domingo, 7 de outubro de 2012

Lançado nessa semana novo livro sobre Vladimir Herzog

Além de reconstituir as circunstâncias em torno do assassinato do jornalista pela ditadura militar, a biografia resgata um episódio obscuro de sua infância, quando a família Herzog atravessou a Europa fugindo do nazismo


Ocorreu na última quinta-feira (3) o lançamento da biografia As duas guerras de Vlado Herzog, escrita pelo jornalista Audálio Dantas, que na ocasião da morte de Herzog era o presidente do Sindicato dos Jornalistas.


O objetivo do autor era escrever uma reportagem reconstituindo as circunstâncias e o momento político em que Herzog foi assassinado, trabalho que resultou na presente biografia.

O livro é dividido em duas partes distintas, destacando um outro aspecto da vida do jornalista praticamente desconhecido do grande público. Dantas volta à infância do jornalista e mostra a família Herzog, de origem iugoslava e judia, que durante a Segunda Guerra teve de fugir de sua cidade natal, Banja Luka, para a Itália, e de lá partiram para a América. Nem todos os membros da família, porém, puderam empreender juntos a fuga, e os que ficaram para trás acabaram exterminados nos campos de concentração. Essa teria sido a “primeira guerra” em que o futuro jornalista se envolvera ainda na infância. A “outra guerra” foi, obviamente, a ditadura militar brasileira.

A parte principal da biografia destaca justamente a atividade de Herzog durante a ditadura: “Este livro é a tentativa de reconstituição de um tempo ruim. Centrado nos tumultuados dias de outubro de 1975, quando a fúria dos agentes do lado mais escuro da ditadura militar golpeou a fundo a categoria dos jornalistas, ele mostra os acontecimentos do ponto de vista de quem os viveu intensamente. Eu, por exemplo, que não tenho dúvida de que aqueles foram os dias mais angustiantes da minha vida”.

Para contar essa história, apresentar um quadro vivo da atuação da ditadura no período e reconstituir a crise política da época, Audálio Dantas colheu depoimentos de mais de cinquenta jornalistas que também viveram processos de perseguição durante a ditadura e narraram suas experiências com o DOI-Codi.

Mais do que apenas narrar os fatos que levaram à morte de Herzog, Dantas busca em seu livro enfatizar o significado político e histórico que o acontecimento assumiu em meio a um enorme movimento de luta contra a ditadura.

Conforme Dantas comentou, “Vlado foi o 12º jornalista sequestrado naquele período. E denunciamos um a um, desde o primeiro. Claro que com ele foi mais grave, porque resultou em morte. No dia seguinte à notícia – quando ainda não havia sido divulgada a foto dele morto na prisão – emitimos nota responsabilizando o Estado pela morte. Dois pontos foram fundamentais para a repercussão dessa nota: o primeiro foi que a responsabilidade pela morte do preso que estava em poder das autoridades era, sim, do Estado, independentemente das circunstâncias dessa morte; o segundo foi que havia um convite para o velório do Vlado, o que não era comum. Na época, as pessoas que morriam vítimas de confrontos policiais, suicídio etc. eram enterradas sem barulho. Vlado foi a primeira vítima da ditadura a não ser enterrada em silêncio”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário