terça-feira, 29 de novembro de 2011

A 21 de outubro de 1969 morria Jack Kerouac

21 de outubro de 2011

No momento que cresce a radicalização política na década de 1960, o movimento beat é tragado por ele. Kerouac, porém, que nestes anos torna-se um dos escritores mais influentes de seu país, havia já se tornado um misantropo, vindo a morrer na solidão, completamente alheio às lutas que se desenvolviam

 

Na década de 1950, a partir da reorganização econômica dos Estados Unidos, começou a prosperar do país um clima político dos mais conservadores. A crise social que se instalou aí era proporcional às contradições que este panorama apresentava e foi como resultado delas que Kerouac produziu sua literatura.


No segundo pós-guerra o nível de controle que o imperialismo passa a exercer sobre a sociedade como um todo era proporcional ao seu caráter reacionário. Deste modo, a propaganda positiva sobre os novos triunfos da economia dos Estados Unidos, sobre as maravilhas do “modo de vida americano”, e as conquistas que os novos bens que a sociedade de consumo podia oferecer, era proporcional à falta de vitalidade do imperialismo, à verdadeira estagnação em que o mundo vivia, e à falta de perspectivas e possibilidades de verdadeiro desenvolvimento para a população.

Entre as pessoas mais esclarecidas ou sensíveis a este problema, o clima social do país tornou-se intragável. Enquanto tudo ao redor transpirava mediocridade, todos tentavam fazer crer que aquela era uma sociedade verdadeiramente próspera.

A revolta contra aquele estado de coisas partiu, naturalmente, do setor que vivia à margem destes benefícios. Que era obrigado a ver e ouvir todo dia estas exclamações positivas sobre os novos rumos do País, mas que de fato percebia que tudo não passava de uma fraude, de uma fachada colocada diante de um panorama de devastação.


A aspiração por outros valores, por outros modelos de vida que se opusessem ao modelo estabelecido, estava na base das viagens incessantes que jovens como Jack Kerouac realizaria através dos Estados Unidos ao longo de toda a década de 1950.


Em sua obra-prima, On The Road, Kerouac destaca que por trás daquelas travessias, estava o puro anseio por se movimentar, por dar vazão à sua inquietação. Era a maneira como ele expressava esta busca por valores à margem da ideologia burguesa.


Nestas travessias, ele se ligaria a outros jovens marginalizados como Allen Ginsberg, Neal Cassady. William Burroughs, Lawrence Ferlinghetti e Gregory Corso, que, entre outros, ajudariam a renovar a literatura norte-americana da segunda metade do século XX.


É significativo que um movimento de jovens proletários e sem grande erudição tenha realizado a tarefa, o que mostra o nível de crise que estava instalada naquela sociedade dos “anos dourados”. Não era preciso muita sofisticação para ver a mediocridade que representava aquele estado de coisas.


Em suas andanças, estes escritores desenvolveriam uma ideologia vagamente religiosa, voltada principalmente para as doutrinas orientais, que foi uma das formas que eles encontraram para se opor ao materialismo rasteiro, à venalidade da mais atroz que havia se solidificado como um verdadeiro valor positivo entre aquelas famílias de classe média dos subúrbios norte-americanos.

Eles também haviam abandonado completamente a ideia de constituição de uma família, de ter uma carreira nos moldes capitalistas, de acumular bens. A vida errante tornou-se uma doutrina, o liberalismo sexual, um modo de se expressar, e o completo desapego das formas convencionais de existência, uma manifestação de desprezo pelo valores estabelecidos.

Como representante de uma pequena boemia isolada, Kerouac, o mais importante destes escritores, desenvolveu-se como um verdadeiro misantropo, um grande desiludido da vida em sociedade. Não é por acaso, portanto, que quando aquele estrito movimento de libertação se transforma em um grande movimento nacional de contestação da ordem estabelecida, ele tenha ficado à margem do processo, vindo mesmo a se manifestar energicamente contra o que estava ocorrendo. Era, obviamente, uma confusão do escritor, revelando que ele mesmo não tinha claro o sentido mais profundo de sua própria revolta.


A verdade é que o movimento beat é engolido pela nova onde de radicalização, e cada um destes escritores desenvolve-se por um caminho independente a partir de então. Burroughs continua vivendo no isolamento, dedicado a obras experimentais insólitas ligadas à influência do dadaísmo e do surrealismo. Neal Cassady abraça como uma grande aventura o novo estilo de vida hippie, vindo a morrer de overdose em meio às suas travessias pelo País. Ginsberg, que era politicamente o mais radical destes escritores, destaca-se entre a nova geração como uma espécie de guru espiritual, é uma de suas grandes vozes literárias, chegando a influenciar outras personalidades importantes desta geração como Bob Dylan.


O autor de On The Road, o romance mais influente da geração de 1960 nos Estados Unidos, em sua desilusão, afunda no alcoolismo e no isolamento da casa de sua mãe, onde irá morrer, ironicamente durante o canto do cisne na nova geração, em 1969.

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