sábado, 6 de outubro de 2012

Municipal paulista apresenta duas óperas alemãs em sua programação de outubro

Dando continuidade à sua temporada de óperas, o teatro traz um programa duplo este mês, apresentando ‘Violanta’, de Korngold e ‘Uma Tragédia Florentina’, de Zemlinsky

Cena de Violanta, da montagem que será encenada no Municipal.
Depois de ter levado ao palco em agosto uma montagem grandiosa ópera O crepúsculo dos deuses, do alemão Richard Wagner, o Teatro Municipal de São Paulo apresenta agora em outubro um programa duplo, trazendo outras duas óperas do repertório alemão. São elas, Violanta, concebida em 1916 pelo compositor Erich Wolfgang Korngold e Uma Tragédia Florentina, composta em 1917 por Alexander Von Zemlinsky.

A opção do Municipal poderia parecer inusitada, mas na realidade segue uma tradição, pois ambas as óperas vem sendo apresentadas juntas nas temporadas internacionais há décadas.
Isso se deve tanto pelo tempo reduzido de duração de cada uma delas – Violanta com cerca de 1h10 e Uma Tragédia Florentina com 50 minutos – quanto pelas afinidades que as duas obras possuem entre si e a proximidade musical Korngold e Zemlinsky, que eram contemporâneos e de origem austríaca.

Os dois espetáculos são ambientados na Itália renascentista (Violanta se passa na Veneza do século XV e Uma Tragédia Florentina na Florença do século XVI.) e apresentam um enredo superficialmente similar, com traições e triângulos amorosos ao centro da trama. Os heróis das duas peças têm inclusive o mesmo nome, Simone, que são, em ambas as histórias, maridos traídos.

Do ponto de vista do estilo das duas criações há também o fato de Korngold ter recebido grande influência musical de Zemlinsky, este último, 26 anos mais velho. Essa influência foi particularmente forte na juventude de Korngold, que foi aluno de Zemlinsky e concebeu Violanta quando tinha apenas 17 anos.

Por trás das similaridades, no entanto, há duas obras distintas, daí o interesse em apresentá-las juntas. Ao pé que Violanta é uma tragédia, Uma tragédia florentina é uma sátira social, de maneira que, juntas, fazem um vivo contraste e apresentam duas faces distintas da ópera do chamado neorromantismo alemão. 

Violanta 

Com um libreto original escrito pelo poeta austríaco Hans Müller, essa ópera é uma tragédia bastante tradicional, ao estilo do romantismo. Simone é um comandante militar da República de Veneza, marido da bela Violanta. Ele jurou vingança contra Alfonso, príncipe da República, após a irmã de Violanta, Nerina ter se suicidado depois de ter sido seduzida e desprezada pelo galanteador Alfonso. A ópera será a história da execução dessa vingança.
Violanta, para vingar-se, elabora um plano para seduzir Alfonso, levá-lo aos seus aposentos durante a celebração do carnaval veneziano. Lá o príncipe seria morto por Simone, que estaria escondido no quarto. O plano, no entanto, sai do controle de sua idealizadora. Violanta apaixona-se por Alfonso e tenta então evitar que a vingança seja consumada. Ao final do espetáculo, porém, Simone descobre o romance, salta sobre Alfonso, mas acaba assassinando Violanta, que se coloca entre os dois. O desfecho da obra mostra a condenação moral da heroína, que se deixa levar pelas emoções passando por cima de seus deveres morais para com a irmã e o marido.

Uma tragédia florentina

O libreto de Uma tragédia florentina foi composto a partir de um conto homônimo do britânico Oscar Wilde. A ópera, apesar do que sugere o título, é na realidade uma sátira. Ela começa quando um rico comerciante florentino de tecidos, Simone, regressa de viagem e encontra, em casa, sua esposa, Bianca, com um desconhecido, que se apresenta como um cliente, príncipe Guido Bardi, filho do monarca de Florença. Bardi era na realidade amante de Bianca. Nas cenas seguintes a obra revela toda a subserviência do burguês ao aristocrata quando esse se mostra disposto a comprar tudo o que havia na casa, pinturas, tapetes, móveis e inclusive a esposa dele. Simone declina, diz que Bianca não era digna de um príncipe. A trama segue nesse ritmo até que o ingênuo Simone descobre o caso entre os dois e desafia Bardi para um duelo. No embate final entre eles, Simone desarma Bardi e o estrangula no chão. Bianca que torcia entusiasticamente, aos berros, para que Bardi matasse o marido, assim que vê a cena se coloca ao lado de Simone com declarações de amor calorosas. Simone também abraça calorosamente a mulher, apaixonado. A peça expõe ao ridículo a hipocrisia das relações amorosas burguesas e o interesse social que reside por trás das aparências.

A montagem do Municipal

A montagem de Violanta e Uma tragédia florentina que chega agora no Municipal foram dirigidas pelo dramaturgo Felipe Hirsch e seus colaboradores, Daniela Thomas e Felipe Tassara. O mesmo grupo já dirigiu a montagem de duas outras óperas apresentadas no Municipal, O Castelo do Barba Azul (2006) e Rigoletto (2011). A música do espetáculo ficará a cargo da Orquestra Sinfônica Municipal, (com participação do Coral Lírico em Violanta) e sob a regência de Luís Gustavo Petri, que também assina a direção musical.
As óperas serão apresentadas juntas ao longo do mês de outubro, nos dias 12, 13, 16, 18, 20 e 21.

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