvimento da arte moderna.
No primeiro artigo, o companheiro destaca a crise geral do capitalismo no período e como ela proporcionou a formação das vanguardas modernistas. Ao longo das matérias seguintes, acompanha a gênese do surrealismo desde o período dadá do grupo francês. Analisa o primeiro e o segundo manifestos do Surrealismo, suas crises internas e evolução política até a aproximação de André Breton do revolucionário russo Leon Trótski no México, em 1938, quando juntos eles redigem o importante Manifesto por uma Arte Revolucionária e Independente, que representou uma ampliação nos horizontes políticos do movimento surrealista.

 

- A crise na cultura, a revolução na Cultura. leia
 - Um cataclismo chamado Dadá . leia
- Dadá: auge e esgotamento. leia
- O Manifesto do Surrealismo: “há um homem cortado em dois pela janela". leia
- A Revolução Surrealista. leia
- A revolução acima de tudo e sempre. leia
- Os surrealistas e o partido comunista. leia
- O Surrealismo a Serviço da Revolução: o segundo manifesto do Surrealismo. leia
- A frente popular contra o surrealismo. leia
- Trotski: a arte e a revolução. leia
- “Toda licença em arte”: o manifesto da FIARI. leia




Diego Rivera,  Leon Trótski e André Breton, no México, 1938.

Cesária Évora se despede dos palcos

A cantora anunciou o encerramento de sua atividade por motivos médicos. Ela foi responsável por tornar conhecida internacionalmente a morna, gênero musical de Cabo Verde

27 de setembro de 2011

No final da última semana, a cantora cabo-verdiana Cesária Évora anunciou que estaria abandonando para sempre os palcos. A informação foi veiculada na imprensa através de uma nota de sua gravadora, a Lusafrica.

Segundo explica a nota, a cantora está se aposentando da vida musical por motivos médicos. Atualmente com 70 anos, Cesária Évora está com a saúde muito fragilizada.
Ela iria realizar uma série de shows em Paris quando foi feito o comunicado. “Os médicos que a seguem em Paris ordenaram o cancelamento da sua próxima digressão. Cesária decidiu então, em conjunto com o seu produtor e agente, José da Silva, pôr um fim de maneira definitiva à sua carreira”, informa o texto.

Cesária Évora tem tido uma série de problemas de saúde mais graves desde março de 2008, quando sofreu um AVC durante uma apresentação na Austrália. Desde então, submetida a diferentes procedimentos médicos, sua saúde vem se deteriorando. A nota destaca que “os seus problemas de saúde são consequência das várias operações cirúrgicas a que tem sido submetida nos últimos anos, entre elas uma operação a coração aberto em maio de 2010”.
Apesar disso, a cantora terminará o próximo disco em estúdio, trabalho ao qual vem se dedicando desde o ano passado.

Cesária Évora, que se tornou conhecida como a “rainha da morna”, foi responsável pela popularização da música nacional da ex-colônia portuguesa em outros países. Ela é também uma das principais vozes da África Negra.

Évora nasceu em Mindelo, segunda maior cidade de Cabo Verde, em 1941. Seu pai era também músico e foi dele que ‘Cise’, como era conhecida, recebeu os primeiros estímulos como cantora.
Ainda na infância começou a se apresentar na rua, na principal praça da cidade, cantando ao lado de seu irmão saxofonista. Tornou-se uma figura popular no movimentado bairro do Lombo, cantando em bares e hotéis. Graças aos seus amigos músicos, rapidamente se popularizou em toda a cidade como a principal voz da morna, gênero mais popular de seu país.
A morna está para Cabo Verde como o fado está para Portugal. Ela é tocada, em sua forma mais simples, com um ou dois instrumentos, normalmente um violão, que faz a base melódica, e um instrumento solista, que pode ser outro violão, um violino ou mesmo a própria voz do cantor.
É uma música de andamento lento e tradicionalmente melancólica, que canta as dores e dificuldades da vida dos trabalhadores cabo-verdianos.

Cesária Évora era já uma cantora de destaque quando acontece a Independência em 1975, popularmente conhecida como a “diva dos pés descalços”, por cantar sempre descalça em suas apresentações. A situação econômica do país a obrigou a abandonar por dez anos a vida musical para sustentar a família em empregos diversos. Neste período ela caiu no alcoolismo e sua recuperação só veio no final da década de 1980, quando conseguiu firmar um contrato com um empresário local.

Ela retomou sua atividade cantando principalmente em Portugal, onde o gênero é também conhecido. A partir da repercussão que sua música tem ali, ela consegue tocar também na França. Deste modo, a retomada de sua atividade se dá principalmente através da iniciativa de empresários estrangeiros. Ela grava na ocasião dois álbuns que tem repercussão em outros países europeus, La diva aux pied nus, de 1988; e Miss Perfumado, em 1992.

A música de Cesária Évora, cantando as misérias do povo cabo-verdiano, era em si mesma uma denúncia do parasitismo da dominação portuguesa sobre as ilhas. Mas dá-se no caso dela um processo muito típico de assimilação, por parte do imperialismo, de uma figura importante de um país atrasado.

Esse fato não diminui de maneira nenhuma a importância de Cesária Évora e seu afastamento dos palcos será certamente sentido por todos os amantes da boa música.

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Morre quadrinista Sergio Bonelli, roteirista da revista 'Tex'

26 de setembro de 2011


Morreu nesta segunda-feira, o roteirista italiano de quadrinhos Sérgio Bonelli, principal mente criativa por trás das histórias do cowboy norte-americano Tex Willer.

Bonelli estava com 79 anos e morreu em Monza, na Itália. Ele começou a apresentar problemas de saúde em agosto passado, e estava internado já com a saúde bastante debilitada.

O quadrinista era tido como o mais importante dos profissionais dos quadrinhos na Itália na atualidade. Após a morte de seu pai, criador da revista Tex, Bonelli tornou-se seu continuador. Trabalhando com a revista, ele fundou a maior editora de quadrinhos da Itália, a popular Sergio Bonelli Editore. Foi ela a responsável pela edição de um dos maiores sucessos dos quadrinhos italianos, a série Dylan Dog, iniciada em 1986.

Sua série Tex foi editada em inglês, francês, espanhol e português em uma dezena de países, incluindo o Brasil.

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Gustave Courbet e o nascimento da pintura realista na França

No Quarto Caderno do jornal Causa Operária que já está nas ruas, por ocasião dos 140 anos da Comuna de Paris, apresentamos um especial analisando a vida e obra do grande pintor socialista e militante da Comuna Gustave Courbet, iniciador da pintura realista

26 de setembro de 2011


Os Britadores de Pedras, de Gustave Courbet
Na edição nº 657 do jornal Causa Operária que já está nas ruas, apresentamos um grande especial com a obra de um dos grandes mestres da pintura de todos os tempos, o francês Gustave Courbet.

Sua obra foi uma das pedras de toque do desenvolvimento da pintura no século XIX. Se algum artista poderia figurar como o principal precursor da pintura moderna, certamente seria Gustave Courbet.

O interesse de Courbet pelo mundo ao seu redor, pela sociedade de sua época, e pelos trabalhores mais miseráveis, levaram-no a conceber uma obra extraordinariamente revolucionária pelos caminhos que ela abriu.

Na juventude, Courbet rompeu com o neoclassicismo e o academicismo, as correntes oficiais da pintura francesa naqueles anos. Ele se opôs ao retrato de grandes personalidades da burguesia francesa e às grandes cenas de batalhas, seus próprios autorretratos românticos. Foi, porém, um período transitório de sua obra. A partir de 1848, influenciado pela grande revolução que toma conta da França, ele abandona para sempre o romantismo e desenvolve uma obra de caráter social, realista no conteúdo por seu desprezo pelas alegorias e idealizações românticas.

Homem com Cachimbo (Autorretrato).
Courbet defendia veementemente que o artista se detivesse naquilo que ele via, sem se preocupar em usar sua imaginação. Ele colocava assim um ponto final das pinturas alegóricas que eram um dos temas mais valorizado nas tradições pictóricas anteriores.

Com isto, o pintor introduz justamente o conjunto de temas que figurariam em todo o modernismo: o retrato de paisagens, cenas urbanas, da população comum, anônima. Em outras palavras, da vida real, experimentada diretamente pelo artista. Era toda uma nova mentalidade que se manifestava através destes temas, uma nova concepção do mundo e da tarefa da arte.

Courbet foi o artista mais importante da França ao longo de pelo menos duas décadas, execrado pela oficialidade por suas obras e suas ideias, mas amado pelas jovens gerações de artistas, movidos pelos ideais revolucionários e socialistas defendidos pelo pintor, que ao longo da vida, lutou nas barricadas ao lado dos operários de Paris em 1848 e 1871.

Ao final da vida, Courbet descobriu ainda um caminho para o impressionismo, tornando-se o principal precursor deste movimento. Artista sempre rebelde, sempre fiel às suas concepções socialistas, foi preso depois da Comuna, vindo a morrer no exílio.

Adquira a edição desta semana de Causa Operária e confira esse especial sobre o principal pintor que apoiou e lutou na Comuna de Paris.

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A escultura brasileira vista em perspectiva, do barroco ao modernismo

A mostra 'De Valentin a Valentin' estreou recentemente no Museu Oscar Niemeyer e apresenta um panorama na escultura nacional iniciando e terminando com um escultor negro: o barroco Mestre Valentin, e o abstracionista Rubem Valentin

24 de setembro de 2011

Estreou recentemente no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, uma exposição apresentando um raro panorama do desenvolvimento da arte escultórica no Brasil.

A mostra De Valentim a Valentim – a Escultura Brasileira – Século XVIII ao XX começa com uma reunião dos trabalhos de Mestre Valentim, o principal nome da escultura do barroco carioca.
Grande mestre da arte escultórica e arquitetônica de sua época, Mestre Valentim é um dos raros negros a desempenhar um papel de destaque no Brasil colonial. Ele foi também urbanista, faceta de sua obra que era produto de suas ideias iluministas, sua crença no progresso e na civilização.
Ele era de tal forma apreciado que quando o Rio de Janeiro é nomeado a nova capital do Vice-Reino do Brasil, ele é designado para realizar algumas das edificações oficiais. São dele, além de igrejas barrocas, o Passeio Público e o Chafariz da Pirâmide da capital carioca. Suas esculturas barrocas apresentam grande sofisticação, com características classicistas e do rococó.
Depois das peças de Valentim, a mostra atravessa o século XIX, passando pelos trabalhos de Marc Ferrez, Chaves Pinheiro, Rodolfo Bernardelli e Nicolina Vaz de Assis. Todos eles grandes mestres das artes escultóricas e monumentais.

Adentrando o período modernista, há as peças de Celso Antonio, Ernesto de Fiori, Galileo Emendabili e Victor Brecheret, este último, maior expoente de sua geração e representante exemplar da escultura do primeiro modernismo nacional.

Cobrindo o período do segundo pós-guerra, estão os trabalhos de Francisco Brennand, Frans Krajcberg e Rubem Valentim, representantes de três correntes distintas da escultura contemporânea brasileira.

A obra de Brennand é vinculada à figuração modernista, estilizada, voltada para a criação de peças sintéticas e icônicas, mas sempre associadas à figura. Suas obras tendem para o primitivismo e cubismo sintético. Já Krajcberg é um escultor abstrato cuja obra tem como característica básica, o uso de matérias primas naturais, como formas orgânicas com madeiras de troncos, cipós, folhagens, pedras, etc.

Rubem Valentim, por sua vez, é um representante da correntes abstratas geométricas. Começou sua carreira escultórica como construtivista na década de 1950. Na década seguinte, influenciado pela radicalização popular e surgimento de um novo movimento negro, Valentim incorpora em suas peças influências do folclore africano e afro-brasileiro da Bahia. Suas peças assumem características originais, combinando a abstração geométrica concretista com os símbolos icônicos retirados do candomblé. A mostra De Valentim a Valentim, assim, abre e fecha sua exposição panorâmica com um artista negro. O primeiro, que se tornou grande por seu pleno domínio da grande arte europeia. O segundo, quando adaptou as formas vindas do Velho Continente às suas raízes nacionais e raciais. Deste modo, indiretamente a exposição marca dois momentos significativos da cultura brasileira.
 
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Tropa de Elite 2: apologia a torturadores é escolhido para representar o Brasil no Oscar

A escolha reafirma o caráter de ‘Tropa de Elite 2’ como peça “oficial” de propaganda da política repressiva do governo contra a população das favelas cariocas

24 de setembro de 2011


É verdade que a lista dos filmes nacionais que concorriam à indicação ao Oscar deste ano era sofrível. Entre os “favoritos”, estavam Bruna Surfistinha, e As Mães de Chico Xavier. A escolha, porém, de Tropa de Elite 2, o pastiche brasileiro dos filmes de Charles Bronson, não deixa dúvida da preferência da bancada julgadora pelas obras mais reacionárias da produção nacional.

A decisão, no entanto, é compreensível. A comissão responsável pela escolha do representante brasileiro ao Oscar é designada pelo Ministério da Cultura. Ou seja, é uma escolha direta do governo. Nada mais natural, portanto, que o governo escolhesse a peça mais alinhada com sua própria política repressiva para representar o país na premiação.
 

Para não se ter dúvidas da operação política em torno de Tropa de Elite 2 é importante lembrar que ele foi lançado nos últimos meses de 2010, pouco tempo antes do governo do Rio de Janeiro iniciar uma gigantesca operação repressiva nos morros cariocas, cujo centro era a instalação das UPPs, unidades repressivas de policiamento intensivo das comunidades. Tudo a pretexto de se combater o tráfico.

Quem assistiu ao filme deve lembrar que a obra nada mais é do que a história de um ex-policial que ingressa na Secretaria de Segurança do Rio e tem como obsessão o “combate ao tráfico de drogas”, lançando mão de uma política de financiamento e ampliação em larga escala de sua “polícia honesta”, “heróica”, “virtuosa”, “incorruptível”, ninguém menos que o Bope, que na vida real é famoso nos morros por sua covardia e brutalidade contra qualquer um que cruzar seu caminho, seja trabalhador, mulher ou criança. Nem a série Tropa de Elite, que procura apresentar os policias do Bope como “mocinho” consegue esconder esse fato. No primeiro filme, o “mocinho”, Capitão Nascimento, é um assassino frio. Ele mata qualquer um que considere “suspeito”.

Ele espanca e tortura sem qualquer hesitação em diversas cenas do filme, espantosas por sua violência contra justamente mulheres e crianças. A única pergunta que surge ao espectador é o que se passava pela cabeça do diretor quando decidiu mostrar tal monstro como “herói” de cinema. A direita brasileira, nem precisamos comentar, festejou a criação deste “herói-carniceiro”. “Nascimento é o 1º super-herói brasileiro”, se rejubilava a revista Veja em uma de suas capas.
No segundo filme da série, Nascimento se tornou um homem do governo, mas um suposto renegado, um “paladino da justiça” contra a corrupção estatal (os Democratas choram de emoção). Seu objetivo é um só, varrer o crime dos morros cariocas.

O conto de fadas montado no filme parece um delírio de ácido da direita nacional. Capitão Nascimento expande o Bope, arruma melhores equipamentos, compra helicópteros, monta um verdadeiro exército de combate à população miserável. Os corruptos miúdos, policiais que atuam como milícias paramilitares nos morros, são esmagados impiedosamente. Em seu lugar, é instalado um verdadeiro controle de Estado, do nosso “belo” e “puro” Estado nacional, “incorruptível”. O filme poderia terminar com um lacrimoso “... e viveram felizes para sempre”, mas ele vai mais longe. Antes do encerramento feliz, lógico, é levada a cabo uma “cruzada contra a corrupção” que culmina com a instauração de uma CPI.

Ao contrário do que invariavelmente ocorre nas CPIs reais, com sua insuportável troca de elogios entre os priores corruptos que termina invariavelmente em pizza; em Tropa de Elite 2, a CPI representa a instância máxima da “justiça social”, o derradeiro momento em que a corrupção é extirpada do Estado e a máquina capitalista volta a funcionar com perfeição.

Vale dizer que é tudo um mito. No mundo real, os fabulosos “heróis” de Tropa de Elite são os piores criminosos. O controle de Estado instaurado nas favelas é a formalização de um estado de sítio. Até mesmo especula-se a construção de muros em torno dos morros cariocas para que ninguém tenha dúvidas do caráter nazista destes “nobres combatentes” do crime.
O filme serviu na realidade para preparar os ânimos de uma camada direitista da classe média carioca para que esta apoiasse entusiasticamente a política repressiva das UPPs.

A parte do filme que trata da luta contra a corrupção também é absurda. Mais bizarro ainda é que o denunciador da depravação geral é um policial ex-torturador em aliança com um pseudo-esquerdista moralista.
 

O filme condena uma determinada ala de políticos corruptos, enquanto que apresenta o restante do Estado brasileiro como uma coisa íntegra, passível de reformas, quando na realidade toda a máquina estatal é um mecanismo podre que precisaria ser profundamente revolucionado para que pudesse se tornar um órgão minimamente representativo da população.

Ao final, o filme procura apresentar uma solução mágica para a corrupção: a CPI. Desfecho que é digno de risadas estrepitosas por sua ilusão nestes mecanismos institucionais que incontáveis vezes já se revelaram um mero ritual de encobrimento dos bandidos em questão.

O Ministério da Cultura entrega agora essa peça de propaganda fascistóide, em defesa da repressão mais violenta de uma polícia criminosa, como uma espécie de “cartão postal” de sua política de “limpeza social” que serve à burguesia com diferentes fins (obviamente nada nobres), entre os quais, afastar a pobreza carioca dos hotéis de luxo que presente construir para a Copa do Mundo de 2014. Este é muito provavelmente o verdadeiro objetivo por de trás da nomeação.
 

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140 anos do nascimento de Frantisek Kupka

O pintor tcheco, nascido na Boémia, foi  um dos principais nomes do modernismo francês. Um dos iniciadores da pintura abstrata a partir da tradição da Escola de Paris

23 de setembro de 2011

A Paris da virada do século XX era uma capital invejável por sua influência sobre a cultura europeia e do restante mundo em geral. Sua agitada vinda intelectual atraía, por sua vez, um número enorme de estrangeiros que buscavam entrar em contato com um ambiente culturalmente mais avançado do que tinham em seus próprios países.

Um fenômeno curioso da Paris destes anos, portanto, é a quantidade espantosa de artistas estrangeiros se ergueram como nomes centrais da Escola de Paris. O caso mais notório, provavelmente é o do espanhol Pablo Picasso, um dos artistas mais influentes do século XX por suas inovações formais na pintura.

A lista de estrangeiros importantes na “cidade luz” é enorme: há o pintor italiano Amadeo Modigliani; o espanhol Salvador Dali; o poeta suíço Blaise Cendrars; o escultor lituano Jacques Lipchitz; o pintor belga René Magritte; o poeta dominicano Aimé Césaire; os fotógrafos norte-americanos Alfred Stieglitz e Man Ray; os escritores também norte-americanos Gertrude Stein e Ezra Pound; e o cineasta espanhol Luis Buñuel, entre tantos outros. Isso sem citar os que apenas passaram pela cidade por um momento efêmero mais determinante em suas carreiras, como os russos Vassili Kandinski e Vladimir Tatlin; os italianos Fillipo Tomaso Marinetti e Gino Severini; os brasileiros Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Pagu; o mexicano Diego Rivera, etc., etc. No grupo dos pintores, pela originalidade de sua arte, ocupa também um lugar de destaque Frantisek Kupka, que apesar de tcheco, é um dos nomes centrais da história da pintura abstrata nascida no interior da Escola de Paris.

Uma geração mais velho que a maioria dos pintores das vanguardas francesas, Kupka nasceu em 1871 e iniciou sua atividade artística ainda na Boémia, a partir de sua relação com trabalhos artesanais. Depois de formar-se pela Escola de Artes Aplicadas de Jaromer, em 1892 ele parte para Viena em um momento de grande importância no florescimento das artes modernas austríacas. Ele insere-se na corrente decorativa do Jugendstil e trava amizade com alguns dos mais destacados intelectuais vienenses daqueles anos, entre eles, o pintor modernista Gustav Klimt; o compositor Arnold Schöenberg, futuro líder a Escola de Viena; e o psicanalista Sigmund Freud, fundador da nova ciência psicanalítica.

Sua pintura nesta época é fortemente marcada pelo simbolismo figurativo de Klimt. Kupka era um exímio desenhista já desde esta época e produzia trabalhos de grande maturidade artística. A transformação mais importante de sua pintura acontece, no entanto, somente quando ele viaja a Paris, onde passa a residir a partir de 1896.

Ali ele presencia em primeira mão tudo o que de mais importante a vanguarda artística francesa iria produzir. A descoberta da obra de Van Gogh e Cézanne; o início do movimento fauvista; e finalmente, o cubismo, que acabaria por promover a maior revolução em sua pintura.
Inicialmente em contato com as diversas variantes de pós-impressionismo, as pinturas de Kupla adquirem novo brilho e cada vez mais ele passa a se interessar pelos aspectos formais da pintura. Após o fauvismo, ele torna-se um dedicado estudioso da influência das cores sobre a imagem.

As primeiras telas do cubismo analítico de Picasso e Braque aparecem já em 1907. Kupka é um dos primeiros a ver a importância daquelas experiências, e sob a influência dos irmãos Duchamp Villon, embarca naquele universo altamente racionalista e matemático da busca por um cubismo científico. Ele é um dos membros do restrito grupo cubista da Seção Dourada, e é por volta de 1911 que começam a surgir em Paris, quase que simultaneamente, diversas manifestações de uma pintura já totalmente abstrata derivada do cubismo. A importância maior de Kupka para cultura de seu tempo é justamente neste processo de conquista a abstração em Paris.

Kupka e os franceses Robert Delaunay, Fernand Léger e Francis Picabia, tornam-se os pioneiros do orfismo a primeira corrente de pintura abstrata da arte moderna. Simultaneamente, artistas em outros países chegaram às mesmas conclusões em outras partes da Europa, mas trabalharam ainda muito tempo isoladamente até suas idéias adquirem influência e adeptos, estes são os casos, por exemplo, de Kandinski, Mondrian e Malevitch.
O nascimento da pintura abstrata na tradição modernista não era um fenômeno ligado a pequenas manifestações marginais, destinadas a ser trilhadas apenas por alguns artistas de gênio. Foi antes uma tendência mais ou menos geral da época. Era resultado de um terminado estado de confusão mental, de uma tendência dos artistas a buscarem a subjetividade como método de fuga de uma realidade hostil e incompreensível.

Um produto da enorme complexidade política que se armava no panorama europeu, o avanço do imperialismo, a consolidação das novas potências colonialistas, a disputa armamentistas entre poderosos governos, a decadência burguesa, a forte presença da classe operária nas crises políticas, etc. A dificuldade que parcelas expressivas da pequena burguesia e mesmo da burguesia em assimilar e entender os problemas colocados levou a uma tendência evasiva, de fuga dos problemas imediatos para realidades supostamente mais harmoniosas, ideais. O terreno típico da pintura abstrata, que em suas manifestações iniciais, foi toda mística e religiosa.

Kupka, do mesmo modo que estes outros três pais da pintura abstrata era também um místico. Esta era justamente a base ideológica que dava sustentação a estes desenvolvimentos originais da pintura européia: a busca de uma “outra realidade” que estivesse “além” da mediocridade e da confusão do mundo contemporâneo, uma tentativa de encontrar uma via de comunicação com uma realidade imaginária, subjetiva, religiosa, contemplativa, etc.
Quando eclode a Primeira Guerra, Kupka participa dos conflitos como voluntário no Exército francês. É só com o término dos conflitos que ele retoma sua atividade.

Ao longo da década de 1920, sua pintura, da mesma forma que todas as correntes abstratas, tornam-se movimentos marginais, em anos em que a arte voltava-se com grande força para a crítica política e social. São os anos da Nova Objetividade na Alemanha; do período “neoclássico” na França, quando alguns dos mais poderosos vanguardistas retomam formas mais convencionais de representação; do Surrealismo, que retoma também a tradição figurativa e intelectual da pintura, em oposição à emotividade abstração. Na Itália, os futuristas que aderem ao fascismo e avançam para uma arte realista. O único país em que a abstração gozava de popularidade naqueles primeiros anos do pós-guerra, foi na Rússia revolucionária, que produziu o construtivismo, que era por sua vez, uma outra forma de abstração, dona de uma ideologia racionalista.

Os adeptos da abstração entre os círculos mais avançados, no entanto, eram numerosos, e estava espalhados entre dezenas de países. Isto leva ao um agrupamento destes pintores no final da década de 1920, formando um grande grupo internacional, o Abstração-Criação (do francês Abstraction Création). Forma do em 1931, representava uma tendência à retomada da pintura abstrata após os anos de profunda estagnação social e pessimismo durante a Grande Depressão.

O grupo Abstração-Criação existiu entre 1931 e 1936, interrompido pela crescente polarização política que antecedeu à guerra. Dele fizeram parte cerca de 400 artistas que divulgavam suas obras através dos catálogos anuais das muitas exposições que eles organizavam na Europa e Estados Unidos.
Toda esta atividade levou a uma crescente popularização da pintura abstrata que se tornou a corrente dominante na Europa na década de 1940 e levaria à radicalização destas propostas nos Estados Unidos da década seguinte, com o expressionismo abstrato. Duas décadas que, obviamente foram marcadas pela incerteza e o isolamento dos artistas, o que tornava novamente as obras abstratas, suas formas de expressão ideais.
 

Apesar desta popularização da pintura abstrata, Kupka, ao longo de quase toda a vida foi um artista marginal. Apenas ao final da vida sua obra ganhou maior projeção, durante nos anos do segundo pós-guerra, quando, pela primeira vez, a pintura abstrata tornava-se uma unanimidade entre as correntes modernas, mesmo que por um breve período. Com o fim da década de 1950, encerrou-se também o principal período de desenvolvimento da arte abstrata. A crise econômica iniciada em 1964, iniciava uma nova etapa de predomínio da arte política sobre o mundo.


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Mostra argentina reúne mestres da arte de vanguarda latino-americana

Abaporú, de Tarsila do Amaral
Entre os trabalhos reunidos estão obras e Diego Rivera, Frida Kahlo, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Cândido Portinari

23 de setembro de 2011
Ontem, o Museu de Arte Latino-Americana – Malba, situado em Buenos Aires, estreou uma exposição comemorativa de seus dez anos de existência. O tema da mostra é sua principal especialidade: a arte moderna produzida no subcontinente americano, do México ao Chile.
Pela primeira vez o Malba apresenta uma exposição com quase totalidade dos quadros de seu acervo.

Os principais destaques da mostra são as obras de Diego Rivera, Frida Kahlo, Tarsila do Amaral e Cândido Portinari; quatro artistas que representam os pontos altos dos dois mais importantes movimentos de arte moderna continental, o México e o Brasil.
O caráter mais desenvolvido destes dois movimentos modernistas está ligado à importância das

Retrato de Ramón Gómez de la Serna, de Rivera
lutas revolucionárias que ocorriam em ambas as nações no período. No México, o modernismo foi produto da Revolução de 1910. No Brasil, acompanhou o movimento revolucionário que culminaria na Revolução de 1930.
O acervo atual do museu contém 500 obras.

A idéia inicial era que a coleção do Malba fosse exposta em sua totalidade, mas cm as dimensões atuais do prédio da instituição impedem o projeto. Para o futuro, o fundador do museu e seu principal administrador, o colecionador Eduardo Costantini, pretende ampliar a área expositiva para que isso seja possível.
Dentre todos os quadros da coleção, certamente o mais importante é a obra-prima de Tarsila do Amaral, Abaporú, que se tornou com o passar das décadas, praticamente a imagem-símbolo da Geração modernista de 22, e produto da radicalização teórica destes artistas nos anos que se seguiram.

Outra obra importante presente na exposição é a tela Autorretrato com Macaco e Papagaio, de Frida Kahlo. Apesar de ser uma pintura secundária da artista, seus autorretratos em geral são muito expressivos, e constituem a parte mais importante de seu trabalho, daí sua relevância.
Também de grande importância é a tela Retrato de Ramón Gómez de la Serra, de Diego Rivera. Esta obra é uma das poucas preservadas do primeiro período da carreira do pintor, o período cubista, uma fase pouco conhecida para o público em geral, mas que constitui uma etapa fundamental para a formação de sua técnica da maturidade.

Dentre os artistas argentinos, é também representativa a obra de Antonio Berni presente no museu, o mural Manifestación, retratando uma grande passeata de trabalhadores argentinos. Pintada em uma época de radicalização social na década de 1930.


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Manabu Mabe e o abstracionismo lírico no Brasil

O pintor morreu em 22 de setembro de 1997, há 14 anos, e foi um dos principais representantes desta corrente internacional da pintura influenciada pela Escola de Nova Iorque

22 de setembro de 2011

Hoje se completa o aniversário de morte de Manabu Mabe, um dos principais pintores do segundo pós-guerra no Brasil.

Nascido em 1924, no Japão, na atual cidade de Shiranui, sua família emigrou para o Brasil ainda na década de 1930, estabelecendo-se no interior de São Paulo. Ele realiza suas primeiras obras em 1945 e atinge pleno domínio das técnicas pictóricas já nos primeiros anos da década de 1950, pintando em um estilo fortemente influenciado pela figuração expressionista.

Ao longo da década, porém, ele vai gradualmente se afastando desta pintura, até se alinhar com as correntes mais avançadas da pintura de sua época.

Nos anos que se seguem ao fim da Segunda Guerra os Estados Unidos tornam-se pela primeira vez em sua história, o principal centro criativo da pintura mundial. O movimento que inaugura esta nova etapa, consolidando uma Escola de Nova Iorque, foi a geração dos expressionistas abstratos que começa a ganhar projeção nacional e internacional a partir de 1952.

Nos Estados Unidos, esta pintura abstrata de raiz expressionista, altamente emotiva, subjetiva, executada impulsivamente, sem qualquer elaboração prévia; era produto de um forte sentimento de rejeição daqueles artistas, da aparente prosperidade que dava o tom da época. Eles eram marginais dentro daquele “sonho americano”, e sua pintura, agressiva e irracional, era uma expressão disso.

No Brasil ocorria um fenômeno econômico semelhante na aparência, mas essencialmente distinto. Os anos do pós-guerra brasileiros foram marcados também por um período de reformas e modernizações em diversos setores do País. Apesar da aparência de progresso nacional propagada pela burguesia por todos os meios, o “desenvolvimento” brasileiro, apoiava-se em um progressivo endividamento estatal. O período do governo Vargas, até 1954, foi o mais importante desta etapa do nacionalismo burguês. O mandato de Juscelino Kubitschek, porém, marcava um recuo nesta política e o estabelecimento de novos acordos econômicos com o imperialismo norte-americano.

A ideologia formada a partir desta aparente prosperidade, mais do que ocorreu nos Estados Unidos, arrebanhou a parcela mais importante da intelectualidade nacional com a idéia de que realmente o Brasil estava caminhando para se tornar um “país de primeiro mundo”, uma potência imperialista. Obviamente que tudo não passava de uma ilusão, conforme ficou claro nos anos seguintes. Mas esta ideologia de progresso, o forte otimismo advindo daí, movimentou centenas de músicos, escritores, artistas plásticos, intelectuais, que procuraram eles mesmos se colocar em pé de igualdade com o que de mais moderno existia na Europa e Estados Unidos.

Na poesia, nasceu o importante movimento concretista, que retomava as mais radicais experiências da primeira vanguarda modernista em associação com outros recursos abertos pelo vanguardismo europeu, particularmente, as experiências com a poesia visual desenvolvida pelo cubismo e o futurismo.

No terreno da música, formou-se a bossa nova, música sofisticada criada por uma camada intelectualizada da pequena-burguesia carioca por influência do cool jazz norte-americano.
Nas artes plásticas, o Brasil desenvolveu um movimento próprio de arte abstrata geométrica, a pintura concreta, que era fortemente influenciada pelas idéias do construtivismo russo.
Outra vertente desta mesma tendência vanguardista da pintura brasileira, foi o abstracionismo lírico,ou abstracionismo expressivo, cuja influência vinha diretamente de Nova Iorque.
Os principais representantes desta corrente das artes nacionais foram Cícero Dias, Antônio Bandeira e os nipo-brasileiros Manabu Mabe e Tomie Ohtake.

Ao contrário do que foi o expressionismo abstrato nos Estados Unidos, os representantes brasileiros destas técnicas não eram movidos por um sentimento de radicalismo, mas por uma tendência fortemente subjetiva. Sua ideologia artística tinha mais relação com a vertente de expressionismo que se desenvolveu na Europa, o tachismo, também sob influência da arte nova-iorquina.

O tachismo europeu surge como resultado do esgotamento das técnicas figurativas e um período de busca por novos caminhos para a pintura, então em um aparente impasse. A influência do expressionismo e do surrealismo em sua crença no inconsciente, na expressividade impulsiva, é uma base comum a toda a abstração nesta época, que em seus elementos menos radicais, desenvolveu-se como uma nova corrente de pintura analítica e decorativa.
A obra de Manabu Mabe faz parte desta tendência, que encara seu abstracionismo expressivo como um desenvolvimento abstrato do cubismo sintético de Picasso e outros.

Outra influência marcante em sua obra, e que explica a grande presença de artistas nipônicos nesta corrente, é a tradição do sumi-ê, a arte da caligrafia japonesa, cujas técnicas possuem muitas características em comum com a arte de Mabe. Suas telas da década de 1950 tem essa marca muito visível, em obras que misturam as formas caligráficas japonesas com as formas gestuais da abstração lírica.

A identificação de Manabu Mabe com o movimento europeu o faria se aproximar decisivamente do tachismo na década de 1960, se tornando a marca predominante de seu trabalho até o final da vida.

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Luis Cernuda e a Geração de 27

O poeta nasceu em 21 de Setembro de 1902, e caso estivesse vivo, teria completando hoje 109 anos


21 de setembro de 2011

Luis Cernuda foi um dos principais nomes da chamada Geração de 27, ou Geração das Vanguardas, momento em que a poesia modernista espanhola explodia definitivamente como um movimento geral da cultura do país. Este grupo de poetas atuou principalmente em Madri e, além de Cernuda, no núcleo principal desta geração também incluem-se poetas como Federico García Lorca, Jorge Guillén, Rafael Alberti, Pedro Salinas, Manuel Altolaguirre, Dámaso Alonso, Emilio Prados, Vicente Aleixandre e Gerardo Diego. Esta relação, porém, poderia ser ampliada para mais algumas dezenas de poetas que iniciaram sua atividade sob a influência da crise revolucionária européia.

O evento que marca a “revelação” destes jovens poetas para o restante do país, foi uma homenagem realizada naquele ano para o poeta renascentista Luis de Góngora por ocasião dos 300 anos de seu nascimento, o representante maior na poesia do chamado Século de Ouro da literatura espanhola.

A maior parte dos principais nomes desta geração participou do evento sediado em Sevilha, na que foi provavelmente a primeira reunião formal destes poetas que tinham grande identificação em seus temas e influências.

A crise revolucionária na Espanha

A crise espanhola no século XX remete diretamente às lutas nas colônias americanas por sua independência, que teve impactos imediatos no nível de vida da população da metrópole.
Em 1902, ao completar 16 anos, Afonso XVIII assumiu o comando da decadente monarquia espanhola. Durante os anos da regência, a crise espanhola já havia se iniciado com toda força, abalada pelas revoluções em Cuba, Porto Rico e Filipinas, que passaram todas ao controle dos Estados Unidos.

Durante os primeiros anos do reinado de Afonso XVIII, uma nova crise diplomática leva à perda do controle espanhol sobre o Marrocos, que se torna a partir de então um protetorado do imperialismo francês.

A crise nacional da monarquia nos anos seguintes levaria, em 1923, a burguesia espanhola a organizar um golpe de Estado com respaldo do próprio rei. Começava aí a sangrenta trajetória do fascismo espanhol, sob comando do ditador Miguel Primo de Rivera.
O novo governo iniciou um vigoroso processo repressivo no país, prendendo, torturando e assassinando centenas de pessoas, principalmente militantes das organizações do movimento operário, anarquistas e comunistas.

Após o período inicial de terror, o governo adquiriu certa estabilidade e agrupou em torno de si todas as alas mais reacionárias do regime em torno do partido fascista União Patriótica. A etapa seguinte foi a lançar uma ofensiva militar para retomar o Marrocos, que é bem sucedida e garante a substituição da política repressiva de maior intensidade por um governo mais brando. Foi formado aí um Parlamento de fachada que iria elaborar uma Constituição formal sob os moldes fascistas, garantindo a supressão de qualquer organização operária no país.

Precisamente neste momento de estabilização do regime e afrouxamento dos aparatos repressivos vêm à tona o gigantesco descontentamento nacional na forma de grandes manifestações contra o governo. É aí também que surgem os poetas da Geração de 27, cujo radicalismo político se expressava na forma de um radicalismo formal de sua poesia.

As mobilizações contra o governo levaria a uma crise terminal no regime, que é obrigado a operar uma reabertura democrática com as mesmas figuras que davam sustentação à ditadura, e, em primeiro lugar, a monarquia de Afonso XIII.

A obra de Luis Cernuda foi um produto da crise deste período. Nascido em 1902 e filho de militar, Cernuda entrou em contato com o ambiente literário espanhol em 1919, através de sua amizade com o poeta Pedro Salinas. Foi ao mudar-se para Madri que ele conhece também alguns dos melhores poetas da nova geração. Sua principal influência nestes anos, além da tradição clássica espanhola, eram os novos nomes da poesia francesa. Teve particular influência sobre ele a obra de André Gide, mas, em pouco tempo, assimilava também influências importantes do surrealismo, através dos escritos de Paul Éluard Pierre Reverdy, que definiriam a identidade de sua poesia.
Em 1925 ele publica seus primeiros poemas em jornais literários, e um ano mais tarde, com o resfriamento da censura torna-se colaborador de jornais liberais, como La Verdad e Mediodía y Litoral.

Seu primeiro livro é publicado exatamente no ano de 1927, quando esta geração se revela à população em geral. Sua obra de estréia é Perfil del aire, escrito em um estilo que combinava o classicismo espanhol com os versos livres modernistas.  Mais bem sucedidos são seus livros de influência surrealista, Un río, un amor, de 1929; e Los placeres prohi-bidos, de 1931. Tais textos, porém, eram ainda um período de preparação do poeta, que publica sua primeira obra-prima em 1933, Donde habite el olvido, apresentando um conjunto de poemas em que Cernuda encontra a própria voz, em versos melancólicos e intimistas. É desta fase um de seus poemas mais popularmente conhecidos em seu país, a poesia que empresta seu nome ao livro, Donde habite el olvido.

Ele atuaria nos meses seguintes como jornalista na Guerra Civil e também como soldado, apresentando-se como voluntário em um regimento de alpinista na Serra de Guadarrama.
Cernuda participa dos conflitos até 1938, quando ele parte para um ciclo de conferências na Inglaterra, sobre a nova poesia espanhola. Ele nunca mais voltaria ao seu país. Sua saída do país não foi um caso isolado, mas um fenômeno geral. A luta contra o fascismo espanhol dispersou completamente os integrantes do grupo, que seguiria cada um por um caminho diferente a partir daí. O afastamento de Cernuda nos anos seguintes se reflete em seus versos na consolidação de uma tendência altamente subjetiva, concentrada em temas ligados ao seu isolamento pessoal.
Cernuda viveria na Inglaterra até o término da Segunda Guerra. Em 1947 ele se instala nos Estados Unidos, e, a partir de 1951, se instala no México, onde reside até sua morte, em 1963.

Donde habite el olvido 
Luís Cernuda

Cómo llenarte, soledad,
Sino contigo misma.

De niño, entre las pobres guaridas de la tierra,
Quieto en ángulo oscuro,
Buscaba en ti, encendida guirnalda,
Mis auroras futuras y furtivos nocturnos,
Y en ti los vislumbraba,

Naturales y exactos, también libres y fieles,
A semejanza mía,
A semejanza tuya, eterna soledad.

Me perdí luego por la tierra injusta
Como quien busca amigos o ignorados amantes;
Diverso con el mundo,
Fui luz serena y anhelo desbocado,
Y en la lluvia sombría o en el sol evidente
Quería una verdad que a ti te traicionase,
Olvidando en mi afán
Cómo las alas fugitivas su propia nube crean.

Y al velarse a mis ojos
Con nubes sobre nubes de otoño desbordado
La luz de aquellos días en ti misma entrevistos,
Te negué por bien poco,
Por menudos amores ni ciertos ni fingidos,
Por quietas amistades de sillón y de gesto,
Por un nombre de reducida cola en un mundo fantasma,
Por los viejos placeres prohibidos,
Como los permitidos nauseabundos,
Útiles solamente para el elegante salón susurrado,
En bocas de mentira y palabras de hielo.

Por ti me encuentro ahora el eco de la antigua persona
Que yo fui,
Que yo mismo manché con aquellas juveniles traiciones;
Por ti me encuentro ahora, constelados hallazgos,
Limpios de otro deseo,
El sol, mi dios, la noche rumorosa,
La lluvia, intimidad de siempre,
El bosque y su alentar pagano,
El mar, el mar como su nombre hermoso;
Y sobre todos ellos,
Cuerpo oscuro y esbelto,
Te encuentro a ti, tú, soledad tan mía,
Y tú me das fuerza y debilidad
Como el ave cansada los brazos de piedra.

Acodado al balcón miro insaciable el oleaje,
oigo sus oscuras imprecaciones,
contemplo sus blancas caricias;
Y erguido desde cuna vigilante
Soy en la noche un diamante que gira advirtiendo

a los hombres.
Por quienes vivo, aun cuando no los vea;
Y así, lejos de ellos,
Ya olvidados sus nombres, los amo en muchedumbres,
Roncas y violentas como el mar, mi morada,
Puras ante la espera de una revolución ardiente
O rendidas y dóciles, como el mar sabe serlo
Cuando toca la hora de reposo que su fuerza conquista.

Tú, verdad solitaria,
Transparente pasión, mi soledad de siempre,
Eres inmenso abrazo;
El sol, el mar,
La oscuridad, la estepa,
El hombre y el deseo,
La airada muchedumbre,
¿Qué son sino tú misma?

Por ti, mi soledad, los busqué un día;
En ti, mi soledad, los amo ahora. 

A un poeta muerto

Luís Cernuda

Así como en la roca nunca vemos
La clara flor abrirse,
Entre un pueblo hosco y duro
No brilla hermosamente
El fresco y alto ornato de la vida.
Por esto te mataron, porque eras
Verdor en nuestra tierra árida
Y azul en nuestro oscuro aire.

Leve es la parte de la vida
Que como dioses rescatan los poetas.
El odio y destrucción perduran siempre
Sordamente en la entraña
Toda hiel sempiterna del español terrible,
Que acecha lo cimero
Con su piedra en la mano.

Triste sino nacer
Con algún don ilustre
Aquí, donde los hombres
En su miseria sólo saben
El insulto, la mofa, el recelo profundo
Ante aquel que ilumina las palabras opacas
Por el oculto fuego originario.

La sal de nuestro mundo eras,
Vivo estabas como un rayo de sol,
Y ya es tan sólo tu recuerdo
Quien yerra y pasa, acariciando
El muro de los cuerpos
Con el dejo de las adormideras
Que nuestros predecesores ingirieron
A orillas del olvido.

Si tu ángel acude a la memoria,
Sombras son estos hombres
Que aún palpitan tras las malezas de la tierra;
La muerte se diría
Más viva que la vida
Porque tú estás con ella,
Pasado el arco de tu vasto imperio,
Poblándola de pájaros y hojas
Con tu gracia y tu juventud incomparables.

Aquí la primavera luce ahora.
Mira los radiantes mancebos
Que vivo tanto amaste
Efímeros pasar junto al fulgor del mar.
Desnudos cuerpos bellos que se llevan
Tras de sí los deseos
Con su exquisita forma, y sólo encierran
Amargo zumo, que no alberga su espíritu
Un destello de amor ni de alto pensamiento.

Igual todo prosigue,
Como entonces, tan mágico,
Que parece imposible
La sombra en que has caído.
Mas un inmenso afán oculto advierte
Que su ignoto aguijón tan sólo puede
Aplacarse en nosotros con la muerte,
Como el afán del agua,
A quien no basta esculpirse en las olas,
Sino perderse anónima
En los limbos del mar.

Pero antes no sabías
La realidad más honda de este mundo:
El odio, el triste odio de los hombres,
Que en ti señalar quiso
Por el acero horrible su victoria,
Con tu angustia postrera
Bajo la luz tranquila de Granada,
Distante entre cipreses y laureles,
Y entre tus propias gentes
Y por las mismas manos
Que un día servilmente te halagaran.

Para el poeta la muerte es la victoria;
Un viento demoníaco le impulsa por la vida,
Y si una fuerza ciega
Sin comprensión de amor
Transforma por un crimen
A ti, cantor, en héroe,
Contempla en cambio, hermano,
Cómo entre la tristeza y el desdén
Un poder más magnánimo permite a tus amigos
En un rincón pudrirse libremente.

Tenga tu sombra paz,
Busque otros valles,
Un río donde del viento
Se lleve los sonidos entre juncos
Y lirios y el encanto
Tan viejo de las aguas elocuentes,
En donde el eco como la gloria humana ruede,
Como ella de remoto,
Ajeno como ella y tan estéril.

Halle tu gran afán enajenado
El puro amor de un dios adolescente
Entre el verdor de las rosas eternas;
Porque este ansia divina, perdida aquí en la tierra,
Tras de tanto dolor y dejamiento,
Con su propia grandeza nos advierte
De alguna mente creadora inmensa,
Que concibe al poeta cual lengua de su gloria
Y luego le consuela a través de la muerte.

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