terça-feira, 29 de novembro de 2011

Ike Turner, o rock e o movimento negro norte-americano

5 de novembro de 2011

Se estivesse vivo, o músico negro Ike Turner estaria completando hoje 80 anos. Ele foi um dos pioneiros do rock e um dos expoentes da música soul em seu país


Álbum da fase rock'n'roll de Ike Turner.
Ike Turner foi um dos pioneiros do rock’n’roll. Da mesma forma que outros negros que ajudaram a formar a identidade musical do rock, como Bo Diddley ou Fats Domino, a importância de sua contribuição acabou encoberta pela popularidade que os músicos brancos passaram a adquirir no período de expansão do movimento. Um fenômeno que se deu diretamente como produto da opressão do negro nos EUA, a partir da manipulação das figuras do movimento pela burguesia da indústria fonográfica e de seus funcionários, tanto nos jornais quanto na televisão e no rádio, nas gravadoras, nas lojas e entre a crítica especializada. Uma grande máquina que habilmente colocou para o segundo plano os expoentes negros do mais popular movimento musical daquele país se segregado.

Ike Turner nasceu no Mississipi e desde os oito anos já tocava piano e violão. Ele cresceu entre uma comunidade branca ultraconservadora e abertamente racista, que levou a um episódio traumático em sua infância, quando seu pai foi espancado quase até a morte, o que o deixou três anos recluso como inválido, até se recuperar totalmente das seqüelas do espancamento. Uma situação familiar das mais violentas o levou também, muito rapidamente, a buscar na música alguma fonte de satisfação.

Anos mais tarde, na escola, ele formou o grupo com o qual iria permanecer por longo período, o Kings of Rhythm. Foi ao lado deste grupo que Turner gravou um dos singles fundadores do rock’n’roll, a música Rocket 88. Discute-se ainda hoje se não teria sido esta a primeira gravação do rock, competindo com o single Fat Man, de Fats Domino, por exemplo, de 1949.
Uma contribuição significativa de Turner para o rock, foi a introdução da distorção na guitarra, recurso que ele descobriu acidentalmente no estúdio e que foi registrado naquela gravação de Rocket 88.
A dupla Ike e Tina Turner em meados da década de 1960.
Como seria uma constante no rock desta época, não seria Ike Turner a surgir nas rádios tocando aquela musica enérgica e inovadora, mas um branco. Quem o faria seria o músico Bill Halley, outro dos pioneiros do rock, talvez o primeiro branco de talento a aderir à nova música.

Halley se interessa pelo novo ritmo após ouvir justamente as canções do grupo de Ike Turner, e suas primeiras gravações, foram justamente regravações de Rocket 88 e Rock this Joint. Apresentando estes covers de Turner, Halley consegue um sucesso relativo entre o público branco, que o estimula a continuar. Deste modo, no ano seguinte, em 1952, ele grava Crazy Man Crazy, que se torna o primeiro rock a entrar nas paradas de sucesso das rádios de todo país. O rock’n’roll começa neste momento a se transformar em um fenômeno nacional.
Ike e Tina Turner na década de 1970.



Certamente que havia ainda grande espaço para os músicos negros desenvolverem seu trabalho, principalmente entre o público negro, o que efetivamente aconteceu. Tanto Turner, quanto Little Richard, Fats Domino e Chuck Berry tornaram-se músicos extremamente influentes, mas para o público em geral, foram colocados sempre em segundo plano em relação aos brancos, que inclusive elegeram um “rei do rock” branco, Elvis Presley.

Isso aconteceu não pelo simples desejo da burguesia de “esconder” o negro, mas porque o surgimento do rock’n’roll tocava em uma questão política central dos Estados Unidos, que eram as leis de segregação racial. A popularização de um fenômeno cultural tão amplo como aquele, liderado por negros, colocava em xeque toda a política racial do país, abrindo caminho para uma crescente contestação daquelas leis absurdas pela população, em particular os jovens.
Daí que os músicos brancos do rock foram encarados pelos empresários da indústria musical como um remédio necessário para se reverter este processo que parecia irremediável de “mistura” das duas populações.

Finalmente, esta política, mesmo que bem orquestrada, fracassou. O rock era parte de um vigoroso movimento negro que voltava a se radicalizar no país, e que a partir de 1955 abriria uma crise nacional que só seria estancada pela burguesia na década de 1970, após lutas importantes que terminaram com a derrubada de fato, das leis de segregação.

Ike Turner, que começou sua atividade como músico de rhythm & blues, atravessou essa fase como um expoente do rock, e avançou, nas décadas seguintes, para outros gêneros da música negra que foram também parte indissociável do movimento político dos negros norte-americanos, como o soul e o funk, das décadas de 1960-70. O ponto mais alto de sua carreira foram os anos em que tocou ao lado de sua esposa, Tina Turner. As muitas brigas do casal, e inclusive inúmeros episódios de espancamento da mulher, levaram ao fim da união. Ike Turner, ainda manteve uma carreira solo bem sucedida, mas o uso cada vez mais intensivo de cocaína e crack, acabaram com sua música na década de 1980. Foi o vício que levou à sua prisão, em 1991, e à sua morte, por overdose de cocaína, em 2007.

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