sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Robert Johnson e a música negra norte-americana

A 16 de agosto de 1938 morria, como viveu, um dos maiores músicos da cultura norte-americana: na miséria e no anonimato

16 de agosto de 2012 

Hoje se completa a aniversário de morte de Robert Johnson, um dos músicos mais representativos da história do blues. Em vida, Johnson foi sempre um músico marginal, praticamente só conhecido entre um círculo estrito de músicos. Depois de sua morte, porém, nas décadas seguintes, as poucas gravações que Johnson deixou foram descobertas por sucessivas gerações que ajudaram a consolidar o nome do músico como um dos mais influentes do estilo, tanto por suas qualidades formais quanto pela originalidade das letras.

As composições de Robert Johnson são características de um dos períodos mais importantes da história da música negra norte-americana, entre as décadas de 1920 e 30, quando, não apenas o blues torna-se um gênero musical mais profissional, como também o jazz, gênero nascido do blues, torna-se a música mais popular dos Estados Unidos, com as big bands de swing. Esse jazz moderno conquista plateias de negros e brancos, por todo o país e ajuda a fortalecer as tendências à luta do movimento negro pelo fim da segregação racial no país. Johnson, músico de talento que foi, nesse período viveu e morreu como um típico músico negro de sua geração, pobre, anônimo e marginalizado.

Um mito popular que cercou a vida do músico, divulgado pelos colegas de Robert Johnson e reforçado por ele mesmo em sua música, foi o de que o bluesman, ainda no início da carreira teria feito um pacto com o demônio, a partir do qual ele teria adquirido suas habilidades musicais. 

Segundo conta esse mito, Johnson teria vendido sua alma na encruzilhada das rodovias 61 e 49, em Clarksdale, no Mississippi. Seu violão teria sido tomado pelo diabo, que mudou a afinação do instrumento, tornando-o mais grave. Jonhson teria adquirido aí sua sonoridade característica e as qualidades como letrista e compositor. A história, difundida de boca a boca a até ser registrada nas biografias do músico, foi relatada também nas composições de Johnson como Crossroads Blues, Me And The Devil Blues e Hellhound On My Trail.

Robert Johnson nasceu no Mississipi, na cidade de Hazlehurst. O ano de seu nascimento é incerto, variando entre 1909 e 1912. Ele viveu uma infância comum a toda população pobre e negra da região, frequentou a escola entre 1924 e 27, e se tornou um jovem relativamente bem educado para sua condição social. Seu primeiro instrumento musical foi uma gaita, que tocava desde muito jovem, e com a qual começou a compor seus blues.

Johnson tinha por volta de 16 anos quando casou-se pela primeira vez, com Virginia Travis, que morreu meses depois, durante o parto. Johnson nessa época era já mal visto por muitos na comunidade devido às músicas que tocava e ao boato que já existia sobre ele ter vendido sua alma ao diabo. A morte da esposa de Johnson apenas reforçou sua fama como alguém cuja vida fora amaldiçoada.

Foi por volta de 1929 que o jovem músico conheceu um bluesman de importância em sua geração, Son House, que se mudara naquele momento para Robinsonville. Foi House, que mais tarde se lembraria de Johnson como um gaitista de talento, mas um péssimo violonista, quem ensinou ao jovem uma técnica apropriada de tocar o violão, instrumento no qual Johnson passou a se dedicar com maior seriedade a partir daí.

Depois de algumas viagens, e de ter adquirido novas habilidades com o músico Isaiah “Ike” Zimmerman, Johnson retornou em 1931 a Robinsonville tocando seu violão de uma forma já irreconhecível, descrito por seus contemporâneos como um grande virtuoso do blues.
Foram músicos como Son House e Ike Zimmerman alguns dos muitos colegas de Johnson a reforçar a fama do músico como alguém que teria vendido sua alma ao diabo para adquirir habilidades musicais sobrenaturais.

Johnson tem um segundo casamento, mas se separa poucos meses mais tarde, no início de 1932. Essa data marca o início do período mais significativo da vida do músico, que, entre 1932 e 1938, passa a viver como músico itinerante, residindo por curtos períodos em diferentes cidades no Tennessee, Arkansas, e no Delta do Mississipi.

Ele viajou nesse período por todo o país, de leste a oeste, e de norte a sul do País. Nessa vida errante, Johnson envolveu-se em muitas brigas, fez muitas dívidas e viveu com diferentes mulheres, algumas delas casadas. Sabe-se hoje que, em função desses problemas, ele chegou a usar pelo menos oito sobrenomes diferentes no período, o que confirma que o músico viveu praticamente no anonimato, viajando de cidade em cidade como um desconhecido em busca de oportunidades de trabalho nos bares noturnos.

A morte inesperada de Johnson se deu em torno de problemas dessa natureza, antes dele completar 30 anos. Em agosto de 1938, quando se apresentava no bar Tree Forks, o músico tomou uma dose de uísque envenenado (algumas versões sugerem ter sido stricnina), preparado, supostamente, pelo dono do bar, pelo fato de Johnson ter flertado com a esposa dele.
Não se sabe ao certo se Johnson morreu em função do envenenamento ou de sequelas decorrentes dele, o certo é que o músico morreu três dias mais tarde, em grande agonia.
Todo o legado musical de Robert Johnson se resume a 29 músicas gravadas em duas sessões em estúdios no Texas. A primeira delas realizada em novembro de 1936, em San Antonio, e a segunda, em junho de 1937, em Dallas.

Apesar dessa produção reduzidíssima, Johnson nas décadas seguintes se tornou uma das figuras mais populares e influentes da história do blues, que na década de 1930 viveu um de seus períodos de maior florescimento. Johnson é um dos grandes nomes do chamado Delta blues. Suas músicas influenciaram e já ganharam versões, tanto de outros músicos de blues como de grupos de rock’n’roll, como The Rolling Stones, Led Zeppelin, Eric Clapton e The Blues Brothers, entre outros. A importância e influência que se atribui hoje a Robert Johnson, está intimamente ligada à importância da música negra à cultura norte-americana.

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