terça-feira, 6 de março de 2012

Gravuras de Goya criticando a aristocracia espanhola são expostas em Curitiba

O sonho da razão produz monstros.
‘Os caprichos’ é uma das mais importantes séries de gravuras de Francisco de Goya. Um retrato alucinatório do s vícios e da decadência da monarquia espanhola poucos anos antes de ser derrubada pela Revolução Francesa

Estreou em janeiro no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, a exposição Os caprichos de Francisco Goya, apresentando esta que é uma das séries de gravuras mais importantes da obra do artista espanhol.

Os caprichos é composto por 80 gravuras executadas pelo pintor entre 1797 e 1799, usando técnicas de água-forte, ponta seca, água-tinta e buril.
A série é toda dedicada à sátira da decadente sociedade espanhola de finais do século XVIII, em particular da aristocracia, no período imediatamente anterior à invasão napoleônica sobre a Espanha.

São alvo da crítica de Goya, membros da nobreza e do clero espanhol, juízes, advogados, altos funcionários do Estado, etc. o artista destaca aí, a completa mediocridade da sociedade, o absurdo de sua ideologia, a hipocrisia, a vaidade e a pretensão dos ignorantes.

A série é formada por duas partes distintas. O início dela é marcado por retratos realistas e alegorias críticas da sociedade. A partir da metade da série, porém, a visão realista dá lugar às visões mais fantásticas, e um mundo recheado de monstros toma a cena nos trabalhos. São retratos delirantes que buscavam captar o absurdo de uma sociedade que definhava.

Nesses desenhos fica atestada muito claramente a ideologia do pintor, que, adepto dos ideais iluministas, lançou em Os caprichos, críticas ao fanatismo religioso, à Inquisição, às superstições do povo, criticou a ignorância generalizada da população, a brutalidade com que eram tratadas as crianças e condenou os métodos de ensino anacrônicos vigentes no País. Todas ideias procedentes do iluminismo.

A série foi chamada inicialmente Sonhos, e suas formas fantásticas buscavam mascarar e diluir as críticas do artista lançadas à classes governantes.

Um dos trabalhos mais famosos da série, O sonho da razão produz monstros, mostra Goya cochilando sobre sua mesa de desenho enquanto uma dezena de animais monstruosos surgem atrás dele, ao fundo da sala. Bem acima da cabeça do artista, uma coruja leva a ele um pincel para que Goya execute seus desenhos.

Essa gravura foi planejada para ser a capa da série, que viria com o título: “Sonho: 1º Idioma universal. Desenhado e gravado por Francisco de Goya. Ano de 1797.” A legenda inicial do desenho seria: “O Autor sonhando. A sua tentativa é apenas desterrar vulgaridades prejudiciais e perpetuar com esta obra de caprichos, o testemunho sólido da verdade.”

Ao longo da produção das gravuras, no entanto, Goya introduziu diversas modificações que tornaram menos claras suas intenções, e foi fixado o nome definitivo da série.

O trabalho foi um marco não apenas na obra de Goya – que, com Os caprichos, se afirmou definitivamente como um exímio gravurista, inaugurando também uma nova linguagem em seus trabalhos –, mas também no desenvolvimento da arte em geral, vindo a influenciar, nas décadas seguintes, um número substancial de artistas modernos. Artistas do romantismo, do simbolismo, do impressionismo, do expressionismo e do surrealismo encontraram diferentes qualidades nessa série de gravuras do espanhol.

A evocação que Goya fez de imagens fantásticas, bem como as muitas alusões aos sonhos, fizeram os surrealistas considerar o artista um legítimo precursor de suas ideias.

Muitos críticos chegaram a considerar também que Goya, pela forma como desenvolvera sua técnica, era um precursor legítimo da arte moderna.

Vale a pena conferir essa importante série do artista exposta na capital paranaense. O Museu Oscar Niemeyer fica na Rua Marechal Hermes, nº 999, no Centro Cívico. A mostra permanecerá em cartaz até dia 26 de abril.

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