sexta-feira, 30 de setembro de 2011

180 anos do nascimento de Álvares de Azevedo

O poeta viveu e morreu em uma das épocas mais reacionárias da história nacional, marcada pelo conservadorismo e a falta de perspectivas. A obra angustiada e noturna de Álvares de Azevedo era uma manifestação deste estado de coisas

13 de setembro de 2011

Esta semana se completam 180 anos do nascimento de Álvares de Azevedo. Ele é lembrado hoje como a mais representativa das vozes da chamada geração do mal-do-século na poesia brasileira, o poeta da morte e do amor irrealizado.

A despeito de sua popularidade, de ser ainda hoje um dos nomes mais lidos e conhecidos da poesia nacional, presente em todas as bibliografias básicas das escolas, exigido nos vestibulares, etc. sua obra ainda hoje é em grande medida mal interpretada, dando lugar frequentemente a análises erradas sobre o caráter de determinados temas.

São inúmeros os estudiosos que procuram fazer crer que a idealização do amor em seus versos seria produto de um “medo de amar”, segundo afirmou Mário de Andrade; ou “a dificuldade inicial [de um adolescente] de conciliar a ideia do amor com a de posse física”, conforme analisa Antônio Cândido.

Ambas as interpretações reduzem os anseios do poeta ao produto de uma timidez juvenil, o que inevitavelmente os leva a encará-lo como simples poeta adolescente, cujos temas e sofrimentos pudessem interessar unicamente a uma juventude inexperiente. Esta ideia é, porém, errada. Seus cantos em louvor do amor e da musa dizem respeito à busca espiritual do poeta pelo amor encarado como uma aspiração moral superior; não como simples ato carnal, como ligação superficial e física, mas como um encontro mais elevado entre dois indivíduos, uma ligação ideal e definitiva.

Encarada sob outra luz, era uma das tantas manifestações nos versos do poeta, de sua percepção da mediocridade da época em que vivia, do marasmo intelectual, moral, espiritual de uma sociedade conservadora e opressiva. Este fio condutor liga o tema do amor irrealizado, de seu sentimento de isolamento em vida, com o tema da morte, o outro assunto recorrente de seus versos.

O poeta pálido, desbotado, não era outra coisa que o homem consciente de estar vivendo em uma penitenciária social. Em outras palavras, manifestam-se também nestes temas, as posições políticas progressistas de Álvares de Azevedo. Seus ideais libertadores surgem de forma mais explícita em uma parte minoritária, mas de grande importância em suas poesias, cantando por exemplo, Pedro Ivo, o líder liberal da Revolução Praieira.

A relação entre Álvares de Azevedo e os ideais frustrados desta revolução pernambucana é muito significativo, pois foi ela é a manifestação, no Brasil, das Revoluções de 1848 que eclodiam na Europa naqueles mesmos meses.

Este foi um fato capital para o romantismo europeu, marcando seu encerramento como escola literária. No Brasil, onde o romantismo se manifestou de forma tardia, esta segunda geração romântica pós 1848 viveu marcada pelo dilaceramento e pela prostração espiritual diante do fracasso de suas aspirações liberais. Esta falta de perspectivas foi o ponto de partida para a poesia do mal-do-século que marcou as obras, tanto de Álvares de Azevedo, quanto de Casimiro de Abreu, Bernardo Guimarães ou Fagundes Varela, os maiores representantes desta geração na poesia brasileira.

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João Cândido Portinari fala sobre seu pai

Leia Causa Operária desta semana com entrevista exclusiva com o filho único do pintor modernista Cândido Portinari

13 de setembro de 2011



O semanário operário de socialista Causa Operária trás na edição desta semana, número 655, uma entrevista exclusiva com João Cândido Portinari.

Ele é responsável pelos direitos autorais de Portinari. Foi premiado com o Prêmio Jabuti de literatura em 2005 pelo Catálogo Raisonné da obra completa de seu pai e também com o prêmio Prêmio Sérgio Milliet, no mesmo ano.

Sobre o Projeto Portinari afirmou “Nestes primeiros 25 anos foi preciso constituir uma grande base de conhecimento da obra completa do Portinari e através destes documentos da interação dele com os seus contemporâneos. Por contemporâneos estou falando desde políticos como grandes homens como Luis Carlos Prestes e como outros que ele conviveu intensamente. Escritores, poetas, músicos, artistas, jornalistas, educadores. Era uma geração que convivia cotidianamente discutindo os problemas brasileiros. Isso foi uma aventura extraordinária.”

João Cândido Portinari conta suas lembranças com seu pai, a descoberta do artista para ele e os seus novos trabalhos. Ele afirma que eram próximos de Portinari Manuel Bandeira, “O Drummond, Jorge Amado, Murilo Mendes, Villa Lobos, Cecília Meireles, Dante Milano eram muito próximos também. Havia uma pletora de escritores que freqüentavam a casa. Minha mãe fazia macarronadas.”

Um relato emocionante sobre a relação com a obra e o artista brasileiro Cândido Portinari.
Confira e adquira nas bancas, na livraria Benjamin Péret e com os militantes do Partido da Causa Operária.

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Macacos de auditório

Lançado recentemente nos cinemas de todo o mundo, a mais nova versão da série 'Planeta dos macacos', 'Planeta dos macacos – A origem', elimina da trama o teor revolucionário presente no original


O filme original, A conquista do planeta dos macacos (1972), foi o terceiro da série iniciada em 1968 com O planeta dos macacos, estrelado por Charlton Heston. A trama do filme atual foi desenvolvida para explicar como os macacos se tornaram a espécie dominante na Terra, sobrepujando os homens. A resposta só podia ser uma: revolução.

Revolução é uma palavra que não aparece em momento algum nessa nova filmagem. É curioso, no entanto, que o título do filme dá indícios de que se trata de uma revolução. O título original é um pouco ambíguo. Rise of the planet of the apes tanto pode ser “Ascensão do planeta dos macacos” (indicando a “origem” que aparece no título em português) como “O levante do planeta dos macacos”. Levante pode conotar revolução e também uma simples revolta. E simples revolta era a intensão do diretor.
Em Planeta dos macacos – A origem, César, o chimpanzé que lidera a revolta, é filho de uma macaca de laboratório que fora tratada com uma droga experimental cujo propósito era a cura do Mal de Alzheimer. A droga produziria, contudo, dois efeitos colaterais: aumentaria a inteligência, tanto de macacos como de homens, mas seria letal, a médio prazo, para os homens. No decorrer da história, César é levado pela “carrocinha” e colocado junto a outros macacos. Por ser dotado de uma inteligência excepcional, apodera-se da droga e administra-a aos outros macacos, que se revoltam.
Mas por que razão os macacos se revoltam? Para tomar o poder e acabar com a escravidão imposta a eles pelos homens? Não. Organizam uma revolta simplesmente para deixarem de ser usados como “cobaias” de laboratório e voltarem à selva para viverem felizes para sempre entre as árvores. Mas disso decorrem dois problemas.
O primeiro deles é como explicar que os macacos dominarão o planeta. A resposta é dada no próprio filme. Mas apenas depois do final, em meio às legendas de crédito. A droga usada para curar o mal de Alzheimer, processada a partir de um vírus, começa a se espalhar por meio dos aeroportos. Não sabemos, porém, se ela eliminará toda a humanidade ou tornará os homens mais burros.

O segundo problema é mais simples, para quem entende um pouco de política: Se os macacos não tomarem o poder, de nada adiantará a inteligência recém-adquirida por eles. Acabarão, inevitavelmente, voltando para os laboratórios ou levando chumbo. A única maneira de acabar com a tirania dos homens é tomando deles o poder. Isso vale não apenas para os macacos. É uma lei que muito militante político ignora, sobretudo aqueles que defendem a democracia e o sistema eleitoral como meio para se chegar ao poder. Para eles, um pouco do remédio usado na história.


Outra coisa que o filme, conscientemente, procura eliminar da trama é o obscurantismo religioso. No primeiro filme da série, O planeta dos macacos, quando os macacos descobrem que um homem é capaz de falar, atribuem esse fato a uma intervenção demoníaca. Só os macacos podem falar, pois Deus os fez à imagem e semelhança dele. No terceiro filme, Fuga do planeta dos macacos, dois macacos cientistas viajam no tempo e retornam ao mundo de hoje (1973). Nesse mundo, macacos não podem falar, pois Deus fez apenas ao homem imagem e semelhança de si. Cabe a nós questionarmos por que estes dois fatores, revolução e obscurantismo religioso, foram retirados da trama.


É preciso que não nos esqueçamos de que vivemos num mundo neoliberal, em que não há mais lugar para o comunismo, para a ditadura do proletariado e para revoluções. Tudo isso é coisa do passado, de dinossauros que deveriam aprender alguma coisa com a história. Mas com que história, se a história chegou ao fim? Em meio a toda essa lavagem cerebral, aparece mais um filme procurando apagar dos registros históricos (o filme original) o termo revolução.


Explicar a supressão do obscurantismo religioso é fácil, mas se trata de algo demoníaco. Grande parte da cultura nos Estados Unidos recebe patrocínio de entidades ligadas à Igreja. A pesquisa acadêmica, as pesquisas científicas, obras literárias, filmes, etc., ou recebem verba do governo (o que seria uma heresia para um país neoliberal) ou de instituições de fomento. Ocorre que essas instituições estão bastante atrelas às igrejas, quando não são instituídas por elas mesmas.


Se um filme pretende receber patrocínio, tem de eliminar certas ideias de seu roteiro. A ideologia do roteirista passa a ser a ideologia dos patrocinadores. O que será apresentado ao público é algo a que o público já está acostumado. Não terá de pensar, não terá de desenvolver ideias próprias e, acima de tudo, não terá nada para contestar. Para a indústria cinematográfica, o público tem de se comportar como macaco de auditório.


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Freddie Mercury faria 65 anos esta semana

Esta semana, se estivesse vivo, o cantor completaria 65º aniversário no mesmo ano que marca também os 20 anos de sua morte e os 40 anos da formação de sua banda

9 de setembro de 2011


À frente do Queen, Freddie Mercury é lembrado como uma das vozes mais dotadas do rock’n’roll e também uma das mais conhecidas mundialmente. Não apenas ele era um cantor excepcional e também um dos maiores performers do classic rock, como sua banda contava com um conjunto de excelentes instrumentistas, compositores e arranjadores.

O Queen nasceu em uma etapa de explosão do rock’n’roll como um dos grandes fenômenos da música popular em todo o mundo, quando os shows das grandes bandas deixavam de acontecer em pequenas casas especializadas e ganhavam os grandes estádios esportivos, arrastando dezenas de milhares de pessoas aos shows. O grupo cresceu e se tornou notório principalmente como uma banda de palco, de apresentações ao vivo, em shows espetaculares, teatrais, com fogos, luzes, em produções grandiosas e milionárias. Parte importante dos efeitos destas apresentações era mérito de Freddie Mercury, um artista com grande força e carisma no palco.

O Queen não se restringia também a uma banda performática. Foram deles alguns dos maiores clássicos do rock destas duas décadas. Músicas como Bohemian Rapsody, Under pressure, We will rock you, The show must go on, A kind of magic, Killer queen, I want to break free e Who wants to live forever, entre tantas outras, estão entre as músicas mais tocadas nas radios ainda hoje.

Mas nem tudo é elogiável na carreira de Mercury e seu grupo. Como muitas das bandas do rock inglês, o Queen era entusiasta do governo imperialista britânico, uma banda nacionalista e defensora, em alguns casos, de valores de direita em suas músicas. O nome do grupo é de fato uma referência à rainha no que havia, segundo eles, de “glamuroso” nesta referência. O grupo chegou até mesmo a montar um arranjo próprio para o tema: “God save our gracious queen!/ Long live our noble queen!/ God save the queen!...” (“Deus salve nossa graciosa rainha/ Longa vida à nossa nobre rainha/ Deus salve a rainha!”); que era frequentemente tocada nos shows ao vivo. Ou seja, uma “sátira” que era praticamente uma celebração do poder real britânico.

Eram muito comuns as apresentações em que Mercury aparecia enrolado na bandeira britânica ou entrava no palco trajando um manto e uma coroa real, outra declaração de apoio, à sua maneira, à monarquia como um valor positivo. Eram atitudes que, na melhor das hipóteses, revelavam apenas uma posição despolizada do grupo, como nas ocasiões em que Mercury entrou no palco fazendo a saudação nazista com o braço. Muitos julgavam tais gestos, atos provocadores, irreverentes.

Músicas como um de seus maiores sucessos, We are the Champions, é um agradecimento do grupo à sua “fama”, e mistura uma exaltação do sucesso comercial com a mais atroz ilusão no “status” e no “prestígio” do artista promovidos pela burguesia. Sem falar na colocação tipicamente direitista contida nos versos “No time for losers/ 'Cause we are the champions of the world” (“Não há tempo para perdedores/ Porque nós somos os campeões do mundo”).

O Queen foi uma banda de um período de crise política e social. Muitas de suas letras retratam esta crise, ainda que de uma maneira não muito clara, que era uma das características de suas composições. Músicas como Hammer to Fall, Great King Rat ou Under pressure – gravada em parceria com David Bowie –, descrevem a desilusão geral, o pessimismo e o medo de uma pequena-burguesia pressionada por aqueles anos de grande instabilidade. O grupo nunca foi uma banda de crítica social e nem passava perto disso. Suas raras letras críticas são incrivelmente fracas, moralistas, místicas.

Um dos poucos fatos políticos que o Queen se propôs a condenar em suas composições foi a guerra. Nestas músicas vinha à tona também uma fortíssima mentalidade religiosa que tornavam banais tais canções, como pode ser visto em Warboys (A Prayer For Peace) ou The Miracle, que mal poderiam ser chamadas de críticas. Eram apelos pacifistas desprovidos de conteúdo político real, quase uma lamentação, uma prece pela paz mundial. Mais bem sucedida, e que constitui quase uma exceção em sua obra é a menos conhecida canção White Man, de 1976, onde o grupo lança uma crítica direta ao colonialismo europeu.

Grupo de altíssima qualidade musical no que diz respeito às suas técnicas e vinculado ao virtuoso rock progressivo em seus primeiros anos, seu sucesso foi conveniente para o governo britânico em uma época de protestos e contestação do regime político. Um grupo de talentosos artistas sem qualquer visão crítica da política, ou que pelo menos evitavam ao máximo expressá-la em seus trabalhos.

A banda nasceu em 1968, no momento de maior crise política do imperialismo em todas as partes do mundo. Ao longo de sua carreira de duas décadas até a morte de Freddie Mercury, ela foi uma das bandas a cumprir o papel nada louvável de desassociar o rock de suas posições políticas e críticas, em direção àquele rock “puro”, espetacular, de entretenimento, que primava pelo virtuosismo técnico de seus integrantes e por um radicalismo superficial ou aparente.

Com o passar das décadas, e após a morte de Mercury, as tendências francamente reacionárias do grupo emergiram claramente à superfície com institucionalização da banda pela monarquia. Em 2002, Brian May, o guitarrista e fundador original da banda, tocou seu arranjo pessoal para o tema God Save the Queen no topo do Palácio de Buckingham durante as celebrações do Jubileu de Ouro de Elizabeth II. Pelo feito, angariou um título honorífico em 2005, nomeado Cavaleiro da Ordem do Império Britânico.
 
Breve perfil de Freddie Mercury

Freddie Mercury era o nome artístico de Farrokh Bulsara, filho de um casal de indianos, que nasceu em 1946 na ilha de Unguja, parte do Arquipélago de Zanzibar, hoje pertencente à Tanzânia, mas então, uma colônia britânica. Ele cresceu na Índia e realizou seus estudos próximo a Bombaim. Foi ali que teve suas primeiras aulas de canto e piano. Mais velho, mudou-se com os pais novamente para sua terra natal.

Em 1963 acontece a revolução independentista em Zanzibar, que no ano seguinte transforma-se em uma grande guerra civil pela deposição do sultão e seu governo. O movimento levaria à formação da Tanzânia após as ilhas unificarem-se com o território continental da Tanganica.

Em meio à guerra civil, a família fugiu para a Inglaterra. Mercury tinha 18 anos na ocasião. Ele matriculou-se pouco depois na Ealing Art College, onde destacou-se como aluno modelo do curso de Design Gráfico e Artístico.

Foi como estudante do aristocrático Imperial College que ele conheceu Tim Staffell, membro da banda Smile, onde ele tocava como baixista; Brian May como guitarrista e Tim Staffell na bateria. Eram todos eles membros de famílias britânicas abastadas, instrumentistas com sólida formação musical e técnica.

Em 1970, Staffell abandona o grupo e Mercury é convidado a entrar como vocalista. John Deacon assume o baixo a partir daí e o grupo passa a se chamar Queen – depois de Mercury recusar a sugestão de Roger Taylor de chamar a banda de Rich Kids (Crianças Ricas). A escolha do nome é relevante e merece um parêntese.

Em seus primórdios e ao longo da maior parte da década de 1970, o Queen tinha muitas influências do glam rock. As bandas deste movimento, que teve manifestações na Inglaterra e Estados Unidos, assumia um visual agressivo para a moralidade da época. Seus integrantes vestiam-se como mulheres, usando colares, brincos, salto, maquiagem, glitter e unhas cumpridas. Era característico entre os roqueiros do glam a adoção de nomes femininos na banda, como ocorre, por exemplo com o norte-americano New York Dolls. No caso do Queen, o nome tinha uma dupla conotação, ao termo “drag queen”, e à própria rainha britânica. Segundo afirmaria Mercury, que escolheu o nome, lhe agravada a multiplicidade de imagens e significados que ele suscitava. Sua conotação de poder, força, glamour e pompa, e, ao mesmo tempo, em sua faceta homossexual, o que havia ali de escandaloso, agressivo e chocante.

Este conceito é importante para se compreender a identidade da banda em seus primeiros anos, interessada em chocar com seu visual ostensivamente gay combinado à um rock progressivo altamente sofisticado. Esta identidade aparece principalmente nos dois primeiros álbuns do grupo, Queen e Queen II, com longas músicas instrumentais recheadas de solos virtuosos.
O grupo conquista relativo sucesso desde o disco de estreia, mas ganha notoriedade nacional a partir de seu terceiro disco, Sheer Heart Attack, de 1974, que entrou naquele ano para a lista dos 10 álbuns mais vendidos na Inglaterra. Esta sucesso subido marcaria a gradual mudança de estilo do Queen, que da pretensão de horrorizar o conservadorismo da sociedade britânica, envereda por um caminho comercial mais palatável.

Êxito estrondoso conquistou a banda com sua obra-prima A Night at the Opera, de 1975, onde aparecia já a extraordinária e inclassificável Bohemian Rhapsody, que tinha ainda muito desta vertente experimental do grupo, que lhe valeu sua originalidade. Eles criaram uma espécie de “ópera-rock”.

Disco após disco o grupo reproduziria este sucesso até tornar-se uma das maiores e mais populares bandas do mundo em um momento importantíssimo de afirmação do rock’n’roll como fenômeno mundial.

Na década de 1980, Mercury adota o visual com que é normalmente lembrado, de cabelo curto e bigode. As composições do grupo sempre manteriam certo experimentalismo, incorporando também diferentes tendências do rock da época e produzindo música comercial de alta qualidade.
Mercury descobriu estar com AIDS no final da década de 1980, vindo a reconhecer o fato publicamente um dia antes de sua morte em 24 de novembro de 1991.

Uma das últimas composições de Mercury, escrita em parceria com Brian May, é também uma das músicas mais poderosas e emocionalmente carregadas do grupo, The show must go on, em que ele cantava sua despedida da vida. O single foi gravado em finais de 1990 e lançado em outubro de 1991, apenas seis semanas antes da morte do cantor. The show must go on permaneceu as 75 semanas seguintes no topo das paradas britânicas.

Em 1992, no primeiro aniversário da morte de Mercury, os demais membros da banda organizam um grande show em sua homenagem, o The Freddie Mercury Tribute Concert, que contou com a presença de alguns dos principais grupos e cantores do período, entre eles, Elton John, David Bowie, Annie Lennox, Robert Plant, Seal, Tony Iommi, Liza Minnelli, George Michael, Metallica, Guns N' Roses e Def Leppard.

Descoberto quadro desconhecido de Gustav Klimt

A obra data de 1901 e foi comprada por um casal de holandeses em uma exposição em Dusseldorf. O diretor do Museu de Belvedere ficou surpreso com a descoberta que será incluída no novo catálogo das obras completas do pintor a ser lançado ano que vem

8 de setembro de 2011 
  
No último sábado (3/9) foi descoberta na Holanda uma pintura não inventariada do mestre do modernismo austríaco, Gustav Klimt.

A autenticidade da pintura, que era atribuída por seus donos a Klimt, foi confirmada pelo diretor-adjunto do Museu de Belvedere, Alfred Weidinger, perito no assunto. O museu possui o maior acervo de obras de Klimt no mundo.

Intitulada Seeufer mit Birken (Na Beira do Lago com Bétulas, em tradução livre), a obra apresenta uma paisagens com árvores e um lago organizadas em uma composição diagonal. A tela, de 90 centímetros por 90, teria sido pintada pelo artista simbolista em 1901, e, segundo a proprietária, foi adquirida por seus avós, o casal Richard e Clara Koenig-Bunge, em uma exposição em Dusseldorf, na Alemanha, em 1902.

Enquanto investigava a autenticidade da obra, Weidinger descobriu uma referência a ela na biografia do pintor. Em 1901 Klimt escreveu uma carta à sua namorada na ocasião, Marie Zimmermann, afirmando que ele havia pintado várias paisagens recentemente, incluindo uma tela onde aparecia uma casa vermelha de campo e outra onde se via um grupo de árvores iluminadas pelo sol diante de um lago.

Weidinger teve também acesso a fotografias da Exposição da Associação de Artistas Visuais realizada entre fevereiro e março de 1902. Nestas fotos, é visível a paisagem, idêntica à tela encontrada na Holanda.

Na Beira do Lago com Bétulas
Klimt foi um dos maiores expoentes do movimento de renovação das artes vienenses na virada do século XX. Vinculado à corrente simbolista, Klimt foi um dos líderes do grupo Secessão de Viena, porta-voz das novas ideias da pintura na Áustria. Ele não foi apenas um grande pintor, mas desenvolveu um trabalho pioneiro de combinação das artes plásticas com as artes decorativas sob influência do Jugendstil, uma corrente moderna do design vienense. Klimt realizou desenhos de móveis e pintou grandes painéis decorativos.

Entre suas obras-primas estão telas como O Beijo, Judith II, Retrato de Adele Bloch-Bauer I; e painéis como Friso Beethoven e Friso Stoclet. Sua técnica era bastante original e extremamente vanguardista. Klimt combinava retratos figurativos trabalhados em suaves distorções expressivas, com fundos abstratos, normalmente construído a partir de formas geométricas. Na primeira etapa de sua fase madura, predomina o uso de folhas de ouro sobre a tela, que serviam ao seu propósito de destacar o conteúdo espiritual dos temas. São obras de grande elegância e suntuosidade. Mais ao final da vida, por volta de 1910, após inteirar-se da obra de Toulouse-Lautrec e demais movimentos modernistas que despontavam em Paris, Klimt evolui do simbolismo para uma forma particular de expressionismo. Estes trabalhos de seu período final teriam grande influência sobre a formação da faceta austríaca do movimento expressionista.

David Edwards, morre o último dos grandes do ‘Delta blues’

Na última semana, morreu aos 96 anos um dos mais importantes nomes do blues norte-americano da década de 1930, o cantor e guitarrista David Edwards, ex-discípulo de Big Joe Williams e amigo pessoal de Robert Johnson

6 de setembro de 2011

 Na última semana, a morte do cantor e guitarrista de blues norte-americano, David Edwards, passou quase despercebida na imprensa. Ele era tido como o último dos grandes representantes da geração de bluesmen da década de 1930 do delta do Mississipi.

Edwards foi um dos músicos responsáveis pela popularização do blues por todos os Estados Unidos a partir da década de 1940, pois até então, o gênero se restringia ao público do Mississipi, o berço de nascimento do blues.

Sua vida como músico itinerante começou quando tinha ainda 14 anos e partiu em viagens pelo estado ao lado de Big Joe Williams. Foi já nesta época que Edwards ganhou o apelido com que ficaria conhecido por toda a vida, Honeyboy.
David Edwards, nascido em 1915, pertenceu a uma geração de grandes bluesman, como Robert Johnson, Sonny Boy Williamson e Big Bill Broonzy.
Honeyboy era amigo pessoal de Johnson, o mais influente bluesman da década de 1930, e estava com Johnson na noite de 1937, quando ele tomou o whiskie envenenado que o matou, aos 27 anos. As circunstancias em torno de sua morte só são conhecidas por causa do relato de Edwards.

Ele tocou ao longo das décadas de 1930-40 com alguns dos principais nomes do Delta blues, como Patton Charley, Tommy Johnson, e Johnny Shines.
Ao longo de toda carreira ele compôs poucas músicas, tendo gravado menos de um disco por década, mas foi autor de clássicos do estilo como Just like Jesse James, Long Tall Woman Blues, The Blues Army ou Gamblin Man.

Em 1997 publicou uma autobiografia onde narrava sua vida errante pelo país. Em 2008 Honeyboy ganhou um Grammy pelo álbum Last of the Great Mississippi Delta Bluesmen: Live in Dallas. Dois anos mais tarde, recebeu outro Grammy pelo conjunto de sua obra.
 David Edwards, aos 96 anos, ainda estava ativo no último período de sua vida, chegando a realizar até 70 apresentações por ano. Ele morreu em sua residência em Chicago, vítima de uma insuficiência cardíaca.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Henri Rousseau e o culto modernista pelo “primitivo”

Figura destacada da Paris modernista, Rousseau despertou admiração de alguns dos principais nomes da vanguarda francesa por suas pinturas primitivistas


 
O pintor Henri Rousseau, mais conhecido entre os artistas de sua época como “Le Douanier” (O Aduaneiro), foi um dos artistas mais singulares do movimento parisiense.
Suas pinturas revelavam o caráter autodidata de sua atividade. Sem nunca ter adquirido uma formação acadêmica, suas figuras humanas, animais e paisagens eram pintados com grande simplicidade, e seus temas, em geral obscuros. O resultado final destas telas não chamava atenção pela beleza nem pela ousadia do artista, o que realmente nunca tornou Rousseau popular entre os visitantes de galerias e menos ainda entre os comerciantes de arte e dos críticos de seu tempo.

Quem “descobriu” as pinturas de Rousseau na realidade, foram os próprios artistas de Paris. Foram figuras como Picasso, Matisse, Braque, Apollinaire, Jarry, Jacob e Cocteau, que se encantaram pela ingênua fantasia presente nas obras de Henri Rousseau. Isso por uma circunstância curiosa.

Cronologicamente, Rousseau não pertence à geração dos jovens modernistas de Paris. Por sua idade, ele foi contemporâneo da geração impressionista e começou a pintar no período do chamado pós-impressionismo, quando Van Gogh, Gauguin, Seurat e outros lançavam já as bases da nova pintura. Rousseau desta forma, pintando em seu estilo singular, totalmente à margem do gosto artístico de sua época, viveu pelo menos duas décadas na mais completa obscuridade, pintando longe da vista de todos, quadros que poucos souberam apreciar. Tais obras só foram chamar a atenção de nomes importantes das vanguardas artísticas quando a pintura de Rousseau mostrou ter grande afinidade com uma tendência estética nascente naqueles primeiros anos de 1900: o primitivismo.

Enquanto que mestres da forma e da técnica, como Henry Matisse, buscavam um novo caminho para a pintura, Henri Rousseau parecia ter encontrado naturalmente o que exigiu tantos esforços de outros pintores. Ao menos foi esta a maneira como muitos artistas passaram a encarar a obra de Rousseau. Um homem cuja natural simplicidade e o desconhecimento das normas (e dos preconceitos) da pintura clássica, o haviam levado naturalmente a encontrar a “verdade” na pintura.


Segundo os modernos passaram a considerar, a pintura estabelecida, com todas as suas regras, restrições e condicionamentos, havia escondido sob inúmeros artifícios, a verdadeira função da arte e da pintura, sua “essência”. Ao longo do desenvolvimento do modernismo, obviamente que cada artista, cada grupo ou tendência iria encontrar sua própria resposta para este impasse. Uns atribuindo a crise aos temas tradicionais da pintura, outros à maneira como eles era apresentados, às cores, às formas, etc.; outros ainda à lógica formal, ao racionalismo, à tradição.



A descoberta das pinturas, esculturas e objetos de civilizações primitivas, forneceu um rico material sobre o qual estes artistas passaram a trabalhar. Esta arte primitiva era encarada como uma arte mais verdadeira, o produto de consciências sadias que tinham uma relação mais direta com o que seria, segundo os artistas europeus, a verdadeira função da arte, estes primitivos passaram a ser vistos como artistas livres de todos os vícios inerentes ao ensino da arte europeia.

Durante as últimas décadas do século XIX, o aumento do comércio do imperialismo europeu com o Oriente, bem como a colonização da África, Oceania e Indochina, abriu caminho para que uma enxurrada de esculturas, desenhos, gravuras e tapeçarias das mais exóticas vindas de todas as partes do globo passassem a figurar regularmente em exposições nos grandes museus europeus. Tais influências teriam grande impacto no desenvolvimento da pintura moderna europeia.
O japonismo influenciou impressionistas e pós-impressionistas; a vida selvagem dos aborígenes taitianos levou Gauguin a encontrar neles a fonte primordial de inspiração para sua arte. As esculturas e máscaras africanas tiveram importância capital para fauvistas e cubistas; da mesma forma, artefatos de culturas ancestrais de todo o mundo se tornariam uma fonte inesgotável de influência para os surrealistas. Cumpriam também o mesmo papel e eram encaradas da mesma forma a arte das crianças, dos loucos, de ladrões, assassinos, e todo tipo de figuras socialmente desprezadas ou marginalizadas.
Obviamente que tais interesses por tudo que estivesse fora da cultura europeia tradicional trazia à tona uma crise gigantesca desta cultura, de seus valores, e de tudo o que ela representava, da sociedade estabelecida, etc. Uma manifestação aguda de decadência das classes dominantes europeias.
Ao contrário dos jovens pintores vanguardistas, Rousseau era totalmente ignorante de tais problemas, de tais buscas. Ele era, ao contrário, um destes desajustados sociais tão apreciados pelos modernistas.

Rousseau, naturalmente “primitivo”

Autorretrato de Rousseau

Uma rápida olhada para a biografia de Rousseau esclarece um pouco como um homem europeu pôde desenvolver um trabalho tão à margem de todas as normas pictóricas vigentes.

Rousseau nasceu em uma família operária que vivia permanentemente com problemas financeiros. Seu pai chegou a ser um pequeno comerciante, mas o negócio foi cedo à falência. A família mudava regularmente de cidade em busca de novas perspectivas de vida. Henri Rousseau, assim, cresceu um jovem sem grandes perspectivas e viveu boa parte da juventude em internatos.
Aos 17 anos, Rousseau ingressou em um escritório de advocacia onde trabalhou por quatro anos até ser preso por furtar 20 francos do escritório. Ele foi condenado a 30 dias de encarceramento.
Saindo do presídio, sem perspectivas de encontrar novos trabalho, Rousseau alista-se no Exército, no 51º Regimento de Infantaria. Ele pretendia fazer carreira militar, mas foi dispensado apenas um ano mais tarde.

Seu pai morre em 1868 e ele passa a residir em Paris. Rousseau casa-se logo com Clémence Boitard, com quem viveria os 20 anos seguintes até a morte de Clémence por tuberculose. O casal tem cinco filhos neste período, dos quais apenas um sobrevive à infância.

Em 1871 ele consegue um emprego como oficial de diligência na alfândega de Paris. É mais ou menos nesta época que Henri Rousseau, já com mais de 40 anos, pega pela primeira vez em um pincel e executa suas primeiras telas, trabalho que o interessa cada vez mais. Ele expõe no Salão dos Recusados, em 1886, e mais tarde, no Salão dos Independentes, dos quais fazem parte os impressionistas. Nestes anos, poucos são capazes de apreciar suas telas, e um destes é o impressionista Camille Pissarro.

Após a morte da esposa, em 1890, ele abandona sua carreira como aduaneiro para se dedicar exclusivamente à pintura. Para se sustentar, aprende padrões florais de pintura em cerâmica, porcelana e, além das telas, passa seu tempo pintando vasos, xícaras, bules, etc.


Rousseau casa-se uma segunda vez, mas sua nova esposa morre apenas quatro anos mais tarde. Nesta altura, ele trabalhava como professor em uma oficina de pintura em miniaturas.


É por volta de 1904 que, com a popularização da arte primitiva entre os artistas mais avançados da vanguarda parisiense, as obras do “Aduaneiro” Rousseau começam a ser notadas e apreciadas. Entre seus mais notórios entusiastas estavam Gauguin, Apollinaire e Picasso, que ficam encantados com o lirismo de suas telas, carregadas de significados simbólicos ocultos.


Nesta altura, Rousseau era já conhecido como um pintor naïf, cujas qualidades das obras residiam nesta aparente ingenuidade quase infantil, tanto no que dizia respeito à técnica quanto ao tema. Transcorridas tantas décadas de lá para cá, a obra do Aduaneiro destaca-se como uma das criações mais representativas e originais deste período primitivista da pintura europeia, tendência que foi personificada como poucos por Rousseau.

A Guerra