sábado, 20 de outubro de 2012

Morre o cineasta japonês Koji Wakamatsu

Wamakatsu foi um dos grandes diretores do movimento de renovação do cinema japonês da década de 1960, associado ao chamado ‘noberu bagu’ a ‘nouvelle vague’ japonesa
Morreu na noite da última quarta-feira (17) o cineasta Koji Wakamatsu em um hospital em Tóquio, onde estava internado desde sexta-feira (12), após ter sido vítima de atropelamento. O diretor estava com 76 anos.

Wakamatsu foi um destacado diretor da geração de 1960 do cinema japonês, durante o período de radicalização política em que viveu o país no final da década. Ele foi um realizador popular entre o movimento estudantil radicalizado da década de 1960. Seu nome é associado ao movimento vanguardista da noberu bagu, surgido no Japão sob o impacto da nouvelle vague francesa.

Durante a guerra do Vietnã, o Japão foi transformado em uma base regular de atividades para tropas norte-americanas que partiam dali para a Indochina. Essa situação desencadeou uma enorme onda de radicalização política, que se juntava à crise do regime político japonês. Na ocasião, imensos protestos eram organizados pelo movimento estudantil e uma ala mais radicalizada do movimento iniciou um movimento de guerrilha associado com os demais grupos de orientação maoista surgidos da Europa, como o Baader-Meinhof na Alemanha Ocidental. Em um de seus filmes mais conhecidos Êxtase dos anjos do diretor se inspirava nessa realidade para traçar um balanço sombrio do fracasso do movimento armado japonês.

O primeiro filme de destaque de Wakamatsu surgiu em 1965, foi Secrets behind de wall, que analisava as perversões sexuais presentes na sociedade japonesa. Repleto de cenas eróticas explícitas, o filme apresentava a história de um estudante antissocial, isolado e sombrio que começa a espionar pela janela a vida sexual de sua vizinha, uma ex-ativista política pacifista.

A obra foi selecionada para representar o Japão no Festival de Berlim daquele ano e causou, por isso, viva controvérsia entre os meios cinematográficos japoneses. Os membros da conservadora federação de produtores de cinema do Japão chegaram a tirar um manifesto declarando ser uma “vergonha nacional” a escolha de tal obra para o festival, que os produtores classificavam como pink eiga, nome popularmente atribuídos aos filmes de “pornô soft” japoneses.

Essa controvérsia tornou o diretor uma figura marginalizada entre os meios cinematográficos oficiais no País desde então, motivo pelo qual Wamakatsu abriu uma produtora independente para dar prosseguimento ao seu trabalho.

As discussões sobre o conteúdo sexual dos filmes do diretor o acompanhariam durante toda a trajetória, como em sua participação na produção de Império dos sentidos (1975), dirigido por Nagisa Oshimi, que foi alvo dos mesmos ataques.

O cinema de Wakamatsu, porém, ia muito além disso, e tais discussões acabavam por encobrir o fato de seus filmes trazerem à tona problemas políticos presentes na sociedade japonesa desde a década de 1960.

Um dos filmes mais políticos de Wakamatsu é o já citado Êxtase dos anjos, de 1972. Ele retratava a trajetória de um grupo guerrilheiro japonês que prepara um ataque para roubar armas de uma base do Exército norte-americano. Um dos membros do grupo trai a organização e a operação fracassa. A partir daí Wakamatsu retrata a completa desintegração do grupo em meio à paranoia e intriga.

A filmografia do diretor é bastante extensa, inclui quase uma centena de produções, as quais frequentemente tocavam temas políticos e adotavam uma estética vanguardista.
Uma das produções recentes de Wakamatsu foi o Exército Japonês Unido, de 2007, retratando a história desse grupo maoista formado em 1968 e dissolvido em 1972. O filme foi premiado no Festival de Berlim desse ano.

Em 2010, outro filme do diretor teve notoriedade, Caterpilar, um drama passado na Segunda Guerra e que foi também selecionado pelo Festival de Berlim. Também em 2010 Wakamatsu dirigiu 11:25: The Day He Chose His Own Fate uma cinebiografia do escritor Yukio Mishimam que foi exibida em Cannes. A última produção do cineasta japonês foi The Millennial Rapture, exibido recentemente, em setembro, no Festival de Veneza.

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