terça-feira, 11 de setembro de 2012

Retrospectiva aborda obra de Alain Resnais

Em cartaz em São Paulo, a mostra apresenta uma retrospectiva abrangente com os principais filmes da carreira do diretor, com destaque para seus documentários ‘autorais’ anteriores à sua fase ‘nouvelle vague’

Está em cartaz na Cinemateca Brasileira, na zona sul de São Paulo, uma mostra abrangente de filmes do cineasta francês Alain Resnais, que se notabilizou na década de 1950 associado ao movimento da nouvelle vague.

Ao longo de mais de cinco décadas de atividade, Renais ficou conhecido por seus filmes altamente subjetivos e experimentais, um cinema tipicamente “de autor”, que era uma das premissas da nouvelle vague.

Renais foi sempre um admirador dos movimentos vanguardistas em arte. Em 1951 produziu o documentário Guernica, a sobre o bombardeio à cidade espanhola e tomando como fio condutor do filme a obra-prima de Pablo Picasso.

Depois disso, já em sua fase nouvelle vague, Resnais realisou Hiroshima meu amor e O ano passado em Marienbad, filmes feitos em parceria com dois dos maiores nomes do noveau roman francês, Alain Robbe-Grillet e Marguerite Duras, que escreveram os roteiros.
Dessa maneira, já no início da década de 1960, Renais era tido como o mais vanguardista e hermético dos diretores da nova geração do cinema francês.

O interessante dessa mostra atualmente em cartaz na Cinemateca é conhecer justamente a produção, toda ela de documentários, de Resnais que antecede sua vinculação com a nouvelle vague. Tais filmes revelam que Resnais perseguia já um cinema autoral bem antes dos críticos da Cahiers du Cinéma teorizarem esses princípios. Como um cineasta mais velho do que Truffaut, Godard, Rohmer e outros, Resnais foi uma inspiração para os novos cineastas antes de vir a formar um movimento com eles, indicando, portanto, a tendência geral por onde seguiria o cinema francês nas décadas seguintes.

A produção mais antiga presente na mostra é justamente Guernica, que já traz essa marca “autoral” do cinema de Resnais. O filme não é uma narrativa convencional sobre a devastação da cidade pelo bombardeio fascista, mas um documentário poético, que se desenvolve todo a partir de uma narração dramática, que intercala imagens emocionalmente impactantes de diversas obras de Picasso produzidas durante as décadas de 1930 e 40.

Seguem essa mesma tendência os documentários seguintes do diretor. Noite e neblina, de 1955, que alterna imagens contemporâneas das instalações dos campos de concentração nazistas abandonados, com imagens do período da guerra, acompanhado também por uma narração poética.

Em O canto do estireno, de 1958, que retrata a fabricação do plástico na França, esses princípios são levados a um maior radicalismo, e a narração é toda feita em versos alexandrinos, compostos pelo escritor Raymond Queneau.

Depois desses filmes, Resnais ingressa na fase nouvelle vague e realiza seus dois longa-metragem ficcionais mais importantes, os já citados Hiroshima meu amor e O ano passado em Marienbad. Esse segundo filme, de 1961, é o mais radical da filmografia do diretor, que tem a virtude de colocar totalmente de lado as “necessidades comerciais” do cinema e realiza um filme indigesto para muitos espectadores, mas que constitui um experimento extremamente pertinente na época, usando para a forma narrativa do filme, o movimento literário mais avançado surgido no segundo pós-guerra mundialmente. O ano passado em Marienbad é um filme que poucos diretores teriam a coragem, a liberdade e o desprendimento necessário para fazer.
Resnais manteve esse estilo de cinema e essa influência do noveau roman também em seus filmes seguintes, entre os quais se destaca Muriel, de 1963, que também trata dos traumas da guerra, agora um homem que é assombrado pelas lembranças dos horrores que presenciou na Guerra da Argélia.

O tema dos traumas de guerra foi de fato durante muito tempo o tema principal dos filmes de Resnais, tema cujas técnicas expressivas que encontrou se aplicam perfeitamente, como pode se ver em A guerra acabou, de 1966, sobre um militante comunista espanhol que participou da Guerra Civil; e Loin du Vietnam, produção coletiva realizada como um protesto contra Guerra do Vietnã.

Muitos outros filmes de Resnais estão também presentes na mostra, adentrando em suas produções das décadas de 1970, 80 e 90. É uma boa oportunidade para se conhecer esse que é um dos criadores centrais do cinema francês da segunda metade do século. Confira abaixo a programação completa da mostra.

Programação:

12.09 – Quarta-feira
Sala Cinemateca Petrobras
18h30 Amores Parisienses
21h00 Loin du Vietnam

13.09 – Quinta-feira
Sala Cinemateca Petrobras
18h00 Smoking
20h30 Guernica | As Estátuas Também Morrem | Noite e Neblina | Toda A Memória Do Mundo | O Canto do Estireno

14.09 - Sexta-feira
Sala Cinemateca Petrobras
18h00 Pour Esteban González, González, Cuba | A Guerra Acabou
20h30 Loin du Vietnam

19.09 - Quarta-feira
Sala Cinemateca Petrobras
18h30 Meu Tio da América
20h30 Muriel

20.09 - Quinta-feira
Sala Cinemateca BNDES
18h30 Stavisky ou O Império de Alexandre
20h30 Pour Esteban González, González, Cuba | A Guerra Acabou

21.09 - Sexta-feira
Sala Cinemateca Petrobras
19h00 O Ano Passado em Marienbad
21h00 Meu Tio da América

22.09 - Sábado
Sala Cinemateca Petrobras
19h30 Pour Esteban González, González, Cuba | A Guerra Acabou

23.09 - Domingo
Sala Cinemateca Petrobras
15h00 Amores Parisienses
17h30 No Smoking
20h00 Smoking

Sinopses:

Guernica, de Alain Resnais e Robert Hessens
França, 1951, 35mm, pb, 13’ | Legendas em português
O bombardeamento de Guernica pela aviação nazista, em favor de Franco, é evocado através do afresco de Picasso e de outras de suas obras.

As estátuas também morrem (Les statues meurent aussi), de Alain Resnais e Chris Marker
França, 1953, 35mm, pb, 29’ | Legendas em português
Documentário sobre a arte negra, combinando imagens de estátuas africanas a um texto de Chris Marker que denuncia a opressão e a destruição de uma arte e de um povo por outro. Manifesto anti-colonialista, recebeu o Prêmio Jean Vigo de 1954.

Noite e neblina (Nuit et brouillard), de Alain Resnais
França, 1955, 35mm, cor/pb, 32’ | Legendas em português
Encomendado pelo Comitê de História da Segunda Guerra Mundial, o filme alterna as paisagens serenas e coloridas dos campos de concentração nazistas no presente a imagens de arquivo que retratam os horrores do passado.

Toda a memória do mundo (Toute la mémoire du monde), de Alain Resnais
França, 1956, 35mm, pb, 22’ | Legendas em português | Exibição em DVD
Num passeio pelos corredores da Biblioteca Nacional Francesa, o documentário discute a memória e o legado de nossa civilização.

O canto do estireno (Le chant du styrène), de Alain Resnais
França, 1958, 35mm, cor, 14’ | Legendas em português | Exibição em DVD
Documentário poético sobre a fabricação do plástico, aliando imagens do processo industrial filmadas em Cinemascope a uma narração em versos alexandrinos compostos pelo escritor francês Raymond Queneau, autor do romance Zazie no metrô.

Hiroshima meu amor (Hiroshima mon amour), de Alain Resnais
França/Japão, 1959, 35mm, pb, 90’ | Legendas em português
Emmanuelle Riva, Eiji Okada, Stella Dassas, Pierre Barbaud
Uma atriz francesa, em visita a Hiroshima devastada pela guerra para atuar num filme sobre a paz, se envolve com um arquiteto japonês que sobreviveu ao bombardeio. O romance a faz relembrar seu antigo amor por um soldado alemão que conheceu em Nevers, na França, no final da Segunda Guerra. Primeiro longa-metragem de Resnais, com roteiro da escritora e cineasta Marguerite Duras.

O ano passado em Marienbad (L'année dernière à Marienbad), de Alain Resnais
França/Itália, 1961, 35mm, pb, 94’ | Legendas em português
Delphine Seyrig, Giorgio Albertazzi, Sacha Pitoëff, Françoise Bertin
Num luxuoso hotel, um homem tenta fazer com que uma mulher se lembre do romance que supostamente tiveram um ano antes. Explorando a arquitetura do hotel, Resnais fez um de seus filmes mais impactantes. Com roteiro do escritor Alain Robbe-Grillet, O ano passado em Marienbad apresenta uma narrativa não-linear, permeada pelo mundo dos sonhos e pelos labirintos da memória. Marienbad é um marco da nouvelle vague. Recebeu o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1961 e indicação ao Oscar de melhor roteiro original em 1963.

Muriel (Muriel ou le temps d'un retour), de Alain Resnais
França/Itália, 1963, 35mm, cor, 116’ | Legendas em português
Delphine Seyring, Jean-Pierre Kérien, Nita Klein, Jean- Baptiste Thiérrée
Viúva reencontra um antigo amor da juventude e com isso consegue se livrar do tédio que parece contaminar sua existência. Enquanto isso, seu jovem enteado é assombrado por memórias de uma atrocidade que testemunhou durante a guerra da Argélia, quando uma jovem chamada Muriel foi torturada até a morte. Terceiro longa-metragem do diretor Alain Resnais, que novamente contou com a colaboração do escritor e roteirista Jean Cayrol, responsável pelo texto do curta-metragem Noite e neblina, o filme dá sequência às investigações já presentes em seus curtas-metragens e em seus dois longas anteriores, Hiroshima mon amour e O ano passado em Marienbad, nos quais como aqui, misturam-se passado e presente e realidade e imaginação para dar conta dos efeitos do tempo e da memória.

A guerra acabou (La guerre est finie), de Alain Resnais
França/Suíça, 1966, 35mm, pb, 121’ | Legendas em português | Exibição em 16mm
Yves Montand, Ingrid Thulin, Geneviève Bujold, Jean Dasté
Militante comunista espanhol vai a Paris com um nome falso e tenta encontrar um antigo companheiro. Seu objetivo é impedir que o colega regresse à Espanha, onde poderá ser preso pela polícia franquista. Indicado ao Oscar de Melhor roteiro em 1968. Fotografia de Sacha Vierny.

Loin du Vietnam, de Alain Resnais, Chris Marker, Jean-Luc Godard, Agnès Varda, Joris Ivens, William Klein e Claude Lelouch
França, 1967, 35mm, cor, 115’ | Legendas em português
Supervisionado pelo cineasta Chris Marker (1921-2012), Loin du Vietnam foi rodado por um coletivo de diretores e técnicos, entre eles Jean-Luc Godard, Agnès Varda e Alain Resnais. Trata-se de um manifesto contra a Guerra do Vietnã e os norte-americanos, em favor dos vietnamitas. Segundo Marker, “se algum dia um filme francês mereceu ser chamado coletivo, foi bem este, a ponto de perguntarmos, durante sua realização, quem fazia o quê”.

Stavisky ou O império de Alexandre (Stavisky... ), de Alain Resnais
França/Itália, 1974, 35mm, cor, 115’ | Legendas em português
Jean-Paul Belmondo, Charles Boyer, François Périer, Michael Lonsdale
Inspirado na vida do industrial francês Alexandre Stavisky. Ele utiliza seu charme e talento para fazer amizade com influentes membros da elite industrial e política francesa. No entanto, ao armar um grande golpe, envolve-se num escândalo que quase leva o país a uma guerra civil. Música do compositor americano Stephen Sondheim. Roteiro de Jorge Semprún. Por sua atuação, Charles Boyer recebeu o Prêmio de Melhor ator no Festival de Cannes de 1974. Stavisky também foi indicado a Palma de Ouro.

Meu tio da América (Mon oncle d'Amérique), de Alain Resnais
França, 1980, 35mm, cor, 125’ | Legendas em português
Gérard Depardieu, Nicole Garcia, Roger Pierre, Henri Laborit
Os destinos cruzados de três personagens sob o olhar de outro: o biólogo Henri Laborit, que explica sua teoria sobre como o ambiente interfere na formação da personalidade dos seres humanos. Os objetos de investigação são dois homens e uma mulher, de cidades, origens sociais e famílias diferentes.

Pour Esteban González, González, Cuba, de Alain Resnais
França, 1991, 35mm, cor, 3’ | Legendas em português | Exibição em beta analógica
Uma carta filmada endereçada à Fidel Castro para pedir a libertação de um preso político. Filme realizado a convite da Anistia Internacional, dentro do longa coletivo Contre l'oubli, que contou com a participação de vários cineastas, entre eles Godard, Claire Denis e Costa-Gravas. O curta é inédito no Brasil.

Smoking, de Alain Resnais
França, 1993, 35mm, cor, 140’ | Legendas em português
Sabine Azéma, Pierre Arditi, Peter Hudson
Oito histórias diferentes que tratam da vida de cinco mulheres, todas interpretadas por uma só atriz, e de quatro homens, também interpretados pelo mesmo ator. A narrativa trata das escolhas que cada um pode fazer em sua vida. Adaptação da peça Intimate Exchanges, do dramaturgo Alan Ayckbourn, o filme forma um duplo com No smoking e recebeu o Urso de Prata no Festival de Berlim em 1994.

No smoking, de Alain Resnais
França, 1993, 35mm, cor, 144’ | Legendas em português
Sabine Azéma, Pierre Arditi, Peter Hudson
Oito histórias diferentes que tratam da vida de cinco mulheres, todas interpretadas por uma só atriz, e de quatro homens, também interpretados pelo mesmo ator. A narrativa trata das escolhas que cada um pode fazer em sua vida. Adaptação da peça Intimate Exchanges, do dramaturgo Alan Ayckbourn, o filme forma um duplo com Smoking e recebeu o Urso de Prata no Festival de Berlim em 1994.

Amores parisienses (On connaît la chanson), de Alain Resnais
França, 1997, 35mm, cor, 120’ | Legendas em português
Pierre Arditi, Sabine Azéma, Agnès Jaoui, Jane Birkin
As rotinas profissionais e os desencontros amorosos de seis personagens. Musical dirigido por Resnais, que utiliza canções populares francesas para ilustrar a ciranda sentimental de suas personagens. Sucesso de bilheteria, Amores parisienses recebeu sete prêmios César e o Prêmio Louis Delluc.


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