terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Obra de Anita Malfatti é exposta em Curitiba

A exposição panorâmica da pintora, em cartaz no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba.
 Raramente têm-se oportunidade de ver uma mostra panorâmica da obra da artista, incluindo sua fase de formação e suas pinturas posteriores a 1917. Todos os períodos criativos de Anita Malfatti podem ser vistos agora no Museu Oscar Niemeyer

A Chinesa, que foi exposta em 1922, na Semana.
Está em cartaz desde dezembro em Curitiba, uma retrospectiva da obra de Anita Malfatti, a grande pioneira da pintura modernista no Brasil.

O interesse da mostra está justamente no conjunto de quadros que o Museu Oscar Niemeyer conseguiu reunir. Estão presentes no museu obras de diferentes coleções nacionais e internacionais. Muitas dessas telas são pouco conhecidas por pertencerem a acervos particulares que raramente os cedem para exibições públicas.

O museu apresenta nessa mostra um total de 100 telas que percorrem a trajetória da artista de forma panorâmica, destacando o desenvolvimento da pintora desde sua fase de aprendizado, passando pelo seu momento mais vanguardista, até sua crise e o retrocesso de sua técnica no final da década de 1910.

A principal importância da obra de Anita Malfatti está em seu pioneirismo. Foi ela uma das primeiras artistas brasileiras a incorporar em seu estilo as técnicas avançadas da pintura européia, marcando o início de uma verdadeira revolução no movimento de artes plásticas nacional.
Sua primeira exposição é um dos eventos públicos mais significativos da história do modernismo. Logo após chegar da Europa, e estimulada por seu amigo Di Cavalcanti, ela realiza sua exposição em setembro de 1917 em um espaço no Mappin Stores com 53 obras.

A mostra provocou escândalo, e foi após ver essa exposição que Monteiro Lobato escreveu seu artigo Paranóia ou Mistificação desferindo um ataque violento contra a arte de Malfatti. O que mais surpreendia no artigo era o fato de ter sido escrito não por algum elemento reacionário avesso ao movimento de renovação das artes nacionais, mas justamente por um de seus baluartes.

No artigo, Lobato teorizava que havia duas espécies de artistas, os “saudáveis” e os que “vêm anormalmente a natureza e a interpretam à luz das teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência; são frutos de fim de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz do escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento”.

O Circo.
 Mais adiante em seu artigo ele é mais específico, “Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de outros ramos da arte caricatural. É a extensão da caricatura a regiões onde não havia até agora penetrado. Caricatura da cor, caricatura da forma – mas caricatura que não visa, como a verdadeira, ressaltar uma idéia, mas sim desnortear, aparvalhar, atordoar a ingenuidade do espectador.”

Nada poderia ser mais equivocado. Lobato condenava como “furúnculos” fadados à vida efêmera, uma das mais importantes revoluções formais da pintura moderna, a libertação expressiva das cores e das formas que enterraria completamente as velhas escolas como movimentos vivos da pintura.

Retrato de Mário de Andrade.
Foi um artigo infeliz o de Lobato e provocou um impacto extremamente negativo em Malfatti, que entraria em uma crise da qual nunca mais conseguiria se recuperar.

Na ocasião, o único modernista a ter coragem de refutar as críticas de Lobato e defender Malfatti 
publicamente seria justamente sua figura mais avançada, Oswald de Andrade, que escreve um artigo em resposta no Jornal do Comércio.

Após o incidente, Anita Malfatti entrou em depressão e abandonou a pintura por um ano. Quando retomou suas atividades, passou a pintar primeiro naturezas-mortas em um estilo naturalista, depois, após conhecer Tarsila do Amaral, recuperou sua confiança e voltou a pintar em um estilo mais avançado, mas nunca mais retornaria ao vanguardismo de suas telas até 1917. Anos mais tarde, sobre o caso, seu amigo Mário de Andrade comentaria: “Ela fraquejou, sua mão, indecisa, se perdeu”.

A exposição organizada no Museu Oscar Niemeyer acompanha, portanto, essa trajetória da artista, incluindo suas pinturas das décadas de 1920 e 30 que revelam bem sua crise na irregularidade de sua pintura. A mostra Anita Malfatti permanecerá em cartaz em Curitiba até o dia 29 de janeiro.

Leia outras matérias de Cultura diretamente no portal Causa Operária Online, clique aqui.  
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário