sexta-feira, 13 de julho de 2012

Há exatos 58 anos, morria a pintora Frida Kahlo

Conhecida por sua pintura autobiográfica original Kahlo concebeu uma obra ao mesmo tempo pessoal e universal, colocando no primeiro plano o problema da opressão da mulher moderna

A mexicana Frida Kahlo foi a mais representativa mulher na pintura do século XX. E isso em um século que conta com inúmeras pintoras, em praticamente todos os movimentos de pintura moderna.

O impressionismo teve Mary Cassatt e Berthe Morisot; o cubismo teve Sônia Delaunay; o expressionismo teve Paula Modersohn-Becker e Gabriele Munter; o futurismo teve Benedetta Cappa Marinetti; o surrealismo teve Eleanora Carrington e Leonor Fini, entre outras; a Rússia revolucionária, que foi particularmente generosa em termos de pintoras, teve a raionista e depois cubofuturista Natália Goncharova, as suprematistas e depois construtivistas Olga Rozanova, Liubov Popova, Varvara Stepanova, Aleksandra Ekster e Nadezhda Udaltsova; e a escultora do realismo socialista Vera Mukhina, para citar apenas algumas artistas mais representativas. Sem maiores nomes da pintura modernista nas décadas de 1910 e 20 foram inequivocamente duas mulheres: Anita Malfatti e Tarsila do Amaral.


Muitos outros nomes poderiam ser acrescentados à lista, mas essa maior presença feminina nas artes, no entanto, não significou de modo algum que tenha havido uma efetiva emancipação feminina no sentido que burguesia procura fazer crer. Pelo contrário.


Isso é fácil de ser notado. Apesar do número expressivo de pintoras na arte desde o último século, muito mais do que nunca houve nos séculos anteriores, com um olhar pouco mais atento vê-se ainda a grande debilidade dessa participação das mulheres na arte. E isso por um motivo simples. Os principais iniciadores e expoentes das mais diversas vanguardas são todos homens, com raras exceções, como poderia ser citado o exemplo de Tarsila do Amaral que, apesar de pintora epigonal do cubismo, foi pioneira na descoberta de uma expressão nacional para a pintura brasileira em suas fases pau-brasil e antropofágica.


A predominância masculina nesse terreno e em todas as esferas da arte é inegável. É exatamente essa predominância que revela todo o problema da opressão da mulher nos dias atuais, e o problema de fundo que as tornaram menos aptas, pelos motivos dos mais variados, a atuar, como tem feito os homens, como desbravadoras de novas formas artísticas, ou, ainda, de levar às consequências mais radicais essas formas expressivas. O que invariavelmente relegou às mulheres um papel secundário ou acessório na história da pintura moderna.


É nesse panorama que se destaca a grande importância obra de Frida Kahlo, que não foi uma pintora secundária de um movimento dominado por homens, nem foi uma mera continuadora de nenhuma técnica modernista em particular, mas foi capaz de desenvolver uma produção singular na história da pintura moderna.


Muitos observadores da pintura da mexicana tendem a entender sua obra como surrealista, mas é uma definição imprecisa. A própria Frida Kahlo, apesar de sua proximidade com o surrealismo, nunca se considerou uma pintora surrealista. Sua pintura seria mais bem definida como uma obra de realismo fantástico, em que os temas retratados eram retirados diretamente de elementos objetivos e conscientes de sua vida, e reorganizados em composições delirantes e emotivas.

Frida Kahlo é uma artista original tanto pela independência de sua expressão quanto pela força dramática de sua técnica, ao mesmo tempo popular e vanguardista. 


Mas Kahlo ergue-se como a pintora mais representativa da tradição moderna não simplesmente por essas características formais exteriores, que, se poderia argumentar, foram alcançadas também de diferentes maneiras e em diferentes níveis por outras pintoras.


Pode-se colocá-la nesse posto, sobretudo, por outra qualidade, mais profunda e essencial de sua produção. Kahlo conseguiu, como nenhuma outra pintora, transmitir em suas telas o drama da mulher moderna e o fez de uma forma direta, revolucionária. Por meio de uma obra autobiográfica, praticamente um diário íntimo, ela pôde expressar uma condição comum a todas as mulheres. Sua pintura é universal, e, o que surpreende, essencialmente feminina. Uma pintura que só poderia ter sido realizada por uma mulher, e só isso já a distingue de grande parte das pintoras de seu tempo.


São quadros marcados pelo desespero, pela dor, tendo como tema, questões próprias do universo feminino. Kahlo foi a primeira pintora a abordar em suas obras o aborto e outros problemas ligados à realidade da mulher.


Os sofrimentos físicos de Kahlo, decorrentes do acidente que sofreu na juventude, foram retratados nos quadros em seus efeitos devastadores, tanto subjetivos, consequência das privações e humilhações que viveu; quanto objetivos, de suas muitas limitações físicas, as dores constantes e os abortos que a pintora sofreu como resultado das mutilações de seu corpo.
Essa obra verdadeiramente libertadora e revolucionária não surgiu ao acaso, mas foi um dos subprodutos da Revolução Mexicana de 1910 – e também da Revolução Russa de 1917 –, a qual Frida esteve intimamente ligada e sempre apoiou ao lado de seu marido, o pintor Diego Rivera, ambos ligados ao trotskismo.

Enquanto Rivera desenvolvia sua obra épica em pintura mural, retratando a grandiosidade do drama revolucionário protagonizado pela classe operária mundial em luta contra o imperialismo; Frida, ao seu lado, se dedicava a uma tarefa igualmente importante e revolucionária, mas em uma perspectiva reduzida, intimista, subjetiva, pessoal – que por sua própria natureza não poderia ser realizada de forma diferente –, tratou de temas nunca abordados antes na pintura, e estabeleceu os fundamentos de uma pintura moderna de expressão feminina. Era um dos aspectos indissociáveis daquela mesma luta revolucionária pintada por Rivera: a luta pela libertação da mulher.


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