sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Estreia em setembro retrospectiva da obra de Lygia Clark

A mostra reunirá mais de uma centena de trabalhos da artista, desde sua fase concretista, na década de 1950, até seus trabalhos mais radicais vinculados à psicanálise e às experiências sensoriais e de interação com o público

Uma das esculturas da série Bichos, de Lygia Clark.
A partir de 1º de setembro, estreia em São Paulo uma das maiores exposições realizadas nos últimos anos com a obra da artista plástica Lygia Clark, suja atividade esteve vinculada nas décadas de 1950 e 1960 com o concretismo e o neoconcretismo.
A mostra reúne um total de 140 trabalhos, entre pinturas, desenhos, esculturas e outros objetos produzidos pela artista.

Os primeiros trabalhos presentes na mostra são quadros do início da década de 1950, que mostram que a artista, antes de aderir ao movimento concretista flertava com o cubismo e outras tendências figurativas que já tendiam fortemente à abstração. Esse caminho a leva a realização de obras já totalmente abstratas e geométricas como Composição, de 1953, ou Ovo-estudo, de 1958, produto de sua adesão às teorias racionalistas e ao concretismo internacional.

A ruptura de sua obra nesse caminho se daria em 1959, quando é fundado o movimento neoconcreto, inaugurado oficialmente com a Primeira Exposição Neoconcreta, no Rio de Janeiro, lançada juntamente com o manifesto do grupo.

O neoconcretismo surgia como parte do movimento de radicalização geral da sociedade brasileira no período, com a crise que emerge no final do governo de Juscelino Kubitschek e que levaria sucessivamente Jânio Quadros e João Goulart ao poder. Período revolucionário da história brasileira que se encerra abruptamente com o Golpe, em 1964.

O desenvolvimento do neoconcretismo acompanhava uma tendência geral do movimento cultural brasileiro que rompia então com a cultura típica da década de 1950. À bossa nova, se sucedeu a formação da MPB, com suas músicas políticas; e ao extremo formalismo e racionalismo do movimento concretista, sucederam-se tendências artísticas de maior radicalismo político, reivindicando uma retomada da subjetividade como método de criação artística. Além do neoconcretismo, como parte dessa mesma tendência geral seria também formado em 1965, o Grupo Surrealista de São Paulo, o primeiro grupo organizado do surrealismo no Brasil.
Lygia Clark, ao lado de Lygia Pape, Ferreira Gullar, Amílcar de Castro e Fanz Weissman, seria uma das figuras de maior destaque no grupo neoconcreto.

Os trabalhos da artista a partir dessa data tendem então cada vez mais à subjetividade e recorre a experiências sinestésicas em arte, criando objetos para serem tocados, cheirados, etc. A busca principal de Lygia Clark nesse momento era produzir trabalhos que pudessem interagir com o espectador, e não serem simplesmente observados à distância, uma teoria que tinha influência do movimento internacional da arte conceitual, que se desenvolve também no mesmo período em diferentes países.

São dessa fase a maior parte dos trabalhos presentes na exposição, incluindo suas esculturas-moles e sua série Bichos. Estão também presentes na mostra obras inéditas da artista relacionadas ao cinema e à arquitetura. Nessa área destaca-se sua Casa do poeta, de 1964, um projeto de residência com paredes interiores móveis.

A exposição Lygia Clark: Uma retrospectiva é uma iniciativa da associação cultural O Mundo de Lygia Clark, pertencente à família da artista, e estará em cartaz, a partir de 1º de setembro, no Itaú Cultural, localizado na Avenida Paulista, 149. A entrada é franca.

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