sexta-feira, 30 de setembro de 2011

180 anos do nascimento de Álvares de Azevedo

O poeta viveu e morreu em uma das épocas mais reacionárias da história nacional, marcada pelo conservadorismo e a falta de perspectivas. A obra angustiada e noturna de Álvares de Azevedo era uma manifestação deste estado de coisas

13 de setembro de 2011

Esta semana se completam 180 anos do nascimento de Álvares de Azevedo. Ele é lembrado hoje como a mais representativa das vozes da chamada geração do mal-do-século na poesia brasileira, o poeta da morte e do amor irrealizado.

A despeito de sua popularidade, de ser ainda hoje um dos nomes mais lidos e conhecidos da poesia nacional, presente em todas as bibliografias básicas das escolas, exigido nos vestibulares, etc. sua obra ainda hoje é em grande medida mal interpretada, dando lugar frequentemente a análises erradas sobre o caráter de determinados temas.

São inúmeros os estudiosos que procuram fazer crer que a idealização do amor em seus versos seria produto de um “medo de amar”, segundo afirmou Mário de Andrade; ou “a dificuldade inicial [de um adolescente] de conciliar a ideia do amor com a de posse física”, conforme analisa Antônio Cândido.

Ambas as interpretações reduzem os anseios do poeta ao produto de uma timidez juvenil, o que inevitavelmente os leva a encará-lo como simples poeta adolescente, cujos temas e sofrimentos pudessem interessar unicamente a uma juventude inexperiente. Esta ideia é, porém, errada. Seus cantos em louvor do amor e da musa dizem respeito à busca espiritual do poeta pelo amor encarado como uma aspiração moral superior; não como simples ato carnal, como ligação superficial e física, mas como um encontro mais elevado entre dois indivíduos, uma ligação ideal e definitiva.

Encarada sob outra luz, era uma das tantas manifestações nos versos do poeta, de sua percepção da mediocridade da época em que vivia, do marasmo intelectual, moral, espiritual de uma sociedade conservadora e opressiva. Este fio condutor liga o tema do amor irrealizado, de seu sentimento de isolamento em vida, com o tema da morte, o outro assunto recorrente de seus versos.

O poeta pálido, desbotado, não era outra coisa que o homem consciente de estar vivendo em uma penitenciária social. Em outras palavras, manifestam-se também nestes temas, as posições políticas progressistas de Álvares de Azevedo. Seus ideais libertadores surgem de forma mais explícita em uma parte minoritária, mas de grande importância em suas poesias, cantando por exemplo, Pedro Ivo, o líder liberal da Revolução Praieira.

A relação entre Álvares de Azevedo e os ideais frustrados desta revolução pernambucana é muito significativo, pois foi ela é a manifestação, no Brasil, das Revoluções de 1848 que eclodiam na Europa naqueles mesmos meses.

Este foi um fato capital para o romantismo europeu, marcando seu encerramento como escola literária. No Brasil, onde o romantismo se manifestou de forma tardia, esta segunda geração romântica pós 1848 viveu marcada pelo dilaceramento e pela prostração espiritual diante do fracasso de suas aspirações liberais. Esta falta de perspectivas foi o ponto de partida para a poesia do mal-do-século que marcou as obras, tanto de Álvares de Azevedo, quanto de Casimiro de Abreu, Bernardo Guimarães ou Fagundes Varela, os maiores representantes desta geração na poesia brasileira.

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