terça-feira, 29 de novembro de 2011

A 29 de novembro de 1924, morria Giacomo Puccini

O compositor, herdeiro da tradição nacionalista de Verdi, foi o principal nome das óperas italianas no período de consolidação do Estado italiano, acompanhando também o movimento das vanguardas de sua época

Giacomo Puccini, um dos maiores nomes do mundo da ópera, teve sua obra determinada por um dos períodos mais importantes da história italiana, período que produziu algumas das maiores conquistas culturais da história recente do país.


Puccini nasceu em uma família de antiga tradição musical. Desde o século XVIII que o cargo de organista titular na igreja de São Martinho em Lucca era passado de pai para filho. Michele Puccini, pai de Giacomo, ocupava este posto, e o jovem músico já estava destinado assim, desde a infância, a substituí-lo em sua posição. Nos primeiros anos de sua formação, porém, Giacomo pareceu aos professores um estudante medíocre, sem concentração e dedicação aos estudos musicais. Foi apenas quando, em certa ocasião, o rapaz assistiu Aida, a grande ópera de Verdi, que, maravilhado, apaixonou-se pela música, e pelas óperas em particular. O garoto tinha então 21 anos, e foi neste mesmo ano que ele compôs sua primeira ópera, Messa. Trabalho que colocava um ponto final na antiga tradição familiar de músicos de igreja. A partir de então Puccini encaminha-se cada vez mais determinado para o trabalho operístico.


Em 1882, por ocasião de um concurso, ele compõe uma ópera em um ato, Le Villi, que apesar de não ter vencido a competição, se tornaria sua primeira ópera ser encenada nos palcos italianos, dois anos mais tarde.


Graças a ela, ele recebeu uma nova encomenda, compondo a ópera Edgar, que estreou importante Teatro Scala, em Milão em 1889. Ambos os trabalhos hoje constituem um parte obscura da produção de Puccini, raramente encenadas.


Sua primeira obra de importância foi sua terceira composição, Manon Lescaut, que foi levada aos palcos pela primeira vez em 1893. Nesta peça pode-se ver mais claramente a importância e o caráter das óperas de Puccini. A história sobre a qual Puccini resolveu basear-se para este trabalho havia já sido usada poucos anos antes pelo francês Jules Massenet. Apesar disso o italiano estava convencido que a Manon de Massenet era essencialmente francesa, e que ao dar a ela as colorações mais típicas do temperamento italiano, dramático e passional, o trabalho iria adquirir uma identidade totalmente distinta que justificaria a repetição.


Nestas intenções fica muito nítida influência do movimento nacionalista italiano na concepção dos trabalhos de Puccini, e daí depreende-se também a importância do compositor.


Uma influência muito nítida em seu trabalho foram as óperas de Verdi, que foi o compositor por excelência do nacionalismo italiano. A música de Verdi foi um dos produtos culturais mais importantes do período do Risorgimento italiano, o período que compreende todo o desenvolvimento da revolução burguesa na Itália até a unificação, em 1870. Puccini pertence ao período seguinte destas lutas, a etapa em que, a burguesia italiana, já detentora de seu Estado nacional, impulsiona um período vigoroso de modernização e industrialização do país. Este movimento, que coincide com a consolidação do imperialismo europeu, se estenderia até a Primeira Guerra, quando estes grandes monopólios internacionais entram pela primeira vez em um conflito de morte em busca do controle dos mercados e fontes de matérias primas existentes no mundo.

As óperas de Puccini, deste modo, procuram ainda definir o caráter próprio desta recém unificada nação italiana.


Manon Lescaut foi a ópera que consagrou Puccini como um dos grandes nomes da ópera em seu país, abrindo caminho para seus trabalhos seguintes. Em 1896 é encenada pela primeira vez uma das maiores realizações do compositor, La Bohème, que apresenta estes mesmos elementos. Esta ópera apresentava uma novidade em relação à tradição mais típica das óperas. Ao invés de ter como centro personagens saídas da aristocracia e da alta burguesia, Puccini inova, e apresenta como heróis, alguns representantes daquele movimento artístico italiano, que, até conseguirem impor sua obra ao país, viviam na completa miséria e obscuridade. O grupo principal de personagens inclui o poeta Rodolfo, o pintor Marcello, o filósofo Colline e o músico Schaunard, que dividem um pobre apartamento. A trama principal é uma história trágica de amor à maneira romântica, narrando a paixão e as desventuras de Marcello e Mimi, uma pobre vendedora de flores tuberculosa. La Bohème expressava a crescente importância que passava a ter o movimento artístico europeu, que fervilhava naqueles anos e estava prestes a ingressar no período mais importante de sua existência a partir do novo século.


Seu trabalho seguinte é um dos maiores clássicos de Puccini, Tosca, que abordava mais diretamente o problema do nacionalismo italiano e sua relação com o movimento artístico do Risorgimento. Seu herói era Mário Cavaradossi, um pintor revolucionário, entusiasta de Napoleão e adepto das idéias iluministas, apaixonado pela cantora de óperas Floria Tosca. Na obra ele é preso por acobertar outro revolucionário, Cesare Angelotti, e cabe a Tosca conseguir libertá-lo.

A estréia de Tosca deu-se em 1900 e reflete a atmosfera de intensas lutas políticas que se desenvolviam no período, quando o movimento socialista achava-se todo mobilizado pela deposição da monarquia italiana. O rei Umberto I seria assassinado apenas seis meses depois da estréia desta ópera.


A estes trabalhos, se seguiram as demais grandes óperas do compositor, sempre tendo como tema central, grandes amores e tragédias, com destaque para Madame Buterfly e Turandot, ambas com influências orientais que eram também uma das marcas do movimento modernista do período. Nestes trabalhos de Puccini posteriores a 1900 ficariam também claras as influências da música moderna sobre ele, em particular de Debussy e Strauss.


Ao final da vida Puccini foi ele mesmo protagonista de uma tragédia típica de suas óperas, em uma suspeita de traição que levou ao suicídio de uma das criadas de sua casa e à prisão de sua esposa.


O movimento nacionalista italiano do pós-guerra, descambou rapidamente para o fascismo de Mussolini. Os fascistas, em suas marchas, naturalmente adotaram uma das composições de Puccini que entoavam nos comícios, a composição nacionalista Hino a Roma. Apesar desta forte ligação de Puccini com o nacionalismo, não há qualquer evidência de uma proximidade maior com o movimento fascista. O compositor viria a falecer já sexagenário em 29 de novembro de 1924.

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